15 de agosto de 2025
“Não bateu a meta, tchau”
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Governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas e o secretário da Educação, Renato Feder – Foto: Reprodução

O secretário de Educação de São Paulo, Renato Feder, afirmou que diretores de escola e dirigentes regionais perderão os cargos que ocupam se não atingirem metas de desempenho estabelecidas pelo governo Tarcísio de Freitas (Republicanos). Segundo os sindicatos da Educação, cerca de 200 diretores já foram afastados no Estado.

“Se não subir [a nota da avaliação], tchau. Não bateu a meta, tchau. Eu posso adorar ele, mas se não subir é tchau”, disse em tom de deboche durante  entrevista na semana passada ao podcast Market Makers, que aborda assuntos sobre o mercado financeiro.

O secretário, sócio da empresa Multilaser e que trata a Educação dos milhões de estudantes de São Paulo como um “negócio”, disse que no início deste ano letivo já teria “demitido” 20 dos 91 dirigentes regionais (profissionais responsáveis por coordenar e supervisionar as escolas de uma determinada região) que não conseguiram atingir as metas estabelecidas.

“É muito simples, eu tenho 91 dirigentes regionais e eles têm uma meta mínima: subir 0,2 a cada ano. Se não subir, é tchau. Se ele subir, 0,1 ou empatar, ele tá demitido. Eu acabei de demitir 20. São caras que não entregaram resultado, são pessoas ótimas, mas que não entregaram e não faz sentido eu tê-las aqui”, disse.

A Secretaria de Educação afirmou que os 20 dirigentes ainda não foram demitidos, mas realocados para outras funções, como professor, diretor ou supervisor.

Segundo a pasta, as metas citadas pelo secretário são definidas com base nos resultados das escolas no Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), dados de frequência escolar e aprovação dos alunos e o desempenho em avaliações internas.

“O monitoramento é feito em tempo real por uma plataforma com informações detalhadas de cada escola, turma e aluno, disponíveis para toda a rede no Painel Escola Total, o que garante transparência e gestão com base em evidências”, explicou a secretaria.

Parte do desempenho avaliado por essas metas é o cumprimento do uso de aplicativos em sala de aula. Um estudo das universidades públicas de São Paulo identificou que a obrigatoriedade dessas ferramentas digitais não resultou em melhora do desempenho das escolas estaduais paulistas.

O assédio aos dirigentes escolares com metas irreais e punições descabidas não é algo novo.

Para a União Municipal dos Estudantes Secundaristas de São Paulo (UMES), a ameaça de Feder inaceitável. “A fala escancara a adoção de critérios empresariais na gestão da rede pública de ensino, tratando a educação como um negócio, e não como um direito. Em vez de discutir investimentos, melhorias na infraestrutura e valorização dos professores, a prioridade recai sobre números frios, ignorando os desafios estruturais enfrentados pelas escolas”, disse a entidade.

“Essa lógica de governo é um completo absurdo. Os aplicativos já se mostraram ineficientes, e insistir nesse erro é fechar os olhos para os problemas reais. Mas os estudantes paulistas estão bem organizados e mobilizados contra todos esses ataques à nossa educação. Nossa luta é por um ensino público, gratuito, de qualidade e com mais investimento!”, destacaram os estudantes.

PARA FEDER, BRASIL “GASTA MUITO COM EDUCAÇÃO”

Durante a entrevista, o secretário defendeu ainda que o Brasil “gasta muito dinheiro com educação”, mas não tem bons resultados educacionais por não ter mecanismos de responsabilização dos gestores.

“O Brasil investe R$ 350 bilhões ao ano na educação. O custo do aluno da escola pública no Brasil é de R$ 1.000 ao mês, o mesmo valor de uma escola particular na média. O professor da rede pública ganha mais do que na particular. Se você paga mais, investe parecido e o resultado é discrepante é porque na educação pública não há responsabilização”, defendeu.

O secretário ignora, contudo, que o gasto por aluno no Brasil é um dos menores entre os países chamados desenvolvidos e membros da OCDE.

O investimento público por aluno na educação básica brasileira varia, mas em média, o Brasil gasta cerca de R$ 12,5 mil por aluno por ano, enquanto países da OCDE investem cerca de R$ 66,5 mil. O valor investido por aluno no Brasil é consideravelmente menor em comparação com países desenvolvidos, especialmente no ensino fundamental e médio.

Segundo ele, a sua gestão estabeleceu um sistema de metas para cada escola e dirigente para que eles possam ser responsabilizados. “Eu apoio o diretor, com livro, material, formação, mas cobro resultado.”

“O diretor tem que entregar que os alunos estejam indo mais para a escola e aprendendo mais. Se não entregar, ele tem que ser responsabilizado”, afirmou.

Em janeiro de 2024, a secretaria publicou uma resolução em que estabeleceu dois critérios para avaliar o desempenho dos diretores escolares: os indicadores de utilização das plataformas e as notas obtidas em avaliações externas, como o Saresp.

Diretores que tiveram uma avaliação considerada ruim podem ser removidos para outra unidade, designados para outra função ou obrigados a fazer um curso de capacitação.

Sindicatos da categoria denunciam que dezenas de diretores têm sido afastados dos cargos em razão dessa avaliação, mas a secretaria nunca informou o número de profissionais que foram penalizados por não atingir a meta.

Fonte: https://horadopovo.com.br/secretario-de-tarcisio-ameaca-diretores-de-escolas-de-sp-nao-bateu-a-meta-tchau/