22 de outubro de 2025
Jogador chamado de "macaco" recebe punição maior do que racista
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O Tribunal de Justiça Desportiva do Paraná (TJD-PR) condenou um jogador vítima de racismo com uma pena maior que o acusado. O crime de racismo foi registrado durante partida entre Batel Guarapuava e o Nacional-PR pela Taça FPF, no dia 4 de outubro, em Guarapuava, no Paraná. 

O volante Diego, do Batel, chamou o zagueiro Paulo Vitor, o PV, do Nacional, de “macaco” durante uma discussão em campo. O jogador do Nacional reagiu com um soco no adversário, que caiu no gramado e precisou de atendimento médico de uma ambulância.

Após um julgamento de quatro horas, a decisão condenou Diego, o autor da injúria racial com 7 jogos de suspensão e multa de R$ 2 mil. Em defesa, o ex-volante do Batel alegou que ao invés de “macaco” teria xingado Paulo Vitor de “malaco”. A versão, porém, não foi aceita pela corte.

Porém, a decisão mais pesada restou para o zagueiro do Nacional. Ele foi denunciado por uma cusparada e pelo soco. Ele negou cuspe, porém foi suspenso por 10 jogos na soma das punições, o que causou uma revolta por parte da sociedade.

Embora a agressão tenha sido uma reação à injúria racial, os auditores afirmaram que isso não justificava a absolvição. Por maioria de votos (3 a 1), aplicaram a pena mínima prevista no artigo 254-A do CBJD que corresponde a agressão física, com suspensão entre quatro e 12 partidas. Também pelo artigo 254-B, sobre cuspir em outrem, a pena varia de seis a 12 partidas.

Somadas as duas infrações, Paulo Vitor recebeu a suspensão de dez jogos, maior do que a aplicada a Diego, mesmo sendo ele a vítima do crime racial.

Durante o julgamento, o Batel também foi denunciado por omissão, acusado de tentar esconder o jogador Diego após a confusão. No entanto, por ter demitido o atleta no dia seguinte e se posicionado contra o ocorrido nas redes sociais, o clube foi absolvido por unanimidade e segue na disputa da Taça FPF.

O JOGO

Durante a partida, o árbitro Diego Ruan Pacondes da Silva acionou o protocolo antirracismo da FIFA, cruzando os braços em “X”, e relatou o caso na súmula. PV foi expulso pela agressão, enquanto Diego permaneceu em campo até o fim da partida. O Batel venceu por 1 a 0, resultado que garantiu sua classificação e eliminou o Nacional da competição.

O volante PV lamentou o incidente. “Quero deixar minha indignação com o ocorrido do último jogo que fui vítima de racismo, não sou a favor da violência mas parece q só assim eles sentem na pele. Quem é da cor vai entender minha reação, espero que a justiça seja feita e que casos como esse não só no futebol sejam resolvidos e não julgados como vitimismo ou algo do tipo. Fogo nos racistas”, publicou.

Já o Nacional-PR revelou que vai recorrer a decisão. O advogado da equipe, Marlon Lima anunciou que buscará “todas as medidas cabíveis para que a justiça seja feita”.

Em publicação nas redes sociais, o Nacional Atlético Clube declarou que acompanha o caso de perto e que irá recorrer da decisão: “O clube tomará todas as medidas judiciais cabíveis para que, de fato, a justiça seja feita, renovando seu compromisso contra quaisquer práticas de atos discriminatórios, as quais são inaceitáveis.”

O Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), em seu artigo 243-G, prevê punição de até dez jogos e multa de até R$ 100 mil para quem praticar ato discriminatório, desdenhoso ou ultrajante relacionado à origem étnica, raça, cor ou condição.

Mesmo com provas em vídeo e relato em súmula, o autor da injúria racial recebeu pena inferior à máxima prevista, enquanto a vítima acabou punida de forma mais rigorosa. A decisão gerou indignação e reacendeu o debate sobre o tratamento de casos de racismo no esporte brasileiro.

Fonte: https://horadopovo.com.br/jogador-chamado-de-macaco-recebe-punicao-maior-do-que-racista-no-parana/