
Suspeito de ameaçar Felca foi preso em Olinda – Foto: Reprodução/Polícia Civil
O hacker Cayo Lucas Rodrigues dos Santos, preso em Olinda após suspeita de ameaçar o youtuber Felipe Bressanim Pereira, o Felca, revelou em depoimento à Polícia Civil de Pernambuco que invadia sistemas do governo e vendia dados de forma ilícita. Embora tenha negado ser o autor das mensagens de intimidação, confessou que chefiava um esquema que lucrava alto com fraudes digitais.
A prisão foi realizada pela Polícia Civil de São Paulo depois que Felca divulgou, em 6 de agosto, um vídeo-denúncia sobre exploração e abuso de crianças e adolescentes na internet. Poucos dias depois, o youtuber recebeu e-mails com ameaças de morte. Em uma das mensagens, enviadas na madrugada de 16 de agosto, o remetente escreveu: “Você acha que vai ficar impune por denunciar o Hytalo Santos”, em referência ao influenciador citado no vídeo por suposta exploração de menores. A sequência da mensagem trazia intimidações como: “Você tá enganado você vai ferrar muito sua vida”, “prepara pra morrer” e “você vai pagar com a sua vida”. Horas depois, outro e-mail reforçou as ameaças.
O depoimento de Cayo, registrado na Delegacia de Repressão aos Crimes Cibernéticos em Recife, escancarou a dimensão do esquema. O hacker contou que chegou a faturar mais de R$ 500 mil explorando sistemas de órgãos públicos, entre eles o “Polícia Ágil”, da Secretaria de Defesa Social de Pernambuco; o “CadSUS”, do governo federal; e o “CEREBRUM”, da Secretaria de Segurança Pública do Ceará.
Segundo o relato, ele oferecia serviços como:
- emissão e revogação de mandados de prisão;
- inclusão de dívidas no Serasa;
- alteração de informações no SUS e na Receita Federal;
- bloqueio de contas bancárias;
- consulta de dados sigilosos de terceiros.
Cayo disse ainda que vendia bases de dados por até R$ 50 mil no Telegram. Mas seu “produto” mais rentável era a retirada de nomes do Banco Nacional de Monitoramento de Prisões (BNMP). Para realizar a fraude, ele acessava contas de magistrados e burlava o duplo fator de autenticação. Cobrava cerca de R$ 15 mil por alvará de soltura e afirmou ter expedido mais de 50 documentos falsos. A exclusão de registros no sistema custava R$ 3 mil.
APOIO DE CÚMPLICES E USO DE “LARANJAS”
Na mesma operação que resultou em sua prisão, os policiais encontraram Paulo Vinicios Oliveira Barbosa, flagrado com o sistema “Polícia Ágil” aberto em seu computador. Apesar de o mandado ser apenas contra Cayo, ele também foi detido. O hacker contou que Paulo realizava serviços de consulta de dados por R$ 20 cada, o que seria apenas um “extra” de renda.
O dinheiro obtido com as fraudes não passava diretamente por suas mãos. Segundo o depoimento, os pagamentos eram feitos a contas de terceiros — os chamados “laranjas” — que ficavam com até 20% do valor. Quando algum intermediário não repassava os recursos, ele mesmo bloqueava as contas bancárias via Sisbajud. Além disso, parte das transações era feita em criptoativos. Cayo afirmou ter acumulado cerca de R$ 500 mil em criptomoedas, montante apreendido pela polícia em junho de 2025.
CRIMES LIGADOS À EXPLORAÇÃO SEXUAL INFANTIL
As investigações também apontam que Cayo Lucas fazia parte de uma quadrilha especializada em exploração de crianças e adolescentes na internet. Segundo o secretário de Segurança Pública de São Paulo, Guilherme Derrite, o hacker chegou a vender material de abuso infantil em redes sociais, prática que pode estar diretamente relacionada às ameaças enviadas a Felca após sua denúncia pública.
Conforme a Polícia Civil, tanto Cayo quanto Paulo compravam credenciais de acesso a sistemas de polícias e secretarias de segurança em diferentes estados e revendiam dados de pessoas. Eles são investigados por invasão de dispositivos eletrônicos, comercialização de informações sigilosas e exploração sexual de menores.
REDE CRIMINOSA
Os detalhes do depoimento revelam que o hacker dominava diversos sistemas policiais, conhecia rotinas de envio de ofícios, consultas e até quebra de sigilos. O grupo atuava de forma organizada, vendendo serviços, explorando brechas tecnológicas e colocando em risco informações sensíveis de cidadãos e autoridades brasileiras.
Agora, a Polícia Civil paulista e a Justiça investigam não apenas as ameaças feitas contra Felca, mas também a extensão da rede de contatos e compradores de dados que sustentavam o esquema criminoso de Cayo Lucas Rodrigues dos Santos.
Fonte: https://horadopovo.com.br/hacker-preso-por-ameacar-felca-confessa-esquema-milionario-que-invadia-sistemas-publicos/