11 de janeiro de 2025
Hot Clube aguarda financiamento prometido pela Câmara Municipal de Lisboa
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por Lusa,    11 Janeiro, 2025


Fotografia de Dolo Iglesias / Unsplash

O Hot Clube de Portugal, em Lisboa, aguarda um apoio da Câmara Municipal para iniciar as obras que permitirão reabrir ao público o espaço na Praça da Alegria encerrado há dois anos devido a problemas estruturais no edifício.

O Hot Clube de Portugal (HCP) funcionou na Praça da Alegria desde a sua fundação, primeiro no n.º 39, edifício que ardeu em 2009, tendo depois passado para o n.º 48, na mesma rua.

Em 11 de janeiro de 2023 ficou interditado, por ordem camarária, justificada por “questões estruturais” do edifício.

Nessa altura, a Câmara Municipal de Lisboa (CML) comprometeu-se a encontrar uma morada provisória para a instalação do ‘Hot’, mas tal acabou por não acontecer. Em vez disso, propôs a cedência, por um prazo inicial de 50 anos, do direito de superfície do edifício ao HCP.

“Essa foi a boa notícia do ano passado. Confirmou-se, fizemos a escritura”, disse à Lusa o presidente do HCP, Pedro Moreira.

Em contrapartida, o Hot Clube tem de pagar cerca de sete mil euros por ano, assim como reabilitar e recuperar o imóvel, de modo a que possa reabrir.

De acordo com Pedro Moreira, “desde essa altura foi assumido o compromisso de haver um apoio da Câmara para avançar com as obras”, algo que é “absolutamente fundamental” para o HCP.
“Esse é que ainda não se concretizou, e estamos à espera que este ano traga boas notícias nesse sentido. Não conseguimos ainda avançar para obras por faltar esse apoio”, disse.

Em resposta escrita a questões da Lusa, fonte oficial da CML admitiu que o município “assumiu, de facto, o compromisso de apoiar financeiramente o Hot Clube nas obras relativas à primeira fase, com uma comparticipação financeira para as obras estruturais que terão de ser realizadas”.

O valor a ser atribuído está ainda “em avaliação”, visto que, segundo a autarquia, o HCP, “desde a data de celebração da escritura até ao final do ano, alterou, por diversas vezes e sempre para um montante superior, o pedido de apoio municipal, tendo, na última missiva recebida a 10 de dezembro de 2024, solicitado um montante de 390 mil euros acrescido de IVA, o qual representa mais do dobro daquele que era o montante inicial”.

“O Município honrará o compromisso de contribuir financeiramente para as obras de reabilitação do edifício, logo que se conclua a avaliação do novo montante solicitado e seja informado das outras fontes de financiamento que a entidade se propõe obter para suportar o custo total da obra”, garante.

A CML recorda que, “de acordo com a escritura pública celebrada, é ao HCP que cabe a realização de todas as obras e trabalhos preparatórios necessários à reabilitação e adaptação do imóvel, bem como licenciar, junto dos serviços municipais do urbanismo, os projetos das obras estruturais que o edifício tanto necessita”.

As obras no edifício serão feitas em duas fases. Na primeira, será feita uma intervenção na cobertura e o reforço da estrutura, para que o clube, que funcionava no rés-do-chão, possa reabrir.
Pedro Moreira prevê que a primeira fase implique oito a dez meses de obras.

Com clube em funcionamento, será feito “o plano para recuperação e renovação dos pisos superiores”, passando-se depois à segunda fase de obras, que permitirá “ali instalar o espólio e o arquivo de Luiz Villas-Boas, e aquilo que será o Museu do Jazz”.

“O tempo passa muito depressa e preocupa-nos este desfecho, porque traz um prejuízo gigantesco para o clube estar fechado”, disse Pedro Moreira.

Desde janeiro de 2023, o HCP teve uma quebra de receitas entre os 230 mil e os 240 mil euros, “num clube que vive de receitas próprias”. “É extremamente complicado”, disse. A maior parte da receita, explicou, vai diretamente para os músicos, que há dois anos perderam “um sítio importante para se apresentarem”.

“Como as obras vão demorar sempre alguns meses estamos preocupados, porque o tempo passa muito depressa e de repente passa-se mais um ano de portas fechadas e para o clube isso é extremamente difícil. Há um momento em que se torna simplesmente insustentável manter a atividade do clube”, alertou.

Pedro Moreira fala também no encerramento do clube como “uma perda para a cidade”, porque são ali organizados “cerca de 250 concertos por ano, que envolvem mil músicos, com 15 espectadores em média por ano”.

“É uma comunidade muito grande de pessoas a quem faz falta o funcionamento normal do clube”.
Apesar de estar há dois anos encerrado na Praça da Alegria, o HCP tem conseguido “manter atividade intensa, mas sempre em parceria”.

“Temos feito muitos ciclos fora de portas, a escola tem atividade imparável. Temos um projeto de circulação pelo país da Orquestra do HCP”, recordou Pedro Moreira à Lusa. No entanto, manter as atividades implica “um esforço enorme adicional”.

“Por um lado é bom, porque nos interessa ir ao encontro da cidade e da comunidade. Mas também não é uma solução permanente, porque nos traz um peso muito grande, tanto de operacionalidade, de produção, é um esforço muito acrescido, e de encargos acrescidos também”, referiu.

Aquele que é o mais antigo clube europeu de jazz em atividade foi fundado oficialmente em 19 de março de 1948, quando Luiz Villas-Boas, melómano e seu fundador, preencheu a ficha de sócio número um – ficha que se mantém no património da instituição.

A par do clube e da Escola de Jazz Luiz Villas-Boas, a funcionar no edifício da Metropolitana, também em Lisboa, parte do trabalho do ‘Hot’ passa ainda pelo núcleo museológico, assente sobretudo no espólio deixado pelo fundador, que morreu em 1999.

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Fonte: https://comunidadeculturaearte.com/hot-clube-aguarda-financiamento-prometido-pela-camara-municipal-de-lisboa-para-fazer-obras-que-permitam-reabertura/