30 de setembro de 2025
PF investiga ligação de bebidas com metanol e crime organizado
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Inquérito apura cadeia de importação do produto químico e distribuição interestadual; Ministério da Saúde pede notificação imediata de casos suspeitos. Cinco mortes foram identificadas

Nesta terça-feira (30), o diretor-geral da Polícia Federal (PF), Andrei Rodrigues, informou que já foi instaurado inquérito policial para investigar as circunstâncias envolvendo os casos de intoxicação por metanol identificados no estado de São Paulo. Segundo ele, a corporação investiga, inclusive, a ligação da adulteração de bebidas alcoólicas com o crime organizado.

“Dentre as razões, a questão da interestadualidade [há indícios de distribuição fora do estado de São Paulo] e a possível conexão com investigações recentes que fizemos, especialmente no estado do Paraná, com outras duas de São Paulo, em razão de toda a cadeia de combustível, onde parte disso passa pela importação de metanol pelo Porto de Paranaguá”, explicou.

O diretor da PF disse que a investigação dirá se há conexão com o crime organizado baseado em operações anteriores, e que o trabalho será integrado com a Polícia Civil de São Paulo. 

“A gente vai buscar trabalhar de maneira integrada. São investigações que se complementam com investigações na parte administrativa, com investigação a cargo também da Polícia Civil de São Paulo”, disse.

O ministro da Saúde, Alexandre Padilha, disse nesta terça ter determinado a notificação imediata de novos casos suspeitos de intoxicação por metanol.

Desde o início de setembro, dez casos foram confirmados, incluindo três óbitos – todos no estado de São Paulo. As intoxicações foram reportadas após o consumo de bebidas contaminadas pelo produto, que é altamente tóxico para o ser humano.

“Essa notificação imediata é um canal direto com o que nós chamamos de Cievs [Centro Nacional de Informações Estratégicas em Vigilância em Saúde] em cada um dos estados. O ministério acompanha esse trabalho diariamente”, explicou.

“Para que a gente possa identificar mais rapidamente não só o que está acontecendo no estado de São Paulo, mas identificar isso em outros estados do país, algum tipo de crescimento e comportamento clínico e epidemiológico anormal que vai reforçar também as investigações da Polícia Federal e do Ministério da Justiça”, disse.

Em coletiva de imprensa ao lado do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, Padilha destacou que a notificação deve ser feita em qualquer caso de suspeita de intoxicação por metanol. “Não precisa aguardar o fechamento do diagnóstico para fazer a notificação”.

“Qualquer pessoa que procure um serviço de saúde relatando sinais e sintomas e que tem uma história de ingesta de bebida alcoólica, sobretudo de origem não conhecida. Não é uma coisa que ela comprou e abriu em casa, viu o lacre. Em geral, é em um ambiente comercial fora de casa, uma festa de outra pessoa, um ambiente de lazer. Já é um caso suspeito e já deve ser notificado.”

PROTOCOLO

Em nota, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), por meio do Comitê Técnico do Sistema de Alerta Rápido (SAR) do Governo Federal, emitiu um protocolo de ação diante de intoxicações por metanol. Veja a nota na íntegra: 

Em reunião extraordinária do Comitê Técnico do Sistema de Alerta Rápido (SAR) do Governo Federal, nesta segunda-feira (29), foi confirmado o décimo caso de intoxicação por metanol relacionado ao consumo de bebida alcoólica no estado de São Paulo. Até o final desta tarde, cinco óbitos foram oficialmente atestados pelo Laboratório de Toxicologia Analítica do CIATox-Campinas, com base na identificação de um novo padrão registrado desde o dia 1º de setembro.

A reunião, coordenada pela Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas (Senad/MJSP), do Ministério da Justiça e Segurança Pública, contou com a participação de diversas áreas do governo em um esforço conjunto para definir medidas imediatas.

No âmbito do MJSP, o SAR segue responsável pelo monitoramento e pela atualização de dados e a Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon/MJSP) emitirá um alerta aos Procons de todo o país, com orientações voltadas a fornecedores e consumidores sobre a segurança na comercialização e no consumo de bebidas alcoólicas.

O Ministério da Saúde monitora a situação junto ao estado de São Paulo, responsável pelo atendimento dos casos, e reforça que todas as unidades de saúde, em especial a rede de urgência e emergência, devem seguir o protocolo de notificação para casos suspeitos de intoxicação exógena.

O Ministério da Agricultura e Pecuária está levantando informações para adoção das medidas necessárias e avaliar eventuais ações de fiscalização.

Os casos apresentam padrão inédito e diverso aos que eram, até então, registrados. As ocorrências de intoxicação por metanol estavam, majoritariamente, associadas a pessoas em extrema vulnerabilidade ou população em situação de rua, ambos a partir de ingestão de álcool em postos de gasolina adulterados com a substância.

No entanto, a partir do início do mês de setembro, em um curto intervalo de tempo, os pacientes intoxicados apresentaram histórico de ingestão recente de bebidas alcoólicas destiladas em cenas sociais de consumo alcoólico, incluindo bares, e com diferentes tipos de bebida, como gin, whisky, vodka, entre outros.

Diante do caráter inédito da situação, o Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) ressalta a possibilidade de existirem casos ainda não notificados, que seguem sob investigação e aguardam confirmação laboratorial.

Participaram do encontro representantes do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP), do Ministério da Saúde (MS), do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), da Polícia Federal, da Anvisa, do Laboratório de Toxicologia Analítica do CIATox-Campinas, da Receita Federal, da Polícia Científica de São Paulo, do Instituto Médico Legal de São Paulo, do Núcleo de Toxicovigilância da Secretaria de Saúde do Estado de São Paulo, do Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime, além de representantes da sociedade civil.

Sobre a intoxicação por metanol

A intoxicação por metanol é uma emergência médica de extrema gravidade. A substância, quando ingerida, é metabolizada no organismo em produtos tóxicos (como formaldeído e ácido fórmico), que podem levar ao óbito.

Principais sintomas: visão turva ou perda de visão (podendo chegar à cegueira) e mal-estar generalizado (náuseas, vômitos, dores abdominais, sudorese).

Em caso de identificação dos sintomas, buscar imediatamente os serviços de emergência médica e contatar pelo menos uma das instituições a seguir:

Ligue para o Disque-Intoxicação da Anvisa: 0800 722 6001;

Ligue para o CIATox da sua cidade para orientação especializada (Contatos disponíveis em: https://www.gov.br/saude/pt-br/assuntos/saude-de-a-a-z/a/animais-peconhentos/ciatox);

Ligue para o Centro de Controle de Intoxicações de São Paulo (CCI): (11) 5012-5311 ou 0800-771-3733 – de qualquer lugar do país;

É importante identificar e orientar possíveis contatos que tenham consumido a mesma bebida, recomendando que procurem imediatamente um serviço de saúde para avaliação e tratamento adequado. A demora no atendimento e identificação da intoxicação aumenta a probabilidade do desfecho mais grave, com o óbito do paciente.

Ministério da Justiça e Segurança Pública

Fonte: https://horadopovo.com.br/pf-investiga-ligacao-de-bebidas-com-metanol-e-crime-organizado-em-sp-cinco-obitos-foram-identificados/