23 de novembro de 2024
A celebração de Moon Safari nos 20 anos do Ageas
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Fotografia cortesia Ageas Cooljazz

O Ageas Cool Jazz faz 20 anos e, ao longo deste mês de Julho, poderemos assistir a nomes tão variados como Diana Krall, Dino d’Santiago, Morcheeba, Mariana Sena, Fat Freddy’s Drop ou Jamie Cullum, entre muitos outros. O Cool Jazz nunca foi só jazz, há blues, há soul, há R&B. Há muitas histórias para contar e por contar e, destes dias cuidadosamente delineados para nos oferecer a melhor experiência possível, podemos ter a certeza de que no cerne de tudo está a paixão pela música e tudo o que a experiência de ver, ouvir e sentir música ao vivo nos traz.

O primeiro dia da 20.ª edição do Cool Jazz começou pelas 20h00 com o quinteto de jazz Marwan, vencedor do concurso Talentos Ageas Cool Jazz by Smooth FM. Relativamente desconhecidos, os Marwan, que têm como referência o jazz moderno, foi recebendo e cativando o público que chegava ao recinto.

Fotografia cortesia Ageas Cooljazz

Abertas as hostes, foi a vez de Lana Gasparøtti abrir o palco principal. Com o seu álbum de estreia Dimensions na manga, Lana Gasparøtti entrelaça harmonias e estilos com teclados sintetizadores, samples e voz. Em entrevista ao Rimas & Batidas, Lana confessa ser fã de Air, banda que mais tarde ocuparia o mesmo palco, e essa influência nota-se na sua música. Há um intimismo electrónico que reconhecemos, que é palpável, e que não se perde em sintetizadores nem em sons metálicos.

Os Air lançaram Moon Safari em 1998. Aquando dos 20 anos do disco, Jean-Benoît Dunckel dizia ao The Guardian que a subsistência da sua família dependia em grande escala do sucesso dos Air. Por isso, dedicou-se de corpo e alma à sua música, numa altura em que os Daft Punk dominavam a música electrónica francesa. O penúltimo tema de Moon Safari “New Star in the Sky (Chanson pour Solal)” deve-se ao facto de ter estudado astrofísica e por se interessar por corpos celestes. O título do álbum deve-se a O Mundo Marciano, de Ray Bradbury, que o músico estava a ler na altura. E o sucesso de Moon Safari chegou logo após o seu lançamento, mantendo-se até hoje, 25 anos volvidos, num dos discos obrigatórios da cena electrónica.

Fotografia cortesia Ageas Cooljazz
NOS x CRUZ VERMELHA

A premissa era aparentemente simples: tocar o Moon Safari, por ordem, numa espécie de caixa retroiluminada que nos oferece um espectáculo visual que se adequa aos temas que vão sendo tocados. Não foi preciso muito para percebermos que a noite seria especial. “Sexy Boy” é o tema orelhudo que nos faz dançar, “All I Need” (mesmo sem Beth Hirsch) serve como uma epifania do que todos procurávamos ali: “a peace of mind/then I can celebrate”. Chegámos ao último tema “La Voyage de Pénélope” com a certeza de que assistimos à interpretação de uma obra prima. Voltar a Moon Safari não é só nostalgia, é verificar que a música dos Air nos acompanha indelevelmente em variadíssimos momentos das nossas vidas, como se de uma banda-sonora pessoal e etérea se tratasse.

A banda regressa depois ao palco com “Radiant” (de 10 000 Hz Legend), mergulhando de seguida no disco Talkie Walkie com o dramatismo de “Venus”, a elegia a um amor platónico de “Cherry Blossom Girl” e a repetição metálica de “Run”. “Highschool Lover”, da banda sonora de As Virgens Suicidas de Sofia Coppola embala-nos o corpo e a mente, que depois desperta numa simbiose entrópica de “Don’t be Light”, entre vocoders, sintetizadores e luzes estroboscópicas.

Fotografia cortesia Ageas Cooljazz

Quase parecia ser o final, mas os Air voltaram ao palco para “Alone in Kyoto”, tema de Talkie Walkie e que faz também parte da banda-sonora de Lost in Translation, de Sofia Coppola, onde nos sentimos, mais uma vez, imiscuídos num rodopio de sensações ladeadas por flores de cerejeira, que, de certa forma, pareciam cair em pano de fundo da caixa de luz. Terminámos com “Electronic Performers” que parece conter a explicação para a carreira dos Air – “We need to use envelope filters/To say how we feel/Riding on magnetic waves/We search new programs for your pleasure”. Os programas que os Air procuram podem conter toda a parafernália electrónica, todos os instrumentos ou vocoders, mas a sua sonoridade nunca deixa de ser de proximidade, de intimismo, de uma profunda sensibilidade. Que celebremos sempre Moon Safari.

Terminado o concerto, voltámos ao jardim para o DJ set de Pedro Dias de Almeida. Ao melómano o que é do melómano, e apesar da cacimba que se fazia sentir, foi o ponto final de um dia muito bonito.

Sobre o Ageas Cool Jazz em si, é um gosto assistir a concertos com a qualidade de som que este festival nos oferece.

O festival continua hoje com Chaka Khan e Morcheeba, no dia 19/07 será a vez de Dino d’Santiago e de MARO, no dia 24/07 Diana Krall subirá pela 5.ª vez ao palco do Cool Jazz, no dia 27/07 será a vez de Marina Sena e Luedji Luna, no dia 30 teremos Fat Freddy’s Drop e Expresso Transatlântico e despedimo-nos da 20.ª edição do Ageas Cool Jazz com Jamie Cullum e Inês Marques Lucas. Aos domingos até ao final do mês, estará também presente nos Jardins da Casa de Histórias Paula Rego.

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Fonte: https://comunidadeculturaearte.com/a-celebracao-de-moon-safari-nos-20-anos-do-ageas-cool-jazz/