O Brasil passou a contar oficialmente com um novo e estratégico instrumento científico no enfrentamento às mudanças climáticas com o início da operação do supercomputador Jaci, inaugurado nesta quinta-feira (11) no Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais, em Cachoeira Paulista, no interior de São Paulo. O equipamento representa um avanço significativo na capacidade nacional de processamento de dados climáticos, meteorológicos e ambientais, fortalecendo a autonomia científica do país em um momento de intensificação de eventos extremos como enchentes, secas prolongadas e ondas de calor cada vez mais severas.
Desenvolvido para substituir o antigo supercomputador Tupã, que operou por mais de uma década e já apresentava limitações diante da crescente complexidade dos modelos climáticos, o Jaci oferece um salto expressivo de desempenho. Sua capacidade de cálculo permite rodar simulações com altíssima resolução espacial, alcançando escalas de até três quilômetros, o que possibilita previsões mais detalhadas e localizadas. Esse avanço técnico amplia de forma decisiva a precisão dos alertas meteorológicos e climáticos, beneficiando diretamente áreas sensíveis como defesa civil, agricultura, geração de energia, transporte e planejamento urbano.
O nome Jaci foi escolhido por meio de votação popular e faz referência à divindade da Lua na mitologia tupi guarani, simbolizando a conexão entre saberes tradicionais e tecnologia de ponta. A escolha reforça a proposta do projeto de aproximar a ciência da sociedade e destacar o papel estratégico do conhecimento científico na proteção da vida e do território nacional. A entrada em operação do sistema também consolida o Brasil como um dos poucos países do hemisfério sul com infraestrutura própria de supercomputação voltada especificamente para estudos climáticos de larga escala.
O novo supercomputador é peça central para a execução do Modelo Brasileiro do Sistema Terrestre, conhecido como MONAN, que integra dados atmosféricos, oceânicos e de superfície terrestre em um único sistema de simulação. Esse modelo foi desenvolvido para representar com maior fidelidade as características climáticas da América do Sul e do território brasileiro, superando limitações de modelos estrangeiros que nem sempre conseguem captar particularidades regionais como a dinâmica da Amazônia, do Cerrado e das áreas costeiras.
Durante a cerimônia de inauguração, autoridades do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação e da direção do Inpe destacaram que o Jaci não é apenas uma atualização tecnológica, mas uma ferramenta essencial para a segurança nacional e a formulação de políticas públicas baseadas em evidências científicas.
Para a ministra Luciana Santos, a chegada do Jaci reforça o papel estratégico do Inpe na produção de conhecimento científico essencial para o País. “Estamos falando do sistema de previsão do tempo e clima mais avançado já instalado no Brasil, fruto de um investimento de R$ 30 milhões do MCTI via Finep [Financiadora de Estudos e Projetos] que abre caminho para a modernização completa do centro de dados do instituto, um projeto de cerca de R$ 200 milhões que incluirá novos supercomputadores, infraestrutura elétrica renovada, refrigeração eficiente e uma usina fotovoltaica. É ciência de ponta, soberania tecnológica e capacidade real de salvar vidas”, afirmou.
A capacidade de antecipar fenômenos extremos com maior precisão pode significar a diferença entre prevenção e tragédia, permitindo respostas mais rápidas e eficazes do poder público e reduzindo impactos sociais, econômicos e ambientais.
O investimento inicial para a aquisição e implementação do supercomputador foi da ordem de dezenas de milhões de reais, financiado com recursos públicos federais. O Jaci integra o Projeto de Renovação da Infraestrutura de Supercomputação do Inpe, que prevê até o final da década a modernização completa do centro de dados da instituição. O plano inclui melhorias estruturais, atualização de sistemas elétricos e de refrigeração e a adoção de soluções sustentáveis, como a implantação de geração de energia solar, alinhando alta performance computacional com eficiência energética.
Pesquisadores e especialistas avaliam que a entrada em operação do Jaci marca um ponto de inflexão na ciência climática brasileira. Em um cenário global marcado pelo aquecimento acelerado do planeta, a ampliação da capacidade nacional de previsão e análise climática torna-se indispensável para a adaptação do país aos novos riscos ambientais. Mais do que um avanço tecnológico, o supercomputador simboliza a aposta do Brasil na ciência como ferramenta central para enfrentar os desafios do presente e do futuro, reforçando o papel do Estado na produção de conhecimento estratégico e na proteção da população frente às transformações do clima.
Fonte: https://horadopovo.com.br/brasil-inaugura-supercomputador-jaci-e-da-salto-em-ciencia-e-previsoes-climaticas/
