Crescendo num ambiente criativo, Gracie é a nova voz de uma geração

Foto: Gracie Abrams / DR

Nos últimos quatro anos, Gracie Abrams ascendeu ao panteão do indie-pop, conquistando público e críticos. Nascida a 7 de Setembro de 1999, em Los Angeles, Gracie é filha de J.J. Abrams, realizador da aclamada série Lost e de vários filmes da saga Star Wars, e de Katie McGrath, antiga directora de comunicações da MTV e actual membro do Comité sobre Artes e Humanidades da Casa Branca desde 2023.

Crescendo num ambiente onde a criatividade impera, Gracie foi exposta desde cedo ao mundo das artes. A sua infância teve como banda sonora as canções de Joni Mitchell, frequentemente ouvidas pela sua mãe, o que lhe fez despertar a paixão pela música. Foi através destas experiências que Gracie percebeu que “a música poderia ser um escape incrível”, motivando-a a criar e a encontrar a sua própria voz artística.

Apesar do seu background privilegiado, Gracie tem enfrentado o rótulo de nepo-baby com determinação e talento. O seu percurso musical começou na adolescência, quando partilhava vídeos das suas composições nas redes sociais. Aos 20 anos, deu o salto para o mundo profissional com o lançamento de “Mean It”, sob a chancela da Interscope Records.

O ano de 2020 marcou um ponto de viragem na carreira de Gracie. Com o mundo em suspenso devido à pandemia de COVID-19, lançou “I Miss You, I’m Sorry”, acompanhado por um texto no Instagram onde expressava como a música a ajudava a acalmar-se em momentos de ansiedade, medo ou paixão. Este lançamento demonstrou que a voz de Gracie ia além da música, abordando temas como a importância do autocuidado, a denúncia da violência doméstica e o apoio às vítimas.

As notas que se seguem são marcadas pelo primeiro EP de Gracie, “Minor”, lançado ainda em 2020, onde expôs as suas vulnerabilidades e dores de coração partido, assinalando o nascimento de uma nova estrela. Impossibilitada de actuar ao vivo devido às restrições pandémicas, Gracie continuou a lançar música, incluindo “Unlearn” em colaboração com Benny Blanco em 2021, demonstrando a sua versatilidade e vontade de explorar novos territórios sonoros.

O segundo EP, “This Is What It Feels Like”, lançado meses depois, marcou uma evolução significativa no som de Gracie. A faixa “Rockland”, produzida por Aaron Dessner dos The National, destacou-se pela sua produção elaborada e letras introspectivas. Esta colaboração com Dessner viria a ser fundamental para o desenvolvimento artístico de Gracie.

Com as salas de espectáculos abertas e o público sedento de concertos a três dimensões, Gracie embarcou numa digressão de 35 concertos, iniciada em Salt Lake City e concluída em Estocolmo. Paralelamente, foi responsável pela primeira parte na “Sour Tour” de Olivia Rodrigo, onde apresentou “Difficult”, tema que viria a integrar o seu álbum de estreia “Good Riddance”.

Lançado em Fevereiro de 2023, “Good Riddance” representou um salto qualitativo na carreira de Gracie. Produzido por Aaron Dessner, o álbum explorou temas de autodescoberta e de relações complexas. Faixas como “I know it won’t work” e “Where do we go now?” foram particularmente elogiadas pela crítica pela sua profundidade emocional e arranjos sofisticados. Martyn Young, da revista Dork, classificou-o como “uma estreia que ilustra na perfeição a qualidade transcendente de composições muito especiais“, o que terá contribuído para a nomeação de Gracie para o Grammy de Melhor Artista Revelação.

A participação de Gracie na “Eras Tour” de Taylor Swift foi outro marco importante na sua carreira. Além de aumentar significativamente a sua visibilidade, Gracie confessa que esta esta experiência a ajudou a superar o pânico de palco. A relação com Swift evoluiu para uma amizade e mentoria, culminando numa colaboração no segundo álbum de estúdio de Gracie, “The Secret of Us”, lançado a 21 de Junho de 2024. Produzido mais uma vez por Aaron Dessner, conta também com a colaboração de Jack Antonoff.

“The Secret of Us” estreou na segunda posição da Billboard 200, marcando um novo patamar na carreira de Gracie. O álbum inclui a canção “us.”, uma colaboração com Taylor Swift, cujo início foi “imortalizado” por um vídeo no Instagram onde Swift usou um extintor para apagar um pequeno incêndio na sua cozinha. Esta parceria não só aumentou a visibilidade de Gracie, mas também proporcionou, segundo ela, uma oportunidade de aprendizagem inestimável, tendo classificado a colaboração com Taylor Swift como “uma aula magistral em composição”. A canção “us.” foi tocada ao vivo, pela primeira vez, em Wembley, num dos concertos da Eras Tour, com Taylor Swift a tecer rasgados elogios a Gracie.

O reconhecimento do público não se fez esperar. Apesar da sua carreira relativamente curta, parece ser consensual que Gracie deixou já uma marca significativa na cena musical indie e pop. A sua capacidade de se aproximar com uma geração de ouvintes através de letras honestas e melodias cativantes distingue-a como uma voz importante da sua geração. O single “Close To You”, do álbum “The Secret of Us”, garantiu a Gracie a sua primeira entrada na Billboard Hot 100, alcançando a 49.ª posição. Outro destaque vai para “Risk”, que atingiu a impressionante marca de um milhão de streams no Spotify em menos de 10 horas após o lançamento.

O impacto de Gracie Abrams na cena musical vai além dos números nas tabelas. Elogiada por críticos e colegas artistas pela sua autenticidade e habilidade em capturar as nuances das experiências emocionais dos jovens adultos, Gracie emergiu como uma das vozes mais promissoras e autênticas da sua geração, não só na música, mas também na sociedade.

Em entrevista, Gracie declara não poder separar a sua música das suas opiniões. “É um todo que reflecte a minha forma de pensar. Não deveremos ter medo de falar sobre o que acreditamos”, revela ao L’Officiel. Por ser parte indelével da sua personalidade, Gracie tem usado a sua plataforma para abordar questões sociais importantes. Além de falar abertamente sobre saúde mental e bem-estar emocional, tem sido uma voz activa em questões como direitos LGBTQI+, direitos reprodutivos, contra a guerra na Palestina, contra a discriminação e na sensibilização para as alterações climáticas. Em 2023, participou em vários eventos de beneficência e usou as suas redes sociais para promover organizações sem fins lucrativos focadas na saúde mental juvenil. O seu compromisso com estas causas tem ressoado fortemente com os seus fãs, muitos dos quais vêem Gracie não apenas como uma artista, mas como uma voz da sua geração.

Com o sucesso de “The Secret of Us” e uma digressão mundial planeada, que incluirá uma passagem por Portugal a 11 de Fevereiro de 2025, o futuro de Gracie Abrams parece promissor. A sua ascensão meteórica no mundo da música é um testemunho não apenas do seu talento inato, mas também da sua dedicação ao ofício e da sua capacidade de estabelecer uma ligação genuína com o público.

Desde as suas primeiras publicações nas redes sociais até se tornar uma artista aclamada pela crítica e adorada pelos fãs, Gracie Abrams conseguiu contrariar as expectativas de quem a rotulava apenas como uma “nepo-baby”. Estabeleceu-se como uma das artistas mais promissoras da actualidade, figurando nas listas de observação dos amantes da música e críticos mais exigentes. O estilo musical de Gracie, que funde indie-pop com elementos de folk e música electrónica, continua a evoluir. As suas letras, frequentemente descritas como diarísticas, exploram temas de amor, perda, crescimento pessoal e as complexidades das relações interpessoais. A sua voz, suave e expressiva, serve como o veículo perfeito para transmitir a profundidade emocional das suas composições.

Olhando para o futuro, Gracie Abrams parece destinada a deixar uma marca duradoura na indústria musical. A sua habilidade para criar música que é simultaneamente pessoal e universalmente ressonante, combinada com as suas colaborações e experimentações, sugere-nos um futuro brilhante e cá estaremos para a ver e ouvir.