20 de junho de 2025
Aos 91 anos, o astro Francisco Cuoco sai de cena
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Morreu, ontem, o ator Francisco Cuoco, aos 91 anos. O artista estava internado no hospital Albert Einstein, em São Paulo, há cerca de 20 dias. Ele estava sedado e sofria complicações de saúde causadas por um ferimento infeccionado. A idade e o excesso de peso também foram um agravante do quadro — o paulista pesava cerca de 130 quilos, tinha problemas de locomoção e precisava de auxílio de cuidadores para executar atividades básicas do dia a dia. Segundo um comunicado da assessoria, a causa da morte foi falência múltipla dos órgãos. Ele deixa três filhos.

Nascido em 1933, no bairro do Brás, em São Paulo, Cuoco trabalhou como feirante ainda na juventude, ajudando o pai. Apesar de sonhar em ser advogado na época, a vocação artística falou mais alto. Inspirado pelos espetáculos circenses que prestigiava quando criança, o paulista entrou, no início dos anos 1950, para a Escola de Arte Dramática, hoje ligada à Universidade de São Paulo (USP), e estreou profissionalmente no teatro no fim da década, em 1958.

O ator dividiu os palcos da peça A muito curiosa história da virtuosa matrona de Éfeso com Fernanda Montenegro, Nathalia Timberg e Sérgio Britto. Na obra, Cuoco fazia o papel de um gladiador que entrava morto em cena, portanto, não tinha falas. No ano seguinte, ele acompanhou Fernanda e Britto na formação do Teatro dos Sete, companhia que também contava com a participação do diretor Gianni Ratto e do ator Ítalo Rossi.

A estreia nas telenovelas veio só em 1964, em Marcados pelo amor, de Walther Negrão e Roberto Freire, na TV Record. Em 1966, protagonizou a novela Redenção, de Raimundo Lopes, e, dois anos depois, fez, pela primeira vez, par romântico com a então “namoradinha do Brasil”, Regina Duarte, em Legião dos esquecidos, na TV Excelsior. Sucesso entre o público, os atores formaram casal em outras tramas, como, por exemplo, Selva de pedra, em 1972, um dos principais sucessos da Rede Globo. A partir daí, tornou-se um dos maiores galãs da televisão brasileira.

O artista de voz inconfundível e olhar sedutor foi responsável por dar vida a outros personagens marcantes da dramaturgia brasileira, como Carlão, taxista de Pecado capital, de 1975, e o charlatão Herculano de O astro, de 1977, que ganhou nova versão em 2011. Nela, o ator, já com 77 anos, assumiu um papel secundário na trama. O último trabalho de Cuoco nas telenovelas foi em Segundo Sol, de 2018, além de uma breve participação em Salve-se quem puder, em 2022.

Nas telonas, Cuoco estreou em 1965, com o filme Grande sertão, e estrelou filmes como Gêmeas (1999), A partilha (2001), Cafundó (2005) e Real beleza (2015). Ainda no meio artístico, ele se aventurou como cantor e gravou dois discos: o romântico Soledad e o religioso Paz interior, com 16 orações católicas.

Tributo

No início deste mês, Cuoco recebeu uma homenagem especial no programa Tributo, da TV Globo, com um episódio dedicado exclusivamente à carreira do eterno galã. As gravações foram realizadas em julho do ano passado, com participação do próprio artista, que não estava tão debilitado à época. A emissora exibiu o especial ontem à noite.

Ao Correio, o consultor e doutor em teledramaturgia pela Universidade de São Paulo (USP) Mauro Alencar, autor de A Hollywood Brasileira — Panorama da Telenovela no Brasil, entre outros títulos, declarou que Francisco Cuoco — de quem se tornou amigo pessoal a partir da amizade antiga com a irmã do ator, Gracia — foi o pilar fundamental para a construção da telenovela no Brasil.

“Talento, vocação e paixão pelo ofício de ator em uma época de grande preconceito pela carreira artística. A sua dedicação e a composição primorosa de tipos populares, em especial escritos por Janete Clair, o tornaram um astro de primeira grandeza e contribuíram para a profissionalização da carreira de ator, em 1978”, afirmou o especialista, destacando personagens emblemáticos como o taxista Carlão e o extraordinário Herculano Quintanilha, dentre tantas figuras marcantes que passaram pela pele do artista.

Em depoimento à reportagem, a autora de novelas Rosane Svartman lamentou nunca ter trabalhado com o ator. “Francisco Cuoco entrou na pele de tantos personagens icônicos que seu nome é também sinônimo de teledramaturgia e televisão. Já rimos, choramos e nos apaixonamos com ele”, afirmou a criadora de Dona de mim, no ar atualmente.

Repercussão

Nas redes sociais, grandes nomes da indústria cultural lamentaram a morte do ator. “Recebo com tristeza a notícia da partida de Francisco Cuoco”, declarou a ministra da Cultura, Margareth Menezes, nas redes sociais. “Um gigante da nossa teledramaturgia, dono de uma carreira linda e memorável. Um artista que nos marcou com seu talento e carisma”, escreveu a cantora.

“Nos deixou hoje um dos maiores atores da nossa televisão”, lamentou o dramaturgo Walcyr Carrasco. “Francisco Cuoco foi um ícone, um artista que inspirou gerações e levou emoção a milhões de lares. Fica a saudade e a eterna admiração”, completou. Em 2013, o ator participou de Amor à vida, novela de Carrasco.

Amiga do eterno O semideus desde a década de 1960, Nathalia Timberg relembrou a trajetória do artista. “Hoje, perdemos um grande ator dos palcos e das telas: Francisco Cuoco. Ele começou no TBC (Teatro Brasileiro de Comédia) e posteriormente fez parte do Teatro dos Sete, companhia teatral de Fernanda Montenegro e Fernando Torres. Depois, passou pelos teleteatros (que resgatamos na segunda e terceira fotos), chegando à televisão, onde ficou eternizado durante gerações”, publicou a atriz veterana.

Colega do ator paulista em O outro, de 1987, Miguel Falabella também reagiu à notícia: “Foi-se Francisco Cuoco, cai o pano para este ator que habitou o imaginário de todos nós por tantos anos. Por trás da lendária figura do eterno galã, havia um homem sensível, um colega engraçado e espirituoso e um profissional de primeira. Demos muitas gargalhadas juntos. Vai deixar saudade”.

Intérprete da filha do artista na mesma novela, Beth Goulart destacou que o papel duplo na trama de Aguinaldo Silva “é um testemunho de sua versatilidade e dedicação à arte”.

O galã das novelas

Marcados pelo amor (1964)

No papel de Victor, Cuoco fez par romântico com Miriam Mehler, que vive Lisa, uma mulher que não consegue confiar nos homens e é ameaçada pela meia-irmã, que tenta roubar-lhe o marido.

Redenção (1966)

Como Fernando, um forasteiro na vila de Redenção, Cuoco tem uma legião de apaixonadas. Fernanda Montenegro está no elenco da produção que teve 596 capítulos.

Legião dos esquecidos (1968)

Primeiro par romântico com Regina Duarte, a novela foi importante para transformar o ator em galã da tevê brasileira.

Selva de pedra (1972)

Cuoco vive Cristiano Vilhena, filho de um pastor que se envolve em um acidente com uma arma e é acobertado por Simone, vivida por Regina Duarte, por quem se apaixona. É a segunda vez que faz par romântico com a atriz.

Pecado capital (1975)

O taxista Carlão precisa decidir se entrega ou não à polícia uma mala de dinheiro esquecida no seu carro. É um personagem icônico do ator, destaque em um elenco que tem Betty Faria, Lima Duarte, Rosamaria Murtinho e Marco Nanini.

Saramandaia (1976)

Escrita por Dias Gomes e ambientada na zona canavieira de Pernambuco, a novela é um clássico da televisão brasileira, com Juca de Oliveira, Sônia Braga, Dina Sfat, Ary Fontoura, Yoná Magalhães e Antônio Fagundes. Cuoco participa de um episódio.

O astro (1977)

Cuoco é Herculano Quintanilha nesse clássico de Janete Clair, um charlatão que abandona a família e se infiltra no clã milionário da família Hayalla.

O outro (1987)

O ator foi elogiado por viver dois papéis, o de um empresário e o de seu sósia. Como cada um desconhecia a existência do outro, a novela de Aguinaldo Silva é construída em cima da tensão do encontro.

O salvador da pátria (1989)

Outro clássico dos anos 1980, com texto de Lauro César Muniz, conta a história de Sassá Mutema, em interpretação icônica de Lima Duarte, um boia-fria usado pelo deputado Severo Toledo, vivido por Cuoco, para acobertar um adultério. O elenco de peso tem ainda José Wilker, Maitê Proença e Susana Vieira.

A próxima vítima (1995)

O ator fez uma pequena participação na trama conduzida por José Wilker no papel do mau-caráter Marcelo.

Segundo Sol (2018)

No último trabalho completo na tevê, Cuoco vive Nestor, o pai dos vilões vividos por Adriana Esteves e Vladimir Brichta. Ele contracena com Arlete Salles e Renata Sorrah.

Fonte: Correio Braziliense

Fonte: https://oimparcial.com.br/luto/2025/06/aos-91-anos-o-astro-francisco-cuoco-sai-de-cena/