
O ritmo lento de convergência da inflação para a meta é a preocupação do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, que na semana passada elevou a Selic para 14,25%, maior patamar desde 2016, e indicou nova alta sem fechar o percentual, informa Míriam Leitão em sua coluna no jornal O GLOBO.
A trajetória vem melhorando — não à toa, o Boletim Focus desta semana registrou a segunda queda consecutiva na estimativa para o IPCA para este ano — mas muito lentamente. Em nenhum cenário, a mediana das projeções caminha para a meta da inflação, que, vale lembrar, é de 3% com teto de 4,5%. O que isso significa na prática, como sinaliza a ata divulgada nesta terça-feira, é uma trajetória mais longa de alta de juros e manutenção por mais tempo em patamar elevado, explica Roberto Padovani, economista-chefe do Banco Votorantim.
“Para além da próxima reunião, o Comitê reforça que a magnitude total do ciclo de aperto monetário será ditada pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta e dependerá da evolução da dinâmica da inflação, em especial dos componentes mais sensíveis à atividade econômica e à política monetária, das projeções de inflação, das expectativas de inflação, do hiato do produto e do balanço de riscos”, destaca um dos trechos finais da ata.
— A expectativa de inflação vem melhorando, mas em ritmo cada vez mais lento. Para acelerar esse ritmo de convergência para a meta, o BC precisará de juros mais altos e por mais tempo. A questão é que isso leva a economia para o seu PIB potencial, o que é bom no momento, mas tem como efeito a redução de investimentos, o que prejudica o crescimento futuro, o que é uma má notícia. Se houvesse uma política de ajuste fiscal por parte do governo, isso ajudaria a suavizar a política monetária — explica Paovani.
Para o economista, a ata não trouxe grandes novidades que possam movimentar o mercado nessa já agitada terça-feira, de início de julgamento no STF da tentativa de golpe de Estado. O texto deixa, no entanto, detalha o efeito das incertezas globais sobre o câmbio, que tem sido um forte fator inflacionário. Roberto Padovani, economista-chefe do BV, chama a atenção ainda para o fato de o Banco Central vir sinalizando em seus últimos comunicados o impacto da política fiscal do governo sobre os ativos locais, o que também acaba refletido no câmbio.
Diz a ata: “O balanço de riscos permanece assimétrico indicando maior probabilidade de uma inflação mais elevada do que aquela contemplada no cenário-base. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma desancoragem das expectativas de inflação por período mais prolongado; (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais positivo; e (iii) uma conjunção de políticas econômicas externa e interna que tenham impacto inflacionário maior que o esperado, por exemplo, por meio de uma taxa de câmbio persistentemente mais depreciada.”
Padovani destaca que, apesar de a inflação de alimentos e da energia estar na ordem do dia do governo, tendo sido citadas, inclusive, pelo vice-presidente Geraldo Alckmin no evento do Valor Econômico, nesta segunda-feira, esse não é o foco do Banco Central.
— O foco do Banco Central é a inflação de serviços, que está disseminada e segue em alta.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/ritmo-lento-de-convergencia-da-inflacao-para-a-meta-sinaliza-trajetoria-de-juros-elevados-por-mais-tempo-diz-ata-do-copom/