São Paulo tem quase 150 mil pessoas em situação de rua; 99 mil na capital

A região Sudeste concentra a maior parte da população em situação de rua no Brasil, reunindo cerca de 60% do total registrado em outubro, segundo dados do Observatório Brasileiro de Políticas Públicas com População em Situação de Rua (OBPopRua), da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). 

O Estado de São Paulo ocupa a primeira posição no país, com 148.730 pessoas vivendo nessas condições – quase 100 mil apenas na capital (99.477). Em seguida, aparecem o Rio de Janeiro, com 33.081 pessoas, e Minas Gerais, com 32.685.

Em todo o país, o levantamento identificou 358.553 pessoas em situação de rua, a partir de informações do CadÚnico, sistema que reúne os registros de assistência social dos municípios. 

“Esse número tende ser ainda pior, já que pode estar subnotificado devido à baixa atualização cadastral no CadÚnico e ausência de contabilização dessa população no Censo do IBGE”, observou André Soler, diretor executivo e fundador da SP Invisível, entidade que atua no combate a invisibilidade dessa população na cidade São Paulo, ao comentar dados do Observatório referente a 2024. 

“Enquanto ainda faltam políticas públicas mais efetivas para mudar esse cenário, as ONGs fazem o que podem para levar dignidade a essa parcela da sociedade invisível para muitos. Além de entregar uma refeição saborosa, queremos que as pessoas se sintam acolhidas e possam ser ouvidas”, completou André durante a oferta de um café da manhã especial para vulneráveis por ocasião do aniversário da cidade SP no ano passado ao lado do padre Julio Lancellotti, da Pastoral do Povo de Rua. 

“Se por um lado é considerado o coração financeiro do Brasil e a cidade mais rica da América Latina, por outro, é o município brasileiro com maior número de pessoas vivendo nas ruas”, publicou a organização em sua página eletrônica. Em 2024, o levantamento do OBPopRua mostrou que 90 mil pessoas, aproximadamente, viviam em situação de rua na capital paulista, representando 23,5% do total do país.

Após o Sudeste, em 2025, os estados do Sul e do Nordeste apresentam números expressivos, ainda que menores em comparação. No Paraná, são 17.091 pessoas; na Bahia, 16.603; no Rio Grande do Sul, 15.906; no Ceará, 13.625; e em Santa Catarina, 11.805. Entre os estados do Norte, Roraima chama atenção por registrar 9.954 pessoas em situação de rua, número superior ao de unidades mais populosas, como o Distrito Federal, Pernambuco e Amazonas.

O caso de Roraima é considerado alarmante: em 2018, o estado tinha pouco mais de mil pessoas vivendo nas ruas, número que cresceu quase dez vezes em cinco anos. O aumento foi muito mais acentuado do que o observado no país – que passou de 138 mil para 358 mil pessoas – e também superior ao crescimento da população em situação de rua na cidade de São Paulo, que subiu de cerca de 39 mil para quase 100 mil no mesmo período.

Em nota, o Observatório afirmou que o cenário reflete o descumprimento dos direitos constitucionais e afeta principalmente pessoas negras em situação de vulnerabilidade. “O descumprimento da Constituição Federal de 1988 com as pessoas em situação de rua continua no Brasil, com pouquíssimos avanços na garantia de direitos dessa população, majoritariamente negra e historicamente tão vulnerabilizada no nosso país”.