18 de setembro de 2025
Presidente do União Brasil é investigado pela PF como dono
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Antônio Rueda, presidente do União Brasil – Foto: Divulgação

Antonio Rueda negou ser dono dos jatos executivos utilizados por líderes do PCC que estão foragidos da Justiça

A Polícia Federal investiga o presidente nacional do União Brasil, Antonio Rueda, por suposta ligação com aeronaves utilizadas em operações de lavagem de dinheiro atribuídas ao Primeiro Comando da Capital (PCC). O inquérito mira a possibilidade de que jatos executivos que seriam da propriedade de Rueda tenham servido a integrantes da facção e a empresários que comandavam um esquema bilionário de fraudes no setor de combustíveis.

Segundo fontes da investigação da PF, os aviões aparecem registrados em nome de terceiros, fundos de investimento e empresas de fachada, mas seriam operados em benefício de um grupo que movimentou cerca de R$ 52 bilhões entre 2020 e 2024, com R$ 8,6 bilhões em tributos sonegados, segundo estimativas da Receita Federal. A suspeita é de que a rede de aviação tenha servido tanto para transportar pessoas como para movimentar valores em espécie.

Dois nomes centrais do esquema — Roberto Augusto Leme da Silva, o “Beto Louco”, e Mohamad Hussein Mourad, o “Primo” — estão foragidos da Justiça e foram alvos de operações conjuntas da PF, Receita e MPF. Ambos foram identificados como líderes de uma estrutura que envolvia mais de mil postos de combustíveis, fundos de investimentos sediados na Avenida Faria Lima e empresas de fachada.

Parte das aeronaves mencionadas pela PF foi vinculada a companhias como a Fênix Participações, controlada por nomes próximos ao meio político e jurídico; a Bariloche Participações S.A., administrada por fundos ligados ao banco Genial; e a Serveg Serviços, registrada em Imperatriz (MA) como criadora de bovinos, mas que acumula atividades de malote e limpeza em seu cadastro fiscal. Essas estruturas, segundo investigadores, indicam uso de laranjas e de fundos financeiros para ocultar patrimônio.

Entre os jatos sob suspeita estão:

  • Raytheon 390 Premier (PR-JRR), comprado em 2024 por US$ 2,3 milhões;
  • Gulfstream G200 (PS-MRL) e Citation Excel (PR-LPG), controlados pela Bariloche Participações;
  • CitationJet 2 (PT-FTC), em nome da Serveg.

Há ainda registros de que Rueda teria demonstrado interesse em um Gulfstream 550, modelo de luxo capaz de voar rotas intercontinentais, avaliado em mais de US$ 10 milhões. A aeronave esteve em Mykonos, na Grécia, no mesmo período em que Rueda comemorou seus 50 anos em agosto de 2025. O político, porém, afirma ter viajado em voo comercial da British Airways.

A empresa Táxi Aéreo Piracicaba (TAP), que ampliou sua frota de cinco para dez jatos em dois anos, está no centro das apurações. Oficialmente em nome da mãe do empresário Epaminondas Chenu Madeira, a companhia é citada em mensagens internas que mencionam diretamente “Beto” e “Moha”, em referência a Beto Louco e Primo. Documentos ainda apontam conexões da TAP com fundos investigados pelo MP-SP por lavagem de dinheiro ligada ao PCC.

DEPOIMENTO DO PILOTO

As investigações ganharam peso após o depoimento do piloto Mauro Caputti Mattosinho, de 38 anos, que trabalhou na TAP entre 2023 e 2025. Ele disse à PF e em entrevista gravada que Rueda figurava como um dos verdadeiros donos de quatro jatos da empresa.

“Havia um clima de ‘boom’ de crescimento na empresa. E isso foi justificado como sendo um grupo muito forte, encabeçado pelo Rueda, que vinha com muito dinheiro que precisava gastar. Então, a aquisição de várias aeronaves foi financiada”, afirmou Mattosinho.

O piloto relatou ter transportado Primo e Beto Louco em pelo menos 30 viagens, inclusive parentes do segundo para o Uruguai, na véspera da megaoperação da PF em agosto. Disse ainda que presenciou conversas sobre encontro de Beto Louco com o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e chegou a carregar uma sacola de papelão que aparentava conter dinheiro vivo. Ciro nega qualquer proximidade com o investigado e processou o veículo que publicou a denúncia.

Mattosinho acrescentou que, dentro da TAP, o presidente do União Brasil era tratado pelo apelido de “Ruedinha” e circulava como sócio em aeronaves desde 2023. Ele também revelou que Epaminondas, dono da empresa, e seus advogados mencionaram fundos de investimento como “blindagem” para proteger ativos do alcance das operações policiais.

RUEDA NEGA

Antonio Rueda nega todas as acusações. Em nota, disse que “repudia com veemência qualquer tentativa de vincular seu nome a pessoas investigadas ou envolvidas com a prática de algum ilícito”, alegou que “já voou em aeronaves particulares em voos fretados por ele ou como convidado”, mas que “nunca participou da compra das aeronaves” e que costuma viajar “em voos comerciais”.

O União Brasil também reagiu, afirmando que “não existem quaisquer relações de Rueda com os fatos”. “Tratam-se de ilações sem fundamento e totalmente desconectadas da realidade. A narrativa apresentada não tem o menor amparo fático”, afirma a nota.

O partido declarou ainda que Rueda “lamenta a leviandade” e tomará medidas jurídicas contra o que considera uma campanha difamatória.

Enquanto isso, a PF e o MPF avançam no rastreamento de fundos, aeronaves e conexões financeiras ligadas ao PCC.

Fonte: https://horadopovo.com.br/presidente-do-uniao-brasil-e-investigado-pela-pf-como-dono-de-avioes-ligados-ao-pcc/