
O número de falhas na rede de água e esgoto da cidade de São Paulo disparou em 2025, primeiro ano completo após a privatização da Sabesp, realizada em 2024. Segundo dados obtidos pela TV Globo junto à Arsesp (Agência Reguladora de Serviços Públicos do Estado de São Paulo) por meio da Lei de Acesso à Informação, até julho deste ano já haviam sido registradas 52 falhas – um número alarmante, que já supera, em poucos meses, todo o acumulado do ano passado, quando houve apenas 7 ocorrências.
A escalada das falhas é um contraste gritante com os anos anteriores, quando a Sabesp ainda era estatal. Em 2020, foram registradas 82 falhas, mas esse número vinha caindo: foram 43 em 2021, 33 em 2022 e 20 em 2023. A queda abrupta para 7 em 2024 parecia sinalizar uma estabilidade. No entanto, bastou a empresa ser privatizada para os problemas voltarem a crescer de forma acelerada,
A situação afetada diretamente a população com interrupções no abastecimento de água elevação da tarifa, esgoto a céu aberto e falhas em equipamentos essenciais, como bombas e estações de tratamento. Aumento de falhas, deterioração da infraestrutura e prejuízos diretos à população, especialmente nas regiões mais vulneráveis da cidade ó que a empresa entrega aos consumidores após o controle privado.
Na capital paulista, a Zona Norte é a mais atingida, seguida pela Zona Sul e pela Zona Leste, justamente os locais onde a população mais depende de um serviço público eficiente e acessível.
Mesmo após a privatização, a empresa alega que cerca de 30% das falhas decorrem de fatores externos, como falta de energia ou vandalismo. No entanto, especialistas apontam que a maior parte dos problemas podem estar relacionada à falta de manutenção, à ausência de monitoramento técnico adequado e ao desinteresse da nova gestão privada em investir em áreas que não oferecem retorno imediato de lucro.
Para o engenheiro Antonio Eduardo Giansante, professor de infraestrutura urbana do Mackenzie, em entrevista ao G1, a situação demonstra a falta de planejamento e a prioridade dada à correção de falhas em vez de ações preventivas e de monitoramento constante, que permitiriam identificar problemas antes que causassem danos.
“Tem eventos de falhas que não estão no controle da Sabesp que é, por exemplo, a falta de energia elétrica, o vandalismo que é o roubo de equipamentos de fios”, disse, “mas tem outros que são de responsabilidade (dos) que estão no controle da Sabesp”, afirmou Giasante. “
“Então isso mostra que é uma necessidade de se aumentar o grau de planejamento da manutenção”, observa. “Ela não pode ser somente corretiva para evitar falhas, precisa ser também preventiva e até preditiva”, ressalta. Significa, “acompanhar o funcionamento do equipamento, suas variáveis de controle para saber se está na hora de se trocar ou não”, defende o engenheiro.
A experiência comprova que a gestão privada de serviços essenciais prioriza o lucro em vez do interesse público. Após a privatização da Sabesp, vieram o aumento das falhas, riscos à saúde e abandono das regiões mais pobres. Quando pública, a empresa era lucrativa, investia na expansão do serviço e garantia o acesso universal à água e ao esgoto, agora, opera com foco empresarial, ignorando seu papel social.
A explosão de falhas em 2025 deixa claro que a privatização da Sabesp não significou avanço, mas sim retrocesso. Em vez de melhorias, o que a população tem enfrentado são cortes, falhas, prejuízos e mais exclusão.
“Enquanto mais de 700 apartamentos em Santo Amaro, zona sul da capital paulista, sofrem há quase um mês com a falta d’água, a Sabesp privatizada comemora um feito: lucro líquido de R$ 9,5 bilhões em 2024, um salto de 171,9% em relação ao ano anterior. A denúncia é do Sintaema (Sindicato dos Trabalhadores em Água, Esgoto e Meio Ambiente do Estado de São Paulo).
Em razão da redução da pressão da água, justificada pela queda no nível dos reservatórios, moradores de Santo Amaro, na Zona Sul de São Paulo, ficaram sem abastecimento por vários dias entre setembro e o início de outubro. A falta de água persistiu durante o dia e a noite, forçando as famílias a comprarem água mineral para beber e a recorrer a caminhões-pipa para garantir a higiene pessoal, lavar roupas e louça.
“E por que isso acontece? Porque para garantir lucros bilionários, a Sabesp foca na arrecadação, corta pessoal e rebaixa salários. Mais de 4 mil trabalhadores já foram desligados, sendo 1,35 mil da Operação – justamente a área responsável por fazer a água chegar às torneiras da população”, critica o Sintaema.
A entrega da empresa foi feita com promessas que já se provaram falsas, e agora os paulistanos pagam o preço. Longe de resolver os problemas, a privatização agravou aquilo que já precisava de atenção. A água, que é um direito de todos, passou a ser tratada como mercadoria nas mãos de poucos. “Água que deveria matar a sede da população virou fonte inesgotável de ganhos para o mercado financeiro”, aponta o sindicato.
Fonte: https://horadopovo.com.br/numero-de-falhas-e-rompimentos-na-rede-da-sabesp-explode-apos-a-privatizacao/