28 de outubro de 2025
Operação de Cláudio Castro ignora inteligência e faz banho de
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Operação já é considerada a mais letal da história do Estado com ao menos 64 mortos

A ação propagada pelo governador Claudio Castro (PL) como uma “guerra” contra uma suposta expansão do Comando Vermelho resultou em um verdadeiro banho de sangue com ao menos 64 mortos e o sentimento de medo e de impotência tomando conta do Rio de Janeiro.

A operação “Contenção” coordenada por Cláudio Castro nos Complexos do Alemão e da Penha já é considerada a mais letal da história do Estado. Até as 15h30 desta terça, 64 pessoas haviam sido mortas nas duas localidades, ultrapassando as operações no Jacarezinho, em maio de 2021, com 28 óbitos, e a operação na Vila Cruzeiro, em maio de 2022, com 24 mortes.

Todas as operações aconteceram nos governos de Cláudio Castro (PL). Ainda assim, o crime organizado, entre as facções e milícias, controla ao menos 57% do território do Rio Janeiro.

O governo fluminense tomou a opção de um confronto direto contra criminosos, ignorando as ações de inteligência para neutralizar as facções e transformando as comunidades, onde cerca de 200 mil trabalhadores e seus familiares vivem, em um palco de guerra.   

Pelo menos 2.500 agentes das forças de segurança do RJ saíram para cumprir 100 mandados de prisão. Traficantes reagiram a tiros e com barricadas em chamas, dezenas de colunas de fumaça podiam ser vistas de diversos pontos da cidade.

A Polícia Civil afirmou ainda que, em retaliação, criminosos lançaram bombas com drones. Outros fugiram em fila indiana pela parte alta da comunidade, em uma cena semelhante à disparada de bandidos em 2010, quando da ocupação do Alemão.

Segundo o balanço parcial: 60 suspeitos haviam sido mortos em confronto. Dois eram da Bahia; outro, do Espírito Santo. Agentes de segurança foram baleados, e pelo menos 4 morreram. Além deles, 3 inocentes foram baleados.

Mais de 80 homens foram presos, 5 foram baleados e internados sob custódia no Hospital Estadual Getúlio Vargas, na Penha. Os policiais também teriam apreendido 75 fuzis, 2 pistolas e 9 motos.

Para justificar o massacre, Cláudio Castro tentou culpar o governo federal e ignorando o fato da segurança pública ser responsabilidade do seu governo. Segundo ele, “tivemos pedidos negados três vezes, cada dia uma razão para não estar colaborando”.

Castro atuou firmemente contra a PEC da Segurança Pública – projeto apresentado pelo ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, para ampliar o combate centralizado às organizações criminosas como o Comando Vermelho, o PCC e as milícias que ocupam territórios do Rio de Janeiro, tenta agora jogar a responsabilidade por sua lambança no governo federal.

RESPOSTA FEDERAL

O Ministério da Justiça rebateu Castro e afirmou que atendeu “prontamente” todos os pedidos do estado para o emprego da Força Nacional no combate ao crime organizado.

A pasta destacou que, desde 2023, acatou todas as 11 solicitações de renovação da Força Nacional de Segurança Pública no território fluminense. Também citou a realização de operações conjuntas da Polícia Federal com as polícias estaduais e o envio de recursos do governo federal para investir no sistema penitenciário e na segurança pública.

O Ministério citou a reunião de Castro com o ministro Ricardo Lewandowski, em fevereiro deste ano. “À ocasião, o ministro atendeu a um pedido do estado e ofereceu dez vagas em presídios federais para alocar lideranças criminosas do Rio de Janeiro”, diz o texto. “O Ministério da Justiça e Segurança Pública reafirma seu compromisso com o Estado do Rio de Janeiro, promovendo a segurança pública por meio do apoio integrado.”

Dados sobre prisões e apreensões de drogas e armas refletem o “esforço contínuo” da PF no enfrentamento às facções, diz o ministério. “Só em 2025, foram realizadas 178 operações no Rio, sendo 24 delas relacionadas a tráfico de drogas e armas. Ao todo, foram 210 prisões efetuadas, das quais 60 estão diretamente relacionadas a investigações sobre o tráfico de drogas e armas. No mesmo período, foram apreendidas 10 toneladas de drogas e 190 armas de fogo, incluindo 17 fuzis”, diz a nota.

FINALIDADE DA OPERAÇÃO QUESTIONADA

O Ministério Público da União (MPF) e a Defensoria Pública da União (DPU) enviaram um ofício ao governo do Rio com questionamentos sobre a megaoperação no Complexo do Alemão e Vila Cruzeiro.

Eles questionam, por exemplo, se as medidas impostas pelo Supremo Tribunal Federal (STF) no âmbito da ADPF 635, a ADPF das Favelas, foram cumpridas. O MPF e DPU pede ainda que o governo “informe detalhadamente de que forma o direito à segurança pública foi promovido, indicando as finalidades da operação, os custos envolvidos e a comprovação da inexistência de outro meio menos gravoso de atingir a mesma finalidade”.

O documento ainda cobra que o governo comprove:

  • Prévia definição do grau de força adequado e justificativa formal da operação;
  • Atuação dos órgãos periciais para realização de perícia e identificação de vestígios de crimes;
  • Uso de câmeras corporais e câmeras nas viaturas;
  • Existência e apresentação ao público de relatório detalhado da operação;
  • Informação clara sobre o respeito rigoroso ao período de entrada e saída dos estabelecimentos educacionais e indicação das razões concretas que pudessem excepcionar tal respeito;
  • Presença de ambulâncias;
  • Cumprimento das diretrizes constitucionais sobre buscas pessoais e domiciliares.

A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) informou, em nota, que acompanha “com extrema preocupação a escalada de violência provocada pela megaoperação”. 

A comissão informou que vai oficiar o Ministério Público e as polícias Civil e Militar cobrando explicações sobre as circunstâncias da ação, “que transformou novamente as favelas do Rio em cenário de guerra e barbárie”. 

Para a presidente da Comissão de Defesa dos Direitos Humanos e Cidadania, deputada Dani Monteiro (PSOL), “nenhuma política de segurança pode se sustentar sobre esse banho de sangue”. 

“O Estado não pode continuar tratando a vida de todas as vítimas como descartável, nem as favelas como território inimigo ou palco de espetáculo. É preciso garantir a proteção de moradores e policiais, priorizando direitos, inteligência e planejamento em vez de violência e terror”, afirmou a deputada.

Fonte: https://horadopovo.com.br/operacao-de-claudio-castro-ignora-inteligencia-e-faz-banho-de-sangue-no-rio/