
A Associação dos Familiares de Vítimas do Incêndio do Ninho do Urubu (Afavinu) divulgou uma carta aberta em repúdio à decisão do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ) que absolveu os réus no processo criminal sobre o incêndio que matou 10 atletas da base do Flamengo em 2019.
A decisão, tomada em primeira instância, revoltou os familiares dos jovens, que afirmam se tratar de “uma grave afronta à memória das vítimas e ao sentimento de toda a sociedade”. Eles classificam a sentença como símbolo de impunidade e cobram responsabilidade penal pelos fatos.
Na carta, a Afavinu relembra as condições precárias do alojamento onde os adolescentes dormiam, estruturas de contêineres improvisadas, sem alvará, com falhas elétricas e janelas gradeadas que dificultaram a fuga. “A absolvição dos acusados, sob o argumento de falta de individualização das condutas, fragiliza os mecanismos de proteção à vida e à segurança de menores em entidades esportivas no País”, diz o texto.
A associação promete seguir lutando por justiça nas instâncias superiores e continuar pressionando autoridades para que sejam implementadas auditorias obrigatórias e manutenções regulares nos alojamentos de clubes esportivos em todo o país.
Para os familiares, a decisão do TJ-RJ representa uma falha grave do sistema de justiça e desrespeita o papel pedagógico do Judiciário. “A vida dos nossos filhos tem valor irreparável. Lutaremos até o fim por uma justiça efetiva, que proteja as vítimas e não os algozes”, reforça o documento.
A decisão foi proferida pelo juiz Tiago Fernandes de Barros, da 36ª Vara Criminal da Comarca da Capital. Ele argumentou que não houve provas suficientes para condenação e que não foi possível estabelecer nexo causal entre as ações dos réus e o incêndio.
Dos 11 inicialmente denunciados pelo Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ), três foram absolvidos ou excluídos do processo antes mesmo da sentença final: Carlos Noval, Luiz Felipe Pondé e Marcus Vinícius Medeiros. O ex-presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de Mello, também foi retirado da ação por prescrição, devido à idade (72 anos).
Paralelamente, o clube responde a outro processo. Em julho, a Justiça do Trabalho condenou o Flamengo a indenizar Benedito Ferreira, ex-segurança que atuou no resgate dos garotos. Com diagnóstico de doença psiquiátrica incapacitante, Ferreira receberá R$ 600 mil por danos morais e materiais, além de pensão vitalícia.
O incêndio no Ninho do Urubu ocorreu em 8 de fevereiro de 2019, em um alojamento das categorias de base do Flamengo, e matou 10 jovens entre 14 e 16 anos. A tragédia comoveu o país e expôs fragilidades na estrutura e segurança oferecidas a atletas em formação.
Fonte: https://horadopovo.com.br/familias-de-vitimas-do-ninho-do-urubu-repudiam-absolvicao-e-denunciam-impunidade/