
Jornalista estava internado havia duas semanas na UTI do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo – Foto: Divulgação
O fundador e diretor de redação da Carta Capital, o jornalista Mino Carta, faleceu nesta terça-feira (2) em São Paulo. Segundo a revista, ele tinha 91 anos e “lutava contra os problemas de saúde, em idas-e-vindas do hospital”.
Mino Carta morreu no Hospital Sírio-Libanês, onde nas duas últimas semanas esteve internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). A Carta Capital informou em nota que a trajetória de seu fundador se confunde com a história do jornalismo brasileiro.
Nascido em Gênova, na Itália, o jornalista criou e dirigiu algumas das revistas mais influentes do país, como Quatro Rodas, lançada em 1960, Veja (1968), Isto É (1976) e Carta Capital (1994). Também esteve à frente do Jornal da Tarde, criado em 1966, considerado revolucionário pela linguagem e diagramação.
Carta trilhou carreira no jornalismo por mais de sete décadas. Começou a escrever de maneira fortuita, quando o pai, Giannino, também jornalista, recebeu a encomenda de artigos sobre a Copa do Brasil, em 1950, para dois jornais italianos. Como odiava futebol, perguntou ao filho se queria escrever os textos em seu lugar.
O jornalista era a terceira geração da família no ofício. Seu avô materno Luigi Becherucci foi diretor do jornal genovês Caffaro, mas perdeu o cargo com a ascensão do fascismo no país. Já seu pai foi preso em 1944 por se opor ao regime de Benito Mussolini e fugiu numa revolta de carcereiros
Nas redes sociais, o presidente Lula lamentou e publicou uma foto ao lado do fundador das revistas Veja e Carta Capital, a quem chamou de “amigo”. Lula destacou que o profissional fez história no jornalismo brasileiro, ao criar e dirigir algumas das principais publicações do país, e mostrou com seu ofício como “a imprensa livre e a democracia andam de mãos dadas”.
Na postagem, Lula lembrou que Mino Carta denunciou o abuso dos poderosos e deu voz aos que clamavam por liberdade durante a ditadura militar. O presidente contou aos seguidores que conheceu Carta cinquenta anos atrás e que foi o jornalista quem deu o primeiro espaço de destaque na imprensa para as lutas sindicais.
“Ele, pela primeira vez, deu destaque nas revistas semanais para as lutas que nós, trabalhadores reunidos no movimento sindical, estávamos fazendo por melhores condições de vida, por justiça social e democracia. Foi ele quem abriu espaço para minha primeira capa de revista, na Istoé, em 1978. Desde então, nossas trajetórias seguiram se cruzando. Eu, como liderança política, ele, como um jornalista que, sem abdicar de sua independência, soube registrar as mudanças do Brasil”, disse.
Lula afirmou ter vivido com Carta a redemocratização, as Diretas Já, as eleições presidenciais e outras transformações sociais. Sob a liderança do jornalista, a revista IstoÉ foi a primeira a publicar uma entrevista com Lula, em ascensão na liderança do Sindicato dos Metalúrgicos de São Bernardo. Coube a Carta – incentivado por Ulysses Guimarães e Franco Montoro – convencer o líder sindical a participar do comício das “Diretas Já”.
Lula ressaltou, nesta terça, a importância do trabalho de Carta para a consolidação das instituições democráticas brasileiras.
“Estas décadas de convivência me dão a certeza de que Mino foi – e sempre será – uma referência para o jornalismo brasileiro por sua coragem, espírito crítico e compromisso com um país justo e igualitário para todos os brasileiros e brasileiras. Se hoje vivemos em uma democracia sólida, se hoje nossas instituições conseguem vencer as ameaças autoritárias, muito disso se deve ao trabalho deste verdadeiro humanista, das publicações que dirigiu e dos profissionais que ele formou”, ressaltou Lula.
A Carta Capital, da qual o jornalista era fundador e diretor de redação, informou que ele lutou contra problemas de saúde ao longo do último ano e estava internado havia duas semanas na UTI do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo.
Admiradores e personalidades também lamentaram a morte de Mino Carta nas redes sociais. Vice-líder do governo Lula no Congresso, o deputado federal Bohn Gass (PT-RS) destacou que Carta foi “dos maiores jornalistas de todos os tempos”, um “democrata de verdade”, com “texto impecável”.
Já o deputado federal Orlando Silva (PCdoB-SP) escreveu que o dia começou triste para quem aprecia o bom jornalismo. “Intelectual refinado, destacava-se pelo bom texto e a robustez analítica. Um Jornalista que fará muita falta nesses tempos em que a desinformação e a manipulação ganham espaço, quando a corrida pelo líke fácil preside as preocupações. Deixa um enorme legado”, escreveu.
A deputada federal Talíria Petrone (PSOL-RJ) lamentou a perda do “gigante do jornalismo brasileiro” e o agradeceu por “abrir caminhos”, com a comunicação como “trincheira de resistência”.
Fonte: https://horadopovo.com.br/morre-aos-91-anos-mino-carta-jornalista-e-fundador-da-carta-capital/