Pequim reabre investigações antitruste contra Google e Nvidia e avalia ação contra a Intel, ampliando a disputa comercial com os EUA após tarifas impostas por Trump
A China retomou investigações antitruste contra o Google e a Nvidia, enquanto considera abrir uma nova investigação contra a Intel, à medida que Pequim busca instrumentos de pressão nas negociações com o presidente dos EUA, Donald Trump.
Segundo o Financial Times, a Administração Estatal de Regulação de Mercado da China (SAMR) anunciou nesta terça-feira (4) que havia aberto uma investigação sobre concorrência contra o Google. Duas pessoas familiarizadas com o assunto disseram que o foco será a dominância do sistema operacional Android do grupo norte-americano e qualquer prejuízo causado às fabricantes chinesas de smartphones, como Oppo e Xiaomi, que utilizam o software.
Os reguladores chineses, que anunciaram uma investigação antitruste semelhante contra a Nvidia em dezembro, também estão considerando lançar uma investigação formal contra a Intel, disseram duas pessoas a par da situação. No entanto, a natureza da investigação contra a fabricante de chips dos EUA ainda não está clara, disse uma das fontes, acrescentando que sua implementação oficial pode ser influenciada pelo estado das relações entre EUA e China. O presidente Xi Jinping deve conversar com Trump nos próximos dias.
As investigações tecnológicas “podem fazer parte das medidas retaliatórias” tomadas pela China em resposta às novas tarifas impostas por Trump ao país, afirmou Liu Xu, pesquisador do Instituto Nacional de Estratégia da Universidade Tsinghua.
Xu acrescentou que usar investigações antitruste como ferramenta em negociações comerciais pode não ser a melhor forma de proteger as empresas chinesas afetadas pelas tarifas dos EUA. “Isso inevitavelmente geraria controvérsia”, disse ele.
O esforço de Pequim para construir casos contra grandes empresas de tecnologia dos EUA ocorre em meio a um aumento das tensões entre as duas potências globais, com essas companhias cada vez mais presas no fogo cruzado.
A investigação contra o Google, que os reguladores começaram pela primeira vez em 2019, havia sido arquivada por anos, mas foi reaberta em dezembro, segundo duas pessoas familiarizadas com o caso. Esse movimento ocorreu pouco antes de Trump assumir a presidência dos EUA, após uma campanha eleitoral prometendo impor tarifas elevadas contra produtos chineses.
Com nova urgência para lançar a investigação, reguladores da SAMR visitaram o escritório de Pequim do Google em janeiro, antes da posse de Trump, e exigiram a entrega de informações relacionadas, disseram as fontes.
A administração Biden, em seus meses finais, também intensificou os controles de exportação de chips avançados, buscando conter o crescimento das capacidades de IA da China.
Durante esse período, a SAMR anunciou em dezembro que estava investigando alegações de que a Nvidia violou compromissos assumidos durante a aquisição da Mellanox Technologies em 2019, uma empresa israelense que fabrica equipamentos de rede de computadores.
A SAMR aprovou a aquisição em 2020 com condições para evitar práticas anticompetitivas e garantir o fornecimento à China, e logo depois começou a coletar discretamente reclamações do setor, de acordo com uma pessoa familiarizada com o assunto.
A investigação surpreendeu a Nvidia, a maior fabricante mundial de semicondutores avançados de IA.
Dias antes do anúncio da SAMR, executivos da Nvidia se reuniram com o Ministério do Comércio da China para discutir as operações da fabricante de chips, avaliada em US$ 2,9 bilhões, em seu segundo maior mercado fora dos EUA, de acordo com duas pessoas com conhecimento da reunião.
Uma dessas pessoas disse que os funcionários do Mofcom (Ministério do Comércio) aconselharam que “a Nvidia é bem-vinda para continuar expandindo seus negócios na China”. O país representa 13% de suas vendas globais nos primeiros três trimestres de 2024, de acordo com registros da empresa.
As investigações antitruste contra grandes empresas de tecnologia dos EUA podem resultar em multas vinculadas às receitas globais das empresas ou na perda de acesso a um de seus maiores mercados internacionais.
A China é o maior mercado mundial da Intel, superando até mesmo seu mercado doméstico. A fabricante de chips dos EUA registrou US$ 15,5 bilhões em vendas no país em 2024, representando 29% de sua receita global, de acordo com registros da empresa.
Embora o mecanismo de busca do Google esteja bloqueado na China, assim como a maioria dos negócios de sua controladora, a Alphabet, a empresa norte-americana lucra com anúncios de empresas chinesas no exterior. As fabricantes de smartphones chinesas também utilizam amplamente o sistema operacional Android.
A Alphabet não divulga sua receita específica da China, mas a região Ásia-Pacífico contribuiu com 17% das vendas em 2023.
O Google e a Nvidia se recusaram a comentar. A Intel não respondeu imediatamente aos pedidos de comentário. O Mofcom e a SAMR, com sede em Pequim, não responderam a perguntas enviadas por fax fora do horário de trabalho.
Fonte: https://www.ocafezinho.com/2025/02/04/pequim-reage-a-tarifas-e-investiga-big-techs-dos-eua/