27 de fevereiro de 2025
“Uma das melhores coisas da música é que não precisas
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por Lusa,    27 Fevereiro, 2025


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ENTREVISTA: Novo álbum de Panda Bear é o primeiro gravado no estúdio que criou numa Lisboa “irreconhecível”

O músico norte-americano Noah Lennox edita esta semana um novo álbum sob o nome Panda Bear, “Sinister Grift”, gravado no estúdio que montou em Lisboa, cidade onde vive há 20 anos, mas que sente estar “irreconhecível”.

Editado na sexta-feira pela Domino Records, “Sinister Grift” é a evolução de um novo capítulo na carreira do projeto, que começou com “Buoys”, álbum editado em 2019.

“Parecem o inverso um do outro, mas ao mesmo tempo estão muito ligados, embora à superfície não pareça que estejam”, referiu Noah Lennox, em entrevista à Lusa.

Além do óbvio facto de serem “dois discos de guitarras”, “Sinister Grift” é “a fotografia” e “Buoys” “o negativo”.

“O processo [de gravação e produção] no ‘Buoys’ foi para ‘escurecer’, tornar mais abstrato. Neste, todo o processo foi para destacar os elementos naturais da música”, disse.

Na produção do novo álbum, Noah Lennox contou com a ajuda de Josh Dibb, um dos seus parceiros nos Animal Collective.

“O facto de [‘Sinister Grift’] ser tão dirigido para as letras e para as melodias é muito reflexo da sensibilidade do Josh. Essa perspetiva na música é o resultado direto do toque do Josh”, referiu o músico.
Ao ouvir o álbum, Noah Lennox identifica nas canções o chamado ‘rock clássico’, de bandas como Badfinger, Thin Lizzy ou The Guess Who, grupos que ouvia no liceu e de cujas canções tem “muitas memórias viscerais”.

“Também ouço muito no disco música country, como Hank Williams, e reggae do final dos anos 1960, início de 1970, mais nos arranjos”, partilhou.

Noah Lennox recordou que Josh Dibb foi a primeira pessoa com quem iniciou “o caminho de fazer e gravar música”, e, por isso tinha de fazer parte da gravação do “primeiro grande projeto no Estúdio Campo”, um “estúdio modesto” construído recentemente pelo músico em Lisboa.

“Era um sonho que tinha há muito, ter o meu espaço. É um sonho tornado realidade”, disse Noah Lennox sobre o Estúdio Campo, que gostava de abrir a outros músicos e ali “trabalhar projetos de outros”, mas “logo se vê o que o futuro reserva”.

O espírito colaborativo que imagina para o Estúdio Campo já está em “Sinister Grift”: “Senti que maior o número de pessoas envolvidas, melhor seria”.

Uma dessas colaborações é a da portuguesa Maria Reis, que não é apenas a música portuguesa preferida de Noah Lennox, mas uma das suas artistas favoritas “seja onde for”.

“Tenho o maior respeito por ela e adoro a sua música”, afirmou sobre a cantora e guitarrista que acompanha o músico na digressão norte-americana, tanto como parte de Panda Bear como a assegurar a primeira parte de alguns concertos.

Com isto, Noah Lennox espera que Maria Reis consiga “a atenção de uma audiência maior, porque merece”.

O facto de Maria Reis cantar em português não deverá ser um problema: “Uma das melhores coisas da música é que não precisas das letras para te ligares a ela ou sentires algo. Por isso acho que não importa muito que ela cante em português. E eu aprecio muito que o faça”.

Também a filha de Noah Lennox, Nadja, participa num dos temas, “Anywhere but here”, lendo versos em português.

Convencê-la a participar num álbum do pai, de quem “não é muito fã” enquanto músico, não foi difícil. “Paguei-lhe e foi muito recetiva a isso”, contou.

“Os meus dois filhos, acho que porque eu e a mãe estamos em áreas criativas, como uma maneira de se distinguirem de nós, rejeitam tudo o que representamos, como qualquer adolescente. Ela gosta de música, mas tudo o que for na minha ‘zona’ quer manter distância”, contou.

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Embora não seja fã do músico, Nadja Lennox “levou o trabalho muito a sério”. “Acho que pôs muito dela e pensou muito nisso. Fiquei muito feliz com o resultado, perguntei-lhe se queria ouvir e disse que não. Acho que não vai ouvir, a menos que eu lhe pague mais”, partilhou.

Ao vivo, Noah Lennox apresenta-se pela primeira vez com uma banda e sente-se “com muita sorte”, porque todos os que o acompanham são “‘all-stars’ da música”.

“Tocar sozinho é meio solitário. Tocar com a banda parece-me mais vivo, é quase como um organismo no palco, em que todos reagimos uns aos outros, é mais flexível. Divirto-me muito mais a fazer assim”, disse.
Panda Bear está atualmente em digressão nos Estados Unidos, sendo várias datas partilhadas com Toro y Moi. Mas a primeira parte deste ano, inclui também espetáculos na Europa, incluindo Portugal.

Em 20 de março, Panda Bear apresenta-se em Lisboa, no Capitólio, em 21 de março em Braga, no Theatro Circo, e em 28 de março em Faro, no Teatro das Figuras.

Radicado em Portugal há vinte anos, onde os filhos nasceram, Noah Lennox continua a gostar muito de viver em Lisboa, “apesar das mudanças”.

“Parece que o lugar para onde me mudei já não existe, mas ainda há um espírito, uma chama que arde aqui que acho que nunca se conseguirá apagar. Ainda é o meu sítio favorito do mundo, embora me pareça quase irreconhecível em comparação com o local para onde me mudei”, disse.

Para o músico, Lisboa está “num caminho de crescimento para ficar como Londres, Paris Nova Iorque, cidades globais, onde parece que o mundo todo está representado”. Apesar disso, ainda consegue encontrar a mesma Lisboa de há 20 anos. “Tens de saber onde procurar, tens de saber onde encontrá-la. Costumava estar em cada esquina, e agora tenho de procurá-la, mas ainda está lá. Não posso dizer às pessoas para onde podem ir ou não, mas mentiria se dissesse que não tenho saudades”, referiu.

Voltar aos Estados Unidos era algo que há seis ou sete anos o músico não equacionaria, hoje já pensa nisso.

O que o faz querer voltar não são apenas as mudanças na cidade, mas mudanças nele também.
“Estou velho, a minha mãe está a chegar ao fim da vida. Passar tempo com ela é apelativo. Tenho saudades dos meus amigos”, partilhou o músico que daqui a quatro anos completa tantos de vida em Lisboa como nos Estados Unidos.

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Fonte: https://comunidadeculturaearte.com/entrevista-panda-bear-uma-das-melhores-coisas-da-musica-e-que-nao-precisas-das-letras-para-te-ligares-a-ela-ou-sentires-algo/