
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou nesta quinta-feira (31) que o governo federal divulgará nos próximos dias um plano de contingência para enfrentar os impactos do tarifaço anunciado pelos Estados Unidos. A sobretaxa de 50% sobre produtos brasileiros, formalizada por decreto do presidente Donald Trump na quarta-feira (30), provocou forte reação do governo brasileiro e de setores produtivos afetados.
“Parte do nosso plano previsto está previsto para ser apreciado nos próximos dias, de proteção à indústria brasileira, aos empregos no Brasil. Ao agro também, quando for o caso”, afirmou Haddad, durante entrevista a jornalistas na portaria do Ministério da Fazenda.
As medidas estão sendo finalizadas com base no texto oficial do decreto estadunidense e serão encaminhadas à Casa Civil. Entre as ações previstas, segundo o ministro, estão linhas de crédito para setores atingidos, além de medidas pontuais de apoio à indústria e à manutenção de empregos.
Haddad não descartou o uso de instrumentos semelhantes aos adotados durante a pandemia da Covid-19, como a ajuda direta na folha de pagamento dos trabalhadores e a prorrogação de tributos como Simples Nacional, FGTS e INSS patronal. Essas possibilidades, no entanto, ainda estão sob avaliação.
Impactos setoriais e críticas ao decreto
Apesar de considerar o decreto “melhor do que o esperado” por incluir uma lista de cerca de 700 produtos isentos da nova tarifa, Haddad destacou que o cenário está longe de ser positivo.
“Na nossa opinião, houve sensibilidade para algumas considerações que já havíamos feito mais de uma vez. Que isso não ia só afetar o trabalhador brasileiro, que ia afetar o consumidor americano. Algumas das nossas observações foram apreciadas e contempladas, mas estamos longe do ponto de chegada. Estamos em um ponto de partida mais favorável do que se imaginava, mas longe do ponto de chegada”, avaliou.
O levantamento da Amcham Brasil aponta que 43% das exportações brasileiras para os Estados Unidos em 2024 foram poupadas da sobretaxa. Entre os setores beneficiados com as exceções estão os de aeronáutica, energia e parte do agronegócio.
No entanto, outras áreas devem sofrer com intensidade. Setores como o de café, frutas e, principalmente, carne bovina, enfrentam agora uma tarifa adicional de 50% — o que, somado à alíquota já existente de 26,4%, compromete a competitividade no mercado estadunidense.
“Há muita injustiça nas medidas anunciadas ontem, há correções a serem feitas. Há setores que não precisariam estar sendo afetados. Nenhum a rigor, mas há casos que são dramáticos, que deveriam ser considerados imediatamente”, declarou Haddad.
Exportadores de carne pedem solução negociada
A Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes (Abiec) alertou, em nota divulgada na quarta-feira (30), que a nova tarifa compromete a viabilidade econômica das exportações de carne bovina. Os Estados Unidos importaram 229 mil toneladas do produto em 2024, e a expectativa para 2025 era de atingir 400 mil toneladas — meta agora colocada em risco.
“A entidade está em diálogo com os importadores norte-americanos e colabora com o governo federal na busca de uma solução negociada. Reforça a importância de preservar o fluxo comercial com os EUA, que enfrentam atualmente o menor ciclo pecuário dos últimos 80 anos”, afirmou a Abiec.
Brasil prepara reação diplomática e jurídica
Além das medidas de mitigação interna, o governo brasileiro pretende recorrer formalmente da decisão nos fóruns adequados, tanto nos Estados Unidos quanto em instâncias internacionais.
“Vamos levar às autoridades americanas os nossos pontos de vista, e obviamente vamos recorrer nas instâncias devidas tanto nos Estados Unidos, quanto nos organismos internacionais, dessas decisões no sentido de sensibilizar que isso não interessa não só ao Brasil, mas à América do Sul”, declarou o ministro da Fazenda.
O Brasil busca, agora, uma estratégia que una pressão diplomática e compensações econômicas, na tentativa de conter os danos a setores estratégicos e manter aberto o canal de diálogo com os Estados Unidos, mesmo diante do endurecimento do discurso na relação bilateral.
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Fonte: https://agendadopoder.com.br/tarifaco-haddad-anuncia-plano-de-contingencia-para-o-que-classifica-como-casos-dramaticos-e-diz-que-brasil-vai-recorrer-contra-trump/