A deputada federal Benedita da Silva (PT-RJ) ocupou a tribuna da Câmara dos Deputados para criticar a megaoperação policial deflagrada pelo governo do estado do Rio de Janeiro nos complexos do Alemão e da Penha nesta terça-feira (28). A ação, segundo autoridades, tinha como alvo a facção criminosa Comando Vermelho e mobilizou milhares de agentes.
Nas palavras da parlamentar, no entanto, resultou em um massacre que expõe tanto a falência da estratégia de segurança pública quanto o abandono histórico das comunidades populares. Em tom de indignação, Benedita da Silva lembrou que “não posso mais morar no morro, mas o morro não saiu de mim”, destacando sua origem e o vínculo com as favelas da capital fluminense ao responsabilizar diretamente o governador Cláudio Castro pelo desfecho fatal da operação.
Ao subir à tribuna, a deputada questionou com veemência o que qualificou como resultado trágico da megaoperação. “Foram mortos mais de 64, e eu tenho certeza de que há mais por aí. Foram policiais, foram agentes de segurança pública, foram pessoas inocentes. Mas vocês não acreditam que existam pessoas inocentes?”, afirmou.
Até o momento da publicação desta matéria, a operação de terça-feira, considerada a mais letal da história do Rio de Janeiro, deixou 130 mortos na Penha e no Alemão.
“Quem está falando aqui é alguém que morou no morro por 57 anos da minha vida”, destacou. “Não pode ser natural você ir para um território onde há milhares de pessoas e querer fazer uma operação a céu aberto, colocando as famílias em pânico, as crianças fora da escola. Qual é o resultado dessa megaoperação?”
Em seu discurso, ela criticou também o que chamou de banalização das mortes em favelas e o fato de operações dessa natureza serem encaradas como normais por quem está no poder. “Não pode ser natural você entrar em território onde há milhares de pessoas e querer fazer uma operação a céu aberto, colocando as famílias em pânico, as crianças fora da escola.” A fala ecoou o medo e a sensação de abandono que muitos moradores de áreas populares relatam quando as luzes dos tanques se apagam e restam apenas os escombros.
Benedita da Silva responsabilizou o governador do estado pela condução da operação e pela ausência de garantias às famílias afetadas. “E, se há uma pessoa que não é inocente no Estado do Rio de Janeiro, é o governador do estado. O governador do estado!”, afirmou. A sessão foi marcada por forte emoção, com a deputada referindo-se à sua trajetória de vida.
A deputada, visivelmente emocionada, encerrou:
“Gente, eu digo isso com muita tristeza no meu coração. Dá muita vergonha, aos meus 83 anos de idade, continuar sofrendo pelo meu povo. Não moro mais no morro, mas eu sinto a dor.Eu saí da favela, mas ela não saiu de mim. Eu conheço a dor daquela gente, conheço a maldade e a perversidade de quem governa e não sabe governar.”
Fonte: https://horadopovo.com.br/benedita-repudia-morticinio-de-castro-e-denuncia-a-perversidade-de-quem-nao-sabe-governar/
