23 de agosto de 2025
sindicatos denunciam ameaça de Feder contra diretores de escolas de
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Chico Póli (UDEMO) e Fábio de Moraes (APEOESP) – Foto: Reprodução

Sindicatos denunciam clima de “terror” e “adoecimento” da rede; gestão de Renato Feder é acusada de privilegiar plataformas digitais de sua própria empresa e impor modelo empresarial às escolas

Em política marcada por autoritarismo e favorecimento de interesses privados, a Secretaria de Educação do governo Tarcísio de Freitas, em São Paulo, comandada por Renato Feder, instituiu um sistema de cobrança baseado em metas que prevê o afastamento sumário de diretores escolares. A medida, defendida publicamente pelo secretário em podcast voltado ao mercado financeiro, é denunciada por sindicatos da categoria como a peça central de um “projeto de desmonte” que gera intimidação, precariza o ensino e submete os profissionais a práticas antiéticas para mascarar a falta de infraestrutura e investimentos na rede pública.

Os presidentes do Sindicato de Especialistas de Educação do Magistério Oficial do Estado de São Paulo (Udemo), Francisco Antônio Poli, o Chico Poli, e do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), Fábio de Moraes, criticaram duramente a atuação do atual secretário da Educação do Estado de São Paulo. 

Segundo Chico Poli, Renato Feder, que vem do setor privado e não tem histórico na educação pública, assumiu a pasta como resultado de um acordo político envolvendo o governador do Paraná, Ratinho Jr., e o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas. Ainda antes de assumir oficialmente, denuncia Chico, Feder já teria firmado um contrato de R$ 200 milhões, sem licitação, com a Secretaria da Educação, para o fornecimento de plataformas digitais de sua própria empresa.

“Ele é um empresário e faz questão de deixar isso claro. O cargo está sendo usado para promover uma política de vendas, não de educação”, denunciou o sindicalista. Essas plataformas, segundo ele, foram impostas à rede estadual, substituindo os materiais didáticos tradicionais e ignorando a falta de infraestrutura nas escolas. A tentativa de eliminar os livros físicos gerou forte reação de professores e até do Ministério Público.

“É um modelo ineficaz, cheio de erros, e incompatível com a realidade das escolas. Países que tentaram esse tipo de plataforma já abandonaram há anos, como a Finlândia, por exemplo”, alertou. Essa “plataformização” forçada, segundo Poli, aprofundou a precarização do trabalho docente e prejudicou o aprendizado dos estudantes. 

“As escolas não têm condições adequadas, os professores não foram capacitados e os alunos, em muitos casos, não têm acesso a equipamentos ou internet. Ainda assim, os profissionais são cobrados como se tudo estivesse funcionando perfeitamente”, afirmou.

CONDUTA AUTORITÁRIA

Por sua vez, Fábio de Moraes, presidente da Apeoesp, que também é contrário à digitalização do ensino em SP, aponta que o governo paulista tem um longo passivo com a educação. “O governo estadual tem uma dívida histórica com a educação pública, que se expressa no não pagamento do piso salarial nacional para muitos professores, no confisco de parte dos salários de aposentados, no atendimento precário pelo IAMSPE, e na falta de infraestrutura básica nas escolas”.

Ele também denuncia a conduta autoritária do subordinado de Tarcísio. “Em vez de apresentar soluções, o secretário opta por um discurso de intimidação, especialmente contra diretores e gestores escolares. Essa postura afeta toda a comunidade: professores, funcionários e alunos”. “A rede está adoecida. O governo precisa olhar com responsabilidade e respeito para os profissionais que mantêm viva a educação pública de São Paulo todos os dias”, defende Fábio.

SISTEMA DE TERROR

Chico Poli reitera que “a atual gestão implantou um clima de medo e punição na rede”. “É um sistema de terror. Se os alunos não usam as plataformas ou têm baixo desempenho, a culpa é do diretor, que é afastado. E o próximo (diretor) chega sem nenhuma melhoria.”

Em entrevista em 5 de agosto ao podcast Market Makers voltado ao mercado financeiro, o secretário afirmou que diretores e dirigentes de ensino que não atingirem as metas impostas pela Gestão Tarcísio serão afastados se seus cargos. Se não subir [a nota da avaliação], tchau. Não bateu a meta, tchau. Eu posso adorar ele, mas se não subir, é tchau”.

A pressão exercida pela dupla Tarcísio/Feder acaba submetendo os profissionais a situações incompatíveis com a ética e a prática pedagógica. “Dirigentes pedem para não lançar faltas ou fingir que alunos fizeram atividades. Professores são instruídos a usar a aula para ajudar em lições de casa. Isso é um contrassenso completo”, denuncia o presidente da Udemo. 

Ele também critica o uso de premiações e metas com viés empresarial — como bônus por desempenho e medalhas —, adotada pelo governo e diz que a política educacional em SP virou peça de marketing. “Distribuem medalhas, criam o Provão Paulista, fazem parcerias com empresas privadas, mas tudo isso atinge só uma pequena parte dos alunos. A maioria continua sem acesso à educação de qualidade”. 

“Educação não é linha de produção. Esse modelo trata a escola como uma empresa. Quem bate meta ganha bônus. Mas o que se precisa é de conteúdo, estrutura e valorização profissional”, enfatizou.

“PELA PRIMEIRA VEZ, VI UM SECRETÁRIO PEDIR MENOS VERBA”

O dirigente sindical critica ainda o corte de R$ 11 bilhões do orçamento da pasta, com a anuência de Feder. “Pela primeira vez, vi um secretário pedir menos verba para sua própria pasta. Mas o dinheiro para os produtos da empresa dele já estava garantido”. Enquanto isso, “as escolas estão caindo aos pedaços. Sem banheiro, sem água potável, sem internet”, denuncia. “Nunca vimos uma situação como essa. É um ataque direto à escola pública e aos alunos mais pobres. Eles estão sendo privados do direito ao conhecimento”, conclui Chico Poli.

Melhorar a educação pública depende de valorização profissional, infraestrutura escolar e gestão democrática. “É por meio da valorização dos profissionais da educação, da garantia de estrutura nas escolas e do fortalecimento de um projeto político-pedagógico democrático que poderemos, de fato, melhorar a qualidade da educação pública e os índices educacionais do estado”, finaliza Fábio de Moraes.

JOSI SOUSA

Fonte: https://horadopovo.com.br/sistema-de-terror-sindicatos-denunciam-ameaca-de-feder-contra-diretores-de-escolas-de-sp/