
Em pleno Dia dos Professores, o secretário de Educação do Paraná, Roni Miranda, fez declarações cruéis e alarmantes ao admitir que professores da rede estadual estão indo trabalhar doentes para evitar descontos salariais. A fala ocorreu durante entrevista à rádio Jovem Pan News Curitiba, nesta quarta-feira (15), e escancarou a precarização da profissão no estado sob a gestão do governador Ratinho Júnior (PSD).
Segundo o secretário, a legislação atual, imposta por decreto do próprio governo, não permite distinguir o tipo de afastamento ou doença ao aplicar os cortes na GTE (Gratificação de Tecnologia e Ensino). A medida afeta diretamente profissionais que precisam se afastar por motivo de saúde – inclusive em casos graves, como tratamento de câncer – gestantes em licença maternidade e até em ausências justificadas por perícia médica.
“O nosso decreto acaba atendendo várias situações. É um bônus para quem está na ativa, trabalhando, dando expediente na escola. E a pessoa que não está acaba sendo afetada”. Segundo ele, “a legislação não tem como separar por CID [Classificação Internacional de Doenças]. Uma consulta no dentista, eu vou descontar. Uma consulta no oncologista, não tem como separar”, disse Roni Miranda.
Ainda na entrevista, ele afirmou que há “vários casos de professores que vão trabalhar doentes ou remarcam suas consultas em um horário em que não vai estar dando expediente, para que não haja prejuízo para os estudantes”.
ATAQUE À DIGNIDADE
As falas do secretário foram duramente criticadas pela APP-Sindicato, que representa os professores da rede estadual. Em nota de repúdio oficial, a entidade classificou as declarações como uma “confissão escandalosa” e um ataque direto à dignidade da categoria.
“A APP-Sindicato repudia com veemência as declarações do secretário da Educação do governador Ratinho Jr. (PSD), Roni Miranda, que iniciou o Dia do Professor, nesta quarta-feira (15), com uma entrevista escandalosa onde defendeu as medidas criadas em sua gestão para punir com redução no salário os(as) professores(as) que adoecem. O secretário também teve a coragem de confessar ter conhecimento de que, em decorrência das suas decisões, os(as) professores(as) estão indo trabalhar doentes”, diz trecho da nota.
A entidade relembra que em 2024 mais de 10 mil educadores da rede estadual foram afastados por problemas ligados à saúde mental, reflexo de um ambiente de trabalho marcado por assédio moral institucional, vigilância excessiva, metas inatingíveis e perda de autonomia pedagógica.
“Essas declarações do secretário Roni Miranda ocorrem poucos meses após duas professoras morrerem em sala de aula, na cidade de Curitiba, e viralizar na internet a imagem de um professor fazendo curso no leito do hospital porque a Secretaria da Educação exigia 100% de presença, não aceitava atestado médico e previa consequências para quem não participasse da formação”, continua o texto.
“Somado a tudo isso, também foram divulgados neste ano dados oficiais produzidos pelo governo mostrando que, em 2024, mais de 10 mil educadores(as) que atuam na rede estadual de ensino precisaram se afastar do trabalho para tratamento de problemas ligados à saúde mental”, critica a entidade.
O sindicato denunciou o governo ao Ministério Público do Trabalho (MPT), pedindo a abertura de investigação pelos descontos ilegais e violações de direitos trabalhistas, especialmente relacionados à GTE, que pode chegar a R$ 846,32 mensais. Em casos de afastamento superior a 15 dias – mesmo com laudo médico – , a gratificação é integralmente suspensa, o que resulta em perdas que, segundo o sindicato, ultrapassam R$ 2 mil para alguns docentes. “Cuidar da nossa saúde sem ser punido é um direito nosso”, reforçou Mazeto.
Gestão Ratinho Jr. e Roni Miranda falha em valorizar os professores. “Neste Dia do(a) Professor(a), a gestão Ratinho Jr. e Roni Miranda serve como péssimo exemplo para o Paraná e para o Brasil de como atuam gestores que não fazem absolutamente nada para respeitar e valorizar os(as) profissionais da educação […] Essa luta é justa, vai continuar, resistir e avançar”, reforça o sindicato.
Segundo Roni Miranda, o governo do Paraná seguirá ampliando os colégios cívico-militares e terceirizando escolas, medidas que revelam o absoluto descaso e a indiferença da gestão diante da grave crise na educação pública. Enquanto os professores adoecem e enfrentam condições de trabalho precárias, o governo prefere priorizar políticas que aprofundam a militarização e a privatização, ignorando as reais necessidades da categoria e da comunidade escolar.
Apesar dos cortes na GTE, o governo e deputados da base de Ratinho Júnior afirmam que os professores do Paraná têm salários “bons”. Em vez de reajustar a data-base, preferem pagar gratificações que não contam para a aposentadoria e podem ser suspensas a qualquer momento. Em agosto, o secretário das Cidades, Guto Silva, disse que ser professor no Paraná é “uma maravilha”.
Entre as “maravilhas” da profissão, o deputado Guto Silva deixou de mencionar problemas graves que afetam os professores, como os mais de 8 mil afastamentos por questões de saúde mental registrados em 2024, os sete anos consecutivos sem reposição da inflação, as cobranças para que os docentes utilizem as plataformas digitais, a falta de reajuste para aposentados e a escassez de vagas para ampliação de jornada.
Fonte: https://horadopovo.com.br/secretario-de-ratinho-jr-quer-que-professores-do-parana-trabalham-doentes-para-nao-perder-salario/