
A ministra do Planejamento e Orçamento, Simone Tebet, afirmou nesta quarta-feira (30) que o fortalecimento da aliança com o BRICS — grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, além de novos integrantes como Irã e Egito — é essencial para o futuro do país. A declaração foi feita durante o evento Logística no Brasil, organizado pelo jornal Valor Econômico em parceria com a Infra S.A e o Ministério dos Transportes, na sede da Fiesp, em São Paulo, e reportada pelo Brasil 247.
“O BRICS não é problema nessa equação; o BRICS, hoje, para o Brasil, é solução”, afirmou Tebet, ao defender a ampliação das parcerias estratégicas com países emergentes. A ministra destacou que o Brasil não pode abrir mão de relações comerciais com mercados-chave, como os asiáticos, nem de insumos indispensáveis, como os fertilizantes importados da Ucrânia.
“A nossa dependência do agro com países asiáticos é de quase 50% e 10% com os EUA”, disse, argumentando que decisões geopolíticas devem se basear em dados concretos e não em vieses ideológicos. Tebet reforçou que a integração com a América do Sul, especialmente pelo Pacífico, é caminho crucial para a competitividade brasileira. “A forma mais rápida e eficiente de chegar à Ásia é pelo Pacífico. Não podemos ficar sujeitos a intempéries como acabou de acontecer, pegando o mundo de surpresa”, alertou, em referência ao recente redesenho de rotas comerciais globais.
Resposta pragmática ao tarifaço de Trump
A ministra também comentou a decisão do presidente Donald Trump de aplicar um tarifaço de 50% sobre produtos brasileiros. Segundo Tebet, o momento exige “cautela” e “pragmatismo”. Em tom direto, ela afirmou: “Não podemos fazer biquinho nem chorar. É preciso entender o que é espuma e o que é chope nesse processo.”
Para a ministra, o Brasil precisa analisar com precisão os setores estadunidenses que serão de fato protegidos e o que poderá ser oferecido em contrapartida. “Eles são pragmáticos. Pode haver diminuição de tarifas sobre café, frutas e aquilo que interessa a eles. A partir disso, podemos desenhar políticas de contingência com responsabilidade fiscal”, pontuou.
Críticas ao cenário internacional e à Europa
Tebet também aproveitou a ocasião para refletir sobre o novo cenário geopolítico e os impactos do segundo mandato de Trump sobre a economia global. “Obviamente, o mundo não será mais o mesmo”, afirmou. E completou: “A nossa sorte é que Trump não foi reeleito e, nesse ‘gap’, muitos países se reposicionaram”, referindo-se ao período anterior à sua volta ao poder.
Segundo ela, o Brasil aproveitou esse intervalo para aprofundar rotas de integração com países vizinhos e diversificar suas relações comerciais. Nesse sentido, a ministra demonstrou ceticismo em relação ao recente acordo de investimentos firmado entre Estados Unidos e União Europeia, classificando-o como “fraco” e questionando sua viabilidade diante do atual contexto internacional.
“Será que a União Europeia vai mesmo conseguir cumprir esse acordo de investimentos com os americanos, à custa de certa proteção militar ou bélica?”, indagou. Em comparação, apontou que o Brasil mantém uma posição mais equilibrada: “Quando olhamos para o Brasil, não vemos nada disso. A balança comercial dos EUA com o Brasil é superavitária para eles.”
Solução está na integração regional e multilateral
Ao final de sua participação no evento, Simone Tebet reiterou a importância de o Brasil manter uma política externa independente e estratégica. Segundo ela, reforçar os laços com os países do BRICS e ampliar a integração com a América do Sul são caminhos fundamentais diante das incertezas que dominam o cenário internacional.
Para Tebet, o desafio do Brasil não é escolher entre blocos, mas garantir que sua atuação global esteja ancorada no interesse nacional. “Precisamos agir com estratégia e independência. É isso que vai assegurar o nosso desenvolvimento no longo prazo”, concluiu.
Fonte: https://agendadopoder.com.br/simone-tebet-defende-brics-como-solucao-estrategica-para-o-brasil-e-critica-postura-dos-eua-apos-tarifaco/