Enquanto Castro justificava a matança de 121 pessoas para “prender os líderes”, Victor Santos afirma que chacina serviu para “busca de informações
O secretário de Segurança Pública do Rio de Janeiro, Victor Santos, afirmou que a megaoperação policial realizada nos complexos da Penha e do Alemão — que deixou ao menos 121 mortos — não tinha como foco prender líderes do Comando Vermelho.
A declaração contrasta com o discurso inicial do governo Cláudio Castro (PL), que havia divulgado que a ação era destinada a capturar chefes da facção criminosa que domina a região. Segundo o secretário, “o foco nunca foi o criminoso”.
Em entrevista à Folha, Santos disse que a operação visava obter informações sobre o funcionamento da organização criminosa: “Tínhamos dois objetivos: o cumprimento de mandados de busca e apreensão e mandados de prisão.”
“Na busca e apreensão a gente busca informações interessantes para a investigação. Redes de wi-fi, acesso a arquivos de nuvem, mídia.”
O secretário ampliou seu argumento ao afirmar que o objetivo não era deter os nomes mais procurados da facção:
“A segurança pública no Rio sempre teve um foco que eu acho equivocado: olhar a criminalidade na figura do criminoso. Quem é o inimigo número um? É o Doca. O Doca é preso ou morto, entra o segundo. E entra o terceiro. Esse ciclo vai acontecer a vida inteira? Não.”
E reforçou: “Hoje o foco é o negócio. […] Então o foco nunca foi o criminoso. Eu quero os dados.”
O discurso contraria a narrativa oficial dada após a operação, quando o governo afirmou que a ação era resultado de um ano de investigação sobre lideranças do tráfico. Apesar disso, nenhum dos 121 mortos durante o confronto estava entre os nomes listados na denúncia que deu origem aos mandados da operação. O principal alvo anunciado, o traficante conhecido como Doca, não foi preso e segue foragido.
DADOS X PRISÕES
Ao justificar o novo foco, o secretário afirmou que a obtenção de equipamentos e informações seria mais eficaz para “asfixiar financeiramente” o Comando Vermelho do que a prisão de indivíduos específicos. Ele usou como exemplo o próprio esquema de venda de sinal clandestino de internet nas favelas:
“Se imaginar 280 mil pessoas, dividir a metade, 140 mil, pagando um plano básico de internet de R$ 100, temos R$ 14 milhões só de internet. Quanto de droga o criminoso tem de vender para faturar R$ 14 milhões?”
Mesmo com o recorde de mortos — número que ultrapassa a soma de várias operações policiais dos últimos anos e, até mesmo a morte de 4 policiais — o secretário voltou a classificar a ação como bem-sucedida:
“Para a gente foi um sucesso, porque quantos inocentes foram mortos?”
E reforçou que a letalidade é algo previsto nas ações: “A morte é o previsível, mas não desejado dentro do planejamento.”
Fonte: https://horadopovo.com.br/secretario-diz-agora-que-prender-chefes-do-comando-vermelho-nunca-foi-objetivo-da-operacao-no-rio/
