
“O crime organizado se infiltrou sem a menor cerimônia no setor de combustíveis”, denuncia o empresário Ricardo Magro, em artigo publicado no Poder360. Segundo ele, a última década marcou a consolidação de uma rede de postos controlados por facções criminosas, que utilizam marcas conhecidas para lavar dinheiro e adulterar combustíveis.
As operações Carbono Oculto, Quasar e Tank, deflagradas em 28 de agosto de 2025, mobilizaram 1.400 agentes em 10 estados para desmantelar o esquema. Mas, como tantas outras, tiveram resultados limitados: oito dos 14 alvos com mandado de prisão não foram encontrados, e documentos e veículos já haviam sido escondidos.
Um setor bilionário nas mãos do crime
De acordo com o Fórum Brasileiro de Segurança Pública, o mercado de combustíveis gera R$ 61,5 bilhões por ano para facções criminosas — quatro vezes mais que o faturamento do tráfico de cocaína. Postos suspeitos já foram identificados em 22 estados, com forte presença em São Paulo e Goiás.
O PCC e o Comando Vermelho estão entre os principais grupos que controlam a rede, atuando de forma camuflada como empresários, muitas vezes com bandeiras de marcas tradicionais como Shell, Ipiranga e BR. A ausência de fiscalização eficiente e a falta de integração entre órgãos públicos facilitam a expansão desse poder paralelo.
No artigo, Magro relata as dificuldades encontradas para o eficaz combate à infiltração de grupos criminosos no setor:
“Combater a lavagem de dinheiro no setor de combustíveis é tarefa complexa, sobretudo por causa da sofisticação e da adaptabilidade das organizações, que misturam atividades ilícitas com operações empresariais legítimas, dificultando a fiscalização. Nesse contexto, contudo, um dos maiores gargalos é a falta de coordenação e compartilhamento de informações entre os entes públicos. Os Fiscos estaduais até hoje resistem em cruzar informações com a ANP “, denuncia.
Magro sob ameaça
Ricardo Magro afirma ser “voz solitária” na defesa dos revendedores independentes contra a dominação do crime. Ele cita uma recente decisão do Tribunal de Justiça de São Paulo, de 2 de setembro de 2025, que classificou como desleal a atuação do grupo Aster/Copape, apontado em suas denúncias.
Como consequência, o empresário relata sofrer represálias constantes: “Venho enfrentando atentados, incêndios em postos, escritórios vandalizados e ameaças pessoais infindáveis. Tentam inclusive me associar às próprias organizações criminosas que venho denunciando há tempos”. Ele acusa grandes bandeiras de se omitirem diante da proliferação de postos controlados por facções.
Um câncer a céu aberto
O setor vive um dilema: de um lado, contratos leoninos impostos por grandes distribuidoras; de outro, a concorrência predatória de postos controlados pelo crime. A adulteração de combustíveis e o uso de metanol se tornaram práticas recorrentes, elevando riscos ao consumidor e desestabilizando a concorrência justa.
Magro conclui que o combate ao crime no setor “será longo, como um tratamento de câncer em estágio avançado, mas nunca foi tão necessário”.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/ricardo-magro-denuncia-ameacas-e-avanco-do-crime-no-setor-de-combustiveis/