1 de dezembro de 2025
Estudantes de escola cívico-militar são obrigados a entoar canto de
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Estudantes da rede pública estadual do Paraná foram filmados, nesta sexta-feira (28), enquanto marchavam e entoavam música do Batalhão de Operações Especiais (BOPE), da Polícia Militar do Rio de Janeiro, que exalta a violência policial contra comunidades da periferia. No trecho, os estudantes  do Colégio Estadual Cívico-Militar João Turin, em Curitiba (PR),  entoam trecho que afirma que sua missão é “entrar na favela e deixar corpo no chão”.

A cena, conduzida por um policial militar responsável pela “formação” dos estudantes, ocorreu na tarde de sexta-feira 28, durante uma atividade de “civismo e disciplina”. O colégio, que atende 758 alunos do Ensino Fundamental e Médio, com idades entre 11 e 18 anos, adotou o modelo cívico-militar em 2021.

Para o Sindicato dos Professores do Paraná (APP-Sindicato)não se trata de uma exceção. “Desde o início deste programa, temos recebido e denunciado ocorrências semelhantes e até piores em escolas cívico-militares”, afirma Walkiria Mazeto, presidente da entidade.

“É chocante ver a escola pública usada para promover uma doutrinação ideológica extremista, que prega o ódio, a violência, o massacre e o extermínio de comunidades periféricas. Isso reforça a nossa luta contra a militarização da educação”, completou Walkiria à revista Carta Capital.

No vídeo, os estudantes marcham em volta da quadra enquanto cantavam: “Homem de preto, o que é que você faz? / Eu faço coisas que assusta o satanás. / Homem de preto, qual é sua missão?/ Entrar na favela e deixar corpo no chão./ O Bope tem guerreiros que matam fogueteiros. /Com a faca entre os dentes, esfola eles inteiros./ Mata, esfola, usando sempre o seu fuzil”.

Em suas redes sociais, o deputado estadual do Paraná, Renato Freitas (PT), destacou que os defensores da conversão das escolas em cívico-militares diziam que era para evitar a “doutrinação” – que nunca existiu -, mas na verdade o que se vê é a doutrinação ocorrendo efetivamente.  

“A narrativa começou com a caça aos ‘professores doutrinadores’ e a farsa da ‘Escola sem Partido’”, disse o parlamentar. “Depois, revelou-se o verdadeiro projeto: esvaziar a educação de seu senso crítico, removendo filosofia, sociologia e artes, para preenchê-la com a disciplina cega e a hierarquia inquestionável do militarismo”, completou.

“Não foi à toa que esse laboratório do conservadorismo teve início no Paraná, transformando escolas em quartéis e alunos em soldados. Agora, esse modelo se espraia para São Paulo e outros estados, como um projeto de poder que avança sobre o futuro da nossa juventude”, continuou Renato.

O caso da escola João Turin é emblemático para o cenário da educação paranaense, pois o governo Ratinho Júnior (PSD) busca expandir o modelo cívico-militar. No mês passado, a Assembleia Legislativa aprovou um projeto do Executivo que amplia o formato para escolas de ensino integral. 

A partir de 2026, o Paraná terá 345 colégios cívico-militares. Em Curitiba, duas novas unidades aderiram recentemente ao modelo: o Colégio Victor do Amaral e o Colégio Homero B. de Barros.

O programa prevê a contratação de policiais militares aposentados para atuar e interagir com os estudantes nas escolas. “Os militares são chamados de monitores militares, mas em muitas escolas são conhecidos como diretores militares, em sobreposição à autoridade dos profissionais da educação”, diz a APP- Sindicato em comunicado.

Essa contradição destacada pela entidade também reflete nos vencimentos entre os militares e os profissionais da educação.

“Ratinho Jr. paga aos militares a quantia mensal de R$ 5,5 mil. Mesmo não tendo formação ou conhecimento sobre processo pedagógico, educação e interação com adolescentes e jovens, eles recebem mais do que os(as) professores(as), que têm o piso atual fixado em R$ 4,9 mil, para jornada de 40 horas semanais, e mais ainda do que os(as) funcionários(as) de escola que tem formação e qualificação para interação com os estudantes, os Agentes II, cujo piso salarial é R$ 4 mil”, conclui a entidade.

Fonte: https://horadopovo.com.br/mata-esfola-estudantes-de-escola-civico-militar-sao-obrigados-a-entoar-canto-de-violencia-no-pr/