23 de janeiro de 2025
O preço da guerra comercial que divide gigantes econômicos
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Com tensões geopolíticas em alta, empresas dos EUA aceleram planos de saída da China, enquanto tecnologia e P&D lideram a onda de realocações globais


Um número recorde de empresas norte-americanas na China está considerando transferir parte de suas operações para fora do país ou já está em processo de fazê-lo, de acordo com um novo estudo, à medida que as tensões geopolíticas aumentam com o retorno de Donald Trump à Casa Branca.

Segundo o Financial Times, a pesquisa anual da Câmara de Comércio Americana na China (AmCham China) revelou que 30% dos entrevistados estavam explorando fontes alternativas de suprimentos e realocando a fabricação para fora do país no ano passado, ou já haviam feito isso — o dobro do percentual registrado em 2020.

Michael Hart, presidente da AmCham China, afirmou que, embora a maioria das empresas norte-americanas não esteja se mudando, a tendência de realocação é inegável.

“Não vejo nenhuma razão para acreditar que o investimento bilateral aumentará nos próximos anos,” disse Hart. “As empresas estão reorientando ou fortalecendo suas cadeias de suprimentos ao fazer investimentos em outros lugares.”

“Definitivamente… eu estaria preocupado se estivesse responsável pela política de investimentos da China,” acrescentou.

Empresas dos EUA e da China estão se preparando para as consequências dos planos protecionistas de Trump.

Embora o novo presidente dos EUA tenha adiado nesta semana a implementação de suas ameaças mais sérias — que incluem uma tarifa de 60% sobre produtos chineses —, ele reiterou que Washington poderia impor uma taxa de 10% a partir de 1º de fevereiro, caso Pequim não combata as exportações de precursores para o fentanil, um opioide sintético letal.

Ele também ordenou que autoridades norte-americanas revisem o comércio com a China, incluindo cadeias de suprimentos que usam outros países para evitar tarifas.

A pesquisa da AmCham, realizada entre outubro e novembro, mostrou que 44% das empresas que consideravam a realocação citaram as tensões comerciais entre EUA e China como motivo.
Outro motivo importante foi a “gestão de riscos”, com muitas empresas buscando fortalecer suas cadeias de suprimentos após a pandemia de Covid-19. “Não vejo essa tendência diminuindo,” disse Hart.

O estudo destacou que os países em desenvolvimento na Ásia são o principal destino das empresas, com 38% delas se mudando para lá. Economias desenvolvidas, como EUA, União Europeia, Japão e Coreia do Sul, também se tornaram mais atraentes.

Por setor, grupos de tecnologia e pesquisa e desenvolvimento estão entre os mais propensos a se realocar, com 41% já transferindo operações ou considerando fazê-lo.

Tanto o governo Biden quanto o primeiro mandato de Trump buscaram restringir o acesso da China a tecnologias avançadas, como semicondutores e baterias para veículos elétricos, enquanto Pequim retaliou limitando a exportação de minerais críticos, em uma guerra tecnológica cada vez mais acirrada entre as duas maiores economias do mundo.

O número de empresas norte-americanas que não consideram a China uma prioridade alta para investimentos também cresceu, atingindo 21% no ano passado, mais que o dobro do nível de 2020.
Autoridades chinesas têm buscado melhorar o ambiente de negócios para empresas internacionais este ano, já que o investimento estrangeiro direto atingiu mínimas recordes.

O sentimento de empresas e investidores estrangeiros na China deteriorou-se nos últimos anos, após autoridades realizarem buscas em consultorias e auditorias e implementarem regulamentações vagas sobre fluxos de dados transfronteiriços.

No entanto, um terço das empresas norte-americanas pesquisadas afirmou que, apesar do aumento das tensões geopolíticas, a “qualidade” do ambiente de investimento na China melhorou, um aumento de cinco pontos percentuais em relação ao ano anterior.

“A China continua sendo um mercado muito importante,” disse Hart, acrescentando que essa é uma mensagem que a AmCham está tentando transmitir aos “pessoal em Washington”.

O acesso ao mercado, uma queixa antiga entre empresas estrangeiras na China, continua sendo um problema importante, assim como a crescente concorrência de rivais locais.

Fonte: https://www.ocafezinho.com/2025/01/23/o-preco-da-guerra-comercial-que-divide-gigantes-economicos/