3 de dezembro de 2025
Conta de água sobe 6,11% com Sabesp privatizada e promessa
Compartilhe:

Aumento para janeiro desmente promessa feita pelo governador na TV. Empresa projeta nova alta de 10,6%, enquanto serviço piora com demissões e poluição

A Sabesp resolveu caprichar no presente de Ano-Novo dos consumidores paulistas: anunciou nesta terça-feira (2) um reajuste de 6,11% nas tarifas para 2026. Nada como começar o ano com aquela surpresa que ninguém pediu, embrulhada no discurso de que é “apenas reposição da inflação”. Enquanto muitos já contam moedas para fechar dezembro, a empresa garantiu que janeiro chegará com a conta de água mais salgada.

Segundo a Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo (Arsesp), o aumento corresponde “apenas” à correção da variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulada nos últimos 16 meses — de junho de 2024 a outubro de 2025. “Asneiras! Para justificar a entrega (da companhia ao setor privado). Espere a PAULADA que virá logo após as eleições de 2026”, alerta Amauri Pollachi, conselheiro do Ondas (Observatório Nacional dos Direitos à Água e ao Saneamento).

Para uma residência que consome entre 11 m³ e 20 m³ por mês, o preço de cada mil litros de água deve subir de R$ 6,01 para aproximadamente R$ 6,40 o metro cúbico. A revisão considera o período entre julho de 2024, início do novo contrato, e outubro de 2025, e inclui a atualização pela inflação acumulada no intervalo, medida pelo IPCA.

Apesar de o cliente ter que pagar mais pelo consumo de água em janeiro, o governador paulista, Tarcísio de Freitas Republicanos), tenta tapar o sol com a peneira, negando o reajuste. “Não houve aumento real para o consumidor. Além disso, a tarifa de referência calculada pela agência reguladora ficou 15% abaixo do valor que seria previsto caso a Sabesp ainda fosse estatal”, disse o privatista em nota.

A medida contraria promessa feita pelo próprio Tarcísio, em entrevista ao jornalista Rodrigo Bocardi, então na TV Globo. Ele garantiu que, com a privatização, a conta de água ficaria mais barata.

“O que vai acontecer com a minha tarifa com essa privatização?”, questionou Bocardi. “Vai baixar”, respondeu o governador. “Vai ser mais baixa do que eu pago hoje? O senhor garante?” — insistiu o jornalista. “Garanto”, afirmou Tarcísio, categoricamente. O vídeo foi resgatado e publicado nas redes sociais por Guilherme Boulos, ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República: “Hoje foi anunciado aumento da conta de água em SP. A palavra de Tarcísio vale?”, ironizou.

Além do reajuste de 6,11% já autorizado pela Arsesp para janeiro, a empresa privada informou que seus cálculos preliminares apontam para um incremento de 10,6% na chamada “tarifa de equilíbrio”. O índice não será aplicado agora, mas indica a projeção de aumento para os próximos anos, podendo ser repassado de forma parcelada ou de uma vez só.

A tarifa de equilíbrio é, em resumo, o valor que a empresa entende ser necessário para cobrir todos os seus custos e garantir a rentabilidade prevista no contrato de privatização. Funciona como um “preço ideal” da conta de água e esgoto, calculado a partir de despesas operacionais, investimentos, manutenção, perdas e do lucro esperado pelos acionistas.

DESABASTECIMENTO

Enquanto isso, além de arcar com uma conta cada vez mais alta, os consumidores convivem com falta de água em casa devido à redução da pressão nas tubulações — resultado do baixo nível dos reservatórios que abastecem a capital. A ausência de chuvas piora o cenário, mas a situação se agrava ainda mais pela falta de planejamento da empresa, hoje focada na remuneração dos acionistas e na transformação do saneamento em mercadoria, em detrimento da qualidade do serviço.

Com cerca de 20,8% da capacidade, o Sistema Cantareira atingiu, nesta segunda-feira (1º), o menor nível de volume de água desde a crise hídrica de 2015, de acordo com dados da concessionária Sabesp.

O reservatório é responsável pelo abastecimento de cerca de 9 milhões de pessoas na Grande São Paulo e está em situação preocupante. Em 1º de dezembro de 2024, por exemplo, o volume de água era mais que o dobro do atual, com índice de 45,1% de água.

A companhia também tem oferecido atendimento de baixa qualidade, com longas esperas até mesmo para serviços simples, como instalações. O motivo é o elevado número de demissões, que atinge trabalhadores experientes, muitos pressionados aceitar redução salarial ou a aderir aos sucessivos PDVs (Planos de Demissão Voluntária) implementados pela empresa. Some-se a isso os inúmeros despejos de esgoto não tratado em rios e praias do Estado ao longo deste ano, evidenciando o agravamento dos problemas operacionais.

Fonte: https://horadopovo.com.br/conta-de-agua-sobe-611-com-sabesp-privatizada-e-promessa-de-tarcisio-evapora/