18 de julho de 2025
Tarifa de Trump ameaça colapsar exportações de frutas do Vale
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A imposição de uma nova tarifa sobre produtos brasileiros pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, pode desencadear uma crise sem precedentes na fruticultura irrigada do Vale do São Francisco, que abrange municípios da Bahia e de Pernambuco, informa Carlos Madeiro em sua coluna no portal UOL. A taxa entra em vigor no dia 1º de agosto, justamente no início do período mais estratégico para a exportação de manga da região aos EUA — a chamada “janela americana”, que se estende até novembro.

Em 2024, durante esse mesmo período, o Brasil exportou 34 mil toneladas da fruta para o mercado estadunidense. Neste ano, com a tarifa adicional, a operação logística e comercial para os Estados Unidos se torna, segundo os produtores, economicamente inviável. A expectativa é de que o impacto seja direto sobre a renda, os empregos e até a sobrevivência da cadeia produtiva local, responsável por cerca de 250 mil empregos diretos e 950 mil indiretos.

Produtores alertam Lula e temem paralisação do setor

Na tentativa de evitar o pior cenário, a Valexport — Associação dos Produtores e Exportadores de Hortigranjeiros e Derivados do Vale do São Francisco — enviou uma carta às autoridades brasileiras, incluindo o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a Embaixada dos EUA no Brasil. O documento, entregue pessoalmente durante visita de Lula a Juazeiro (BA), alerta para os “efeitos devastadores da nova tarifa sobre as exportações brasileiras de frutas”.

“A nova tarifa compromete diretamente o principal canal de escoamento da produção, ou seja, mais de 50% da manga produzida no Vale entre os meses de agosto e novembro, período da principal safra, é exportada para os EUA. Estamos a menos de três semanas do início desse ciclo, e essa tarifa inviabiliza totalmente a operação logística e comercial para esse mercado, ameaçando paralisar a atividade em toda a região”, afirma a nota da entidade.

Os Estados Unidos são atualmente o terceiro maior comprador de mangas da região, representando 14% das exportações. O Vale do São Francisco responde por mais de 90% da manga exportada pelo Brasil.

Mercados alternativos não absorvem demanda

Segundo Tassio Lustoza, diretor da Valexport, não há alternativas viáveis no curto prazo para absorver a produção destinada aos EUA. “Ele já vai estar operando no máximo no período da janela americana, e o mercado interno não absorve esse volume. Estamos falando de aproximadamente 50 mil toneladas”, explicou.

Ele afirma ainda que os países asiáticos não têm estrutura para substituir os estadunidenses. “A verdade é que o não envio da fruta para os EUA poderá gerar um colapso na atividade da nossa região”, completa.

Os compradores dos EUA já teriam sinalizado que, se a tarifa for mantida, poderão adquirir no máximo 30% do volume habitual, o que implicaria grandes perdas financeiras e operacionais para os produtores.

Exportações de manga em queda e risco para todo o setor

Dados da Valexport mostram que, em 2024, o Brasil exportou 258.305 toneladas de manga, gerando receita de US$ 350 milhões. Apesar do volume alto, o setor já vinha enfrentando desafios com instabilidades no mercado externo e variações cambiais. Em comparação, o país exportou 272.560 toneladas em 2022 e 266.098 em 2020.

O pesquisador da Embrapa, João Ricardo Lima, alerta que a crise não se restringe aos produtores voltados à exportação. “Com a irrigação e muita tecnologia, a fruticultura — que demanda muito emprego — se desenvolveu e ajudou no crescimento da região. Hoje as uvas ocupam cerca de 16 mil hectares, e manga, quase 60 mil”, explicou.

Segundo ele, a impossibilidade de exportação causaria um efeito cascata: “As exportações são importantes pois tiram um excedente de volume que, se ficam no mercado interno, derrubam os preços. Além do que, as frutas exportadas têm um padrão mais alto e, assim, os preços delas são mais altos. E é por isso que se tem o problema agora”.

Sobre o polo do Vale do São Francisco

O Vale do São Francisco é uma das áreas mais produtivas do semiárido brasileiro, com mais de 360 mil hectares irrigáveis, sendo 130 mil atualmente em uso. A fruticultura ocupa o centro da economia regional, com destaque para manga, uva, banana, coco, goiaba, melão, limão e outras frutas tropicais.

Com produção anual superior a 1 milhão de toneladas de frutas, a região é considerada uma vitrine de tecnologia agrícola no sertão. Agora, porém, o polo enfrenta seu maior desafio logístico e comercial em décadas.

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Fonte: https://agendadopoder.com.br/tarifa-de-trump-ameaca-colapsar-exportacoes-de-frutas-do-vale-do-sao-francisco-e-produtores-apelam-a-lula/