
Maioria dos profissionais do Mais Médicos atualmente é brasileira – Foto: Jeronimo Gonzales/MS
Ministro denuncia ‘ato covarde’ e acusa bolsonaristas de orquestrar perseguição; governo americano insiste em ligar programa a ‘trabalho forçado cubano’
O governo de Donald Trump decidiu revogar os vistos de entrada nos Estados Unidos da esposa e da filha do ministro da Saúde, Alexandre Padilha, em mais um movimento de retaliação contra autoridades brasileiras. Embora o ministro não tenha sido diretamente afetado — já que seu visto venceu em 2024 —, ele está agora impedido de solicitar um novo.
A medida foi anunciada apenas dois dias após Washington revogar vistos de brasileiros envolvidos na criação do programa “Mais Médicos pelo Brasil”, iniciativa lançada em 2013 para suprir a carência de profissionais em regiões periféricas e remotas. Na época, mais de 11 mil médicos cubanos chegaram a integrar o programa, o que passou a ser alvo de ataques da direita norte-americana.
O ministro Padilha classificou a decisão como injustificável: “Estou absolutamente indignado. É um ato covarde que atinge uma criança de dez anos de idade, que atinge a minha esposa”. Ele responsabilizou diretamente o grupo bolsonarista pela pressão sobre o governo dos EUA: “E as pessoas que fazem isso, o clã Bolsonaro, que orquestra isso, têm que explicar, não para mim, para o mundo todo, qual o risco que uma criança de dez anos de idade pode ter para o governo americano”.
A crítica do ministro se refere à atuação do deputado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), que desde fevereiro vive nos EUA e vem articulando com Trump medidas de retaliação contra autoridades brasileiras, em resposta ao processo criminal que envolve seu pai no Supremo Tribunal Federal (STF).
MAIS MÉDICOS SOB ATAQUE
Ao recordar a criação do programa, Padilha ressaltou que, em 2013, médicos cubanos estavam presentes em mais de 60 países — “inclusive na Itália”, citou, destacando a incoerência da política americana, já que outros governos próximos a Trump seguem recebendo esses profissionais sem sofrer sanções.
O ministro também frisou que hoje o Mais Médicos funciona majoritariamente com profissionais brasileiros. Atualmente, são 28 mil médicos atuando em áreas vulneráveis, o que ele definiu como o “maior programa de provimento médico do mundo”.
Mesmo assim, os EUA continuam tratando a iniciativa como parte do “esquema de exportação de trabalho forçado do regime cubano”. O secretário de Estado, Marco Rubio, justificou as sanções dizendo que figuras como Mozart Julio Tabosa Sales — secretário de Atenção Especializada à Saúde — e Alberto Kleiman — coordenador-geral para a COP30 na Organização do Tratado de Cooperação Amazônica — teriam se beneficiado da parceria com Cuba.
O comunicado acusou os envolvidos de enriquecer o “corrupto regime cubano” e de privar os próprios cubanos de atendimento médico. A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) também foi citada como intermediária do programa, supostamente driblando sanções americanas contra Havana.
Mozart Sales reagiu em suas redes sociais, afirmando que a decisão é arbitrária: “Essa sanção injusta não tira minha certeza de que o Mais Médicos é um programa que defende a vida e representa a essência do SUS, o maior sistema público de saúde do mundo – universal, integral e gratuito”.
Fonte: https://horadopovo.com.br/trump-ataca-mais-medicos-e-revoga-vistos-de-familia-de-padilha-e-coordenadores-do-programa/