12 de setembro de 2025
Pastor de Divinópolis (MG) ameaçou moradores de rua com "dois
Compartilhe:

Líder religioso diz que não distribui “sopa para não engordar vagabundos” – Foto: Reprodução

Durante uma audiência pública realizada em 4 de setembro de 2025 na Câmara Municipal de Divinópolis (MG), convocada para debater a situação das pessoas em situação de rua, o pastor Wilson Botelho, líder da comunidade terapêutica “Projeto Quero Viver”, fez declarações que provocaram forte polêmica e indignação. 

Ele afirmou que, em ações passadas, expulsava moradores de rua de praças com o apoio de “dez homens” e que recebia aval de um coronel da Polícia Militar para isso. Segundo ele, em uma dessas situações, ameaçou um morador com “dois tiros na cabeça” caso ele não saísse da praça. 

“Porque aqui, se você atravessar aquela ponte, amanhã às 4h da tarde eu vou fazer o seu sepultamento, é só eu dar a ligada aqui e você tomar dois tiros na cabeça”, teria dito. 

Wilson Botelho também criticou políticas de assistência social locais, dizendo que não distribuía “sopa” para moradores de rua para “não engordar vagabundos”. Ele argumentou que sua atuação era em “tirar viciados da rua” e que, nos três anos em que atuou dessa forma, nenhum dos que ele “tirava” eram de Divinópolis, implicando que eram migrantes ou pessoas de fora da cidade. 

A fala do pastor ocorreu no mesmo evento em que o prefeito Gleidson Azevedo (Novo) havia afirmado que cidades vizinhas estariam enviando pessoas em situação de rua para Divinópolis, e declarou que sua administração recusaria atendimento a essas pessoas vindas de fora. 

O vereador Vítor Costa (PT) manifestou repúdio às declarações do pastor. Ele classificou o discurso dele como “inadmissível”, “perverso e criminoso”, afirmando que ouvir um líder religioso e gestor de instituição incentivar violência contra pessoas vulneráveis é algo impensável. Ele também criticou o silêncio da secretária de Assistência Social, Juliana Coelho, que estava presente à audiência, dizendo que “esse tipo de postura é conivente com a exclusão e a violência contra a população em situação de rua”. 

A deputada estadual Lohanna França (PV) protocolou representação no Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e também nos Ministérios do Desenvolvimento Social e dos Direitos Humanos, pedindo investigação das falas do pastor, que foram consideradas “violentas, discriminatórias e ameaçadoras”. 

A Câmara Municipal de Divinópolis divulgou nota em que repudiou as declarações, chamando-as de “inaceitáveis, repugnantes e incompatíveis com os valores de uma sociedade democrática e com o dever de proteção à dignidade humana”. Na nota, o Legislativo afirmou ter solicitado às autoridades competentes “apuração dos fatos e a tomada das providências legais cabíveis, inclusive quanto a eventuais responsabilizações penais e administrativas”. 

Por outro lado, o pastor Wilson Botelho disse que atuava “como cidadão” quando fazia essas intervenções, alegando que a PM não poderia fazer esse tipo de abordagem, sob pena de, segundo ele, “perder a farda no outro dia”. Ele também enfatizou o apoio recebido de um coronel, embora não tenha identificado esse oficial. 

A audiência ocorreu em meio a tensão envolvendo o município e vizinhos: Gleidson Azevedo, prefeito de Divinópolis, denunciou que cidades vizinhas estariam “despejando” moradores de rua em Divinópolis, enviando pessoas em vulnerabilidade para o município. Isso motivou convocação da sessão da Câmara para discutir a situação da população de rua. 

As falas do pastor pode configurar o crime de ameaça e incitação à violência, o que motivou representação ao Ministério Público. O pastor poderá responder por esses atos, dependendo de apuração. Além disso, há pressão política para que autoridades municipais e estaduais se posicionem oficialmente e tomem providências administrativas sobre conivência ou omissão. 

Fonte: https://horadopovo.com.br/pastor-de-divinopolis-mg-ameacou-moradores-de-rua-com-dois-tiros-na-cabeca/