2 de agosto de 2025
Atos em defesa da soberania reúnem movimentos sociais contra interferência
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Manifestantes se concentraram em frente ao Consulado dos EUA em São Paulo – Foto: Comunicação/JPL

Manifestantes ligados aos movimentos sociais, estudantis, trabalhistas e partidos políticos, participaram na manhã desta sexta-feira (1º) de diversos atos em defesa da soberania brasileira, após as tentativas de interferência dos Estados Unidos sobre o país.

Em São Paulo, o ato da capital paulista em frente ao Consulado Geral dos Estados Unidos da América em São Paulo, no bairro de Santo Amaro, na zona sul da capital, pedia soberania nacional. Manifestantes usavam algemas e máscaras do ex-presidente brasileiro Jair Bolsonaro e do presidente dos EUA, Donald Trump. Bonecos com as máscaras de Trump e Bolsonaro foram queimados. Outros estavam vestidos com roupas listradas, semelhantes a uniformes de presidiários, em alusão ao julgamento de Bolsonaro no Supremo Tribunal Federal (STF).

“Hoje é o dia em que nós retomamos o verde amarelo”, falou Bianca Borges, presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE) aos que estavam no ato. Boa parte dos manifestantes vestia roupas com cores associadas à bandeira brasileira.

As críticas se estenderam à recente aplicação de sanções contra o ministro Alexandre de Moraes com base na Lei Magnitsky. Por meio dessa decisão, o governo Trump determina o congelamento de qualquer bem ou ativo que Moraes tenha nos Estados Unidos, e também pode proibir entidades financeiras americanas de fazerem operações em dólares com uma pessoa sancionada. 

“Os verdadeiros patriotas estão aqui, onde sempre estiveram: defendendo a democracia e lutando contra o fascismo. Este é o momento de lutar em defesa do nosso povo, da nossa soberania e das nossas riquezas”, destacou a presidente da União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES), Valentina Macedo.

Segundo a dirigente estudantil, “as chantagens feitas pelo presidente dos EUA em conluio com os golpistas da família Bolsonaro escancaram que os interesses destes falsos patriotas sempre foram eles mesmos”. “Para eles vale a pena entregar nosso país para os estrangeiros”, ressaltou.

“Em resposta à chantagem de Trump, o Brasil responde com justiça, com a prisão de Bolsonaro e de todos os golpistas. O povo responderá aos ataques políticos e econômicos que estamos sofrendo nas ruas, erguendo e batendo continência para a bandeira do Brasil”, conclamou Valentina.

A presidente da UMES, Valentina Macedo (microfone), e a a presidente da UNE, Bianca Borges – Foto: Comunicação/UMES

“A bandeira do Brasil é do povo brasileiro, e não de uma elite extremamente fascista, atrasada, que não tem nenhuma preocupação com o povo”, disse Antônio Saboia, diretor do Sindicato dos Bancários. “Aquele que tenha algum sentimento de amor pelo país não pode virar as costas para o povo brasileiro. É hora de unir forças e pensar que a grande pauta é a defesa do Brasil e da sua soberania”, acrescenta.

Foto: Comunicação/UMES

O vice-presidente da CTB, Ubiraci Dantas, o Bira, ressaltou o caráter antinacional da política de Trump e convocou os brasileiros à resistência:

“A CTB, a CUT, a CSB, a Força, a UGT e a Nova Central estão aqui nesse momento chave da nação brasileira. O nosso povo não se curva a essa tentativa de submeter o Brasil ao capital financeiro internacional. O bandido do Trump taxou em 50%, teve que recuar, mas ainda está trazendo prejuízo e desemprego. O Brasil é nosso. Ô Trump, presta atenção: na minha pátria você não põe a mão.”

Durante o ato, o presidente da CTB-SP, Rene Vicente, destacou a importância da mobilização popular diante de ameaças externas e criticou a postura da direita brasileira, que, segundo ele, se mantém omissa ou mesmo cúmplice diante das agressões ao Brasil:

“Hoje, as centrais sindicais, os movimentos sociais, a Frente Povo Sem Medo, a Frente Brasil Popular, os partidos políticos progressistas estão nas ruas para denunciar esse tarifaço criminoso de Trump contra a soberania de todas as nações do mundo. […] O governador de São Paulo, que usou o bonézinho do Trump, nesse momento está calado. É nesse momento que a gente enxerga quem são os verdadeiros defensores da pátria.”

Rene ainda exaltou a postura do presidente Lula frente ao episódio, reafirmando o compromisso dos movimentos sociais com um projeto de país soberano, desenvolvido e justo:

“O presidente Lula deu uma lição de soberania e dignidade, dizendo que não iria abaixar a cabeça perante o imperialismo estadunidense. Conte com os movimentos sociais, com as centrais sindicais, com os partidos progressistas.”

Entre os cartazes levantados, alguns diziam “É hora de distinguir traidores de patriotas”. “Essa taxação é bem cruel. No fundo, o Trump quer acabar com o Brics”, diz Tânia Aparecida de Souza Rocha, militante no coletivo Flores Pela Democracia desde 2018. “Agora ele isentou 700 itens do tarifaço. Mas por quê? Porque iria prejudicar a economia deles. Não pensam na nossa”, afirma.

Ato na Embaixada dos EUA, em Brasília – Foto: José Cruz/Agência Brasil

O secretário de Administração e Finanças da CUT, Ariovaldo de Camargo, representou a Central no ato e reforçou o caráter unitário da mobilização. Segundo ele, o protesto surgiu da juventude e foi rapidamente abraçado pelas centrais sindicais em defesa da soberania nacional.

“Nós estamos aqui hoje num ato chamado inicialmente pelo movimento estudantil e que foi rapidamente incorporado por todas as centrais sindicais por entenderem a importância da defesa da soberania do país. Os verdadeiros patriotas são aqueles que constroem essa nação no dia a dia, nas escolas, nas fábricas e nos serviços públicos”, afirmou.

Ariovaldo também criticou as tentativas de ruptura democrática nos últimos anos. “Podemos ter diferenças sobre o governo, mas há que se ressaltar que a democracia vive nesse país. Aqueles que atentaram contra ela em 8 de janeiro de 2023 terão que ser severamente condenados. A classe trabalhadora esteve unida em 2022, continua unida em 2025 e estará em 2026 para impedir qualquer retrocesso”, disse o dirigente.

EMBAIXADA

Já em Brasília, o protesto reuniu centenas de pessoas em frente à Embaixada dos EUA, na 801 Sul. Aos gritos de “o Brasil é dos brasileiros” e de “recua, fascista”, estudantes e trabalhadores se posicionaram contrariamente às tentativas de interferência do governo estadunidense na independência do país sul-americano.

O estudante Caio Sade, que participou da manifestação, considerou necessário o posicionamento das autoridades brasileiras em defesa da própria nação. “O Brasil é um país onde o povo não tem medo de lutar pelos direitos dele. Ninguém em nosso país pode aceitar uma intervenção dessa forma, que diz respeito a medidas econômicas para defender uma pessoa que tentou dar um golpe”, comentou.

Ainda durante o protesto, os manifestantes queimaram uma bandeira dos Estados Unidos e um boneco improvisado que representava Trump, bem como comemoraram as prisões de militares réus nos processos pelos atos antidemocráticos de 8 de janeiro de 2023 e cobraram a prisão de Jair Bolsonaro.

Entre outras ações estabelecidas recentemente, Trump anunciou o “tarifaço” e fez críticas ao Judiciário brasileiro, por “desaprovar” o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) nos processos a que ele responde no Supremo Tribunal Federal (STF), sob acusação de tentar dar um golpe de Estado.

Também nesta manhã, ocorreu uma ação em frente ao Consulado dos Estados Unidos/FIEMG em Belo Horizonte, promovida por estudantes universitários liderados pela União Estadual dos Estudantes (UEE-MG) e movimentos estudantis.

Durante a ação, os participantes estenderam uma faixa que dizia que “soberania é o povo no poder”. Ainda nesta sexta, haverá um ato maior em Minas Gerais, na praça Sete, convocado pela UEE-MG, em conjunto com a UNE, as centrais sindicais CTB e CUT e as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo. A concentração está marcada para as 17h, mas a expectativa é que a maior parte do público chegue por volta das 18h.

Fonte: https://horadopovo.com.br/atos-em-defesa-da-soberania-reunem-movimentos-sociais-contra-interferencia-dos-eua/