3 de novembro de 2025
O Brasil perde um de seus artistas mais geniais
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O cantor e compositor mineiro Lô Borges morreu na noite do último domingo (2/11), aos 73 anos, em Belo Horizonte. Ele era um dos fundadores do “Clube da Esquina” – movimento musical de vanguarda surgido no fim dos anos 1960 e começo dos anos 1970, que marcou profundamente a música brasileira ao lado de nomes como Milton Nascimento, Fernando Brant (1946-2015), Beto Guedes, Toninho Horta e Wagner Tiso.

Segundo boletim da assessoria de imprensa da Unimed, “Lô faleceu às 20h50 em decorrência de falência múltipla de órgãos”. Ele estava internado desde 17 de outubro, após um quadro de intoxicação medicamentosa. A “intoxicação por medicamentos ocorre pelo uso de doses excessivas de um remédio, de forma intencional ou acidental”. O artista foi entubado, submetido a traqueostomia e, com o agravamento da saúde, acabou não resistindo. Lô deixa o filho Luca Arroyo Borges, de 27 anos.

O velório está marcado para esta terça-feira (4), no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Das 9h às 15h, fãs e admiradores poderão se despedir de um dos artistas mais inventivos da música popular brasileira.

A obra de Lô Borges foi interpretada por gigantes da MPB, entre eles Milton Nascimento, Elis Regina, Tom Jobim – que gravou em inglês “O Trem Azul”, parceria de Lô com Ronaldo Bastos –, além de nomes de gerações posteriores como Samuel Rosa, Nando Reis e Caetano Veloso. Com este último, Lô assinou a canção “Sem Não”.

Mesmo aos 73 anos, ele mantinha intensa atividade artística. Desde 2019, lançava um disco autoral por ano. Em agosto deste ano, chegou ao público seu álbum mais recente, ‘Céu de giz’, com melodias próprias e letras de Zeca Baleiro.

Em dezembro de 2022, ao completar meio século de carreira, Lô viveu um dos momentos mais marcantes de sua história: subiu ao palco da Sala Minas Gerais para um concerto com a Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, que pela primeira vez executou um programa inteiramente dedicado à obra de um artista “popular”. O projeto, chamado “50 Anos de Música”, tornou-se álbum em áudio e vídeo, lançado pela gravadora Deck.

ADEUS DE BITUCA

Parceiro e amigo de infância, Milton Nascimento prestou homenagem emocionada ao músico nas redes sociais. “Foi — e sempre será — uma das pessoas mais importantes” da sua vida, escreveu. “Foram décadas e mais décadas de uma amizade e cumplicidade lindas, que resultaram em um dos álbuns mais reconhecidos da música no mundo: o Clube da Esquina.” Milton lamentou: “Lô nos deixará um vazio e uma saudade enormes, e o Brasil perde um de seus artistas mais geniais, inventivos e únicos”.

Na mensagem, ele também enviou condolências à família: “Desejamos muito amor e força à família Borges, a qual me acolheu em minha chegada a Belo Horizonte, lá nos anos 60, e, principalmente, ao seu filho Luca. Descanse em paz, Lô”.

A despedida de Milton emocionou fãs que recordaram a amizade de mais de meio século entre os dois, símbolo da renovação da MPB e do legado perene deixado pelo Clube da Esquina.

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva lamentou a morte de Lô Borges e destacou a relevância da obra do artista, que ajudou a moldar a identidade sonora do país.

“Hoje nos despedimos de um dos grandes nomes da nossa música popular brasileira, Lô Borges. Suas canções, que começaram a nascer nas esquinas de Belo Horizonte, ultrapassaram as fronteiras de Minas Gerais e estão gravadas não apenas em álbuns, mas na memória e no coração de milhões de brasileiros”, escreveu.

Lula também revelou que conheceu melhor a obra do artista por meio da primeira-dama, Janja Lula da Silva. “Conheci melhor as canções de Lô Borges através da Janjinha, que é fã desde sua adolescência e coloca seus álbuns para tocar nos nossos momentos de descanso”, afirmou o presidente, ressaltando a influência de Borges em várias gerações de músicos.

O presidente destacou ainda o impacto histórico do disco “Clube da Esquina”, lançado em 1972 em parceria com Milton Nascimento e Beto Guedes, considerado um marco da música brasileira. “Gerações de músicos foram influenciados pela sua obra. Seu álbum ‘Clube da Esquina’ é considerado um dos mais importantes de nossa história. E a própria MPB que conhecemos não seria a mesma se Lô Borges não tivesse nos dado a alegria de ter existido”, escreveu Lula.

Fonte: https://horadopovo.com.br/bituca-se-despede-de-lo-borges-o-brasil-perde-um-de-seus-artistas-mais-geniais/