26 de agosto de 2025
73% dos jovens vítimas de mortes violentas no país são
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Três em cada quatro mortes de jovens por violência ou acidentes no Brasil, em 2022 e 2023, foram de pessoas negras – Foto: Bruno Santos

Nesta segunda-feira (25) foi divulgado o 1º Informe epidemiológico sobre a situação de saúde da juventude brasileira: violências e acidentes, sendo essa uma pesquisa da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), onde afirma que jovens negros representam 73% dos óbitos por causas externas no Brasil.

Na pesquisa é apontado que as mortes por causas externas são aquelas que não estão relacionadas a doenças naturais ou processos internos do organismo, mas sim a fatores externos, como violências, acidentes e confrontos armados, entre outras.

O estudo apontou ainda que os homens jovens são os que mais morrem, mas as mulheres jovens são as principais vítimas de agressões no Brasil. Além disso, jovens com deficiência (PCDs) representam um quinto das notificações de violências no Sistema Único de Saúde (SUS).

O levantamento usou as bases de dados do SUS e do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) de 2022 e 2023. Segundo o levantamento, a taxa de mortalidade de jovens negros é de 227,5 por 100 mil habitantes – número 22% superior à média dos jovens em geral (185,5/100 mil) e quase o dobro da taxa de jovens brancos (118,1/100 mil) e amarelos (113,1/100 mil).

Na faixa de 15 a 19 anos, a desigualdade é ainda maior: jovens negros registram 161,8 mortes por causas externas para cada 100 mil habitantes, praticamente o dobro da taxa de jovens brancos (78,3/100 mil) e amarelos (80,8/100 mil). Entre indígenas, 160,7/100 mil.

No total, 65% das mortes de jovens de 15 a 29 anos foram resultado de causas externas (violência ou acidentes). Na população em geral, essa proporção é de apenas 10%.

Outro destaque é a disparidade entre gêneros: homens jovens morrem 8 vezes mais do que mulheres jovens em situações de violência. A faixa mais vulnerável são os de 20 a 24 anos, com taxa de 390 óbitos por 100 mil habitantes. Mais da metade dessas mortes ocorreu nas ruas (57,6%). Entre as mulheres jovens, o local mais frequente foi a própria casa (34,5%).

Nos acidentes de transporte, os homens também são maioria: representam 84% das vítimas, e mais da metade (54%) dos óbitos envolveram motocicletas. Já as mortes por intervenção policial têm peso maior na juventude: 3% dos óbitos de jovens resultam de ações da polícia, contra 1% na população em geral.

O coordenador da Agenda Jovem Fiocruz, André Sobrinho, afirmou que é preciso confrontar a forma pela qual a sociedade naturaliza a violência contra a juventude, em especial negra e periférica:

“A idade, a raça e o território precisam ser considerados em qualquer estratégia de enfrentamento da violência e isso diz respeito ao Estado como executor de políticas públicas, mas também as diferentes instituições sociais”, disse Sobrinho em entrevista ao portal G1.

Sobrinho acrescenta que há uma naturalização da violência contra a juventude o que também é reflexo da forma como a sociedade enxerga os jovens.

“É uma faixa etária cujas expectativas sociais depositadas falam de vigor, vitalidade, de ser produtivo. Mas, na realidade, vemos os jovens desafiados em trabalhos precários, conciliando jornadas extenuantes, com impactos na sua saúde física e mental. Os jovens PCDs, a depender do tipo de deficiência, sofrem ainda mais, estando mais vulneráveis às situações de violência”, declara.

O levantamento é o primeiro de um ciclo de informes epidemiológicos sobre a situação de saúde das juventudes que pesquisadores da Agenda Jovem Fiocruz (AJF) e da Escola Politécnica de Saúde Joaquim Venâncio (EPSJV/Fiocruz) planejam lançar em 2025.

Fonte: https://horadopovo.com.br/73-dos-jovens-vitimas-de-mortes-violentas-no-pais-sao-negros-aponta-fiocruz/