22 de setembro de 2025
Bairro de Fátima: bairro com cultura popular mais forte
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A história da origem do Bairro de Fátima é muito controversa. A primeira é a de que havia uma porto no Rio das Bicas, braço do Rio Bacanga, onde era desembarcada grande quantidade de madeira vinda, por via marítima, do interior do estado, e ali mesmo beneficiada, produzindo grande quantidade de cavacos. Estes eram recolhidos pelos moradores dos arredores que os utilizavam para produção de carvão que consumiam no cozimento dos seus alimentos. Então, esses moradores passaram a chamar o lugar Bairro do Cavaco.

A outra versão é que, com a derrubada de uma grande árvore existente na região do Bom Milagre, que era a entrada da localidade à época, gerou grande quantidade de cavacos, o que teria levado a população a denominá-la de Bairro do Cavaco.

Em 1952, vinda de Portugal, esteve aqui em São Luís a imagem peregrina de Nossa Senhora de Fátima, cuja presença na capital, motivou a mudança para Bairro de Nossa Senhora de Fátima, visto que já havia uma igreja construída pela comunidade, dedicada à santa. A população adotou a denominação de Bairro de Nossa Senhora de Fátima ou simplesmente Bairro de Fátima.

Outra versão da história

Consta que a professora/ doutora Heloisa Reis Curvelo, do Departamento de Letras da Universidade Federal do Maranhão, em pesquisas realizadas, constatou que a história da localidade figura no cenário ludovicense na segunda metade do século XIX com o Sítio Cavaco, propriedade de José Maria Henriques Curvelo. Todavia esse topônimo, de 1863 à atualidade, sofreu mais duas denominações antes de chegar ao Bairro de Fátima: Sítio Nova Olinda e Fazenda Estadual.

Esses três topônimos que a localidade teve em toda sua existência, foram substituídos porque os Sítios Nova Olinda e Cavaco, ao mudarem de donos mudaram também de denominações. No entanto, o topônimo Fazenda Estadual não teve vida longa porque não satisfez aos objetivos para os quais fora pensado.

Um dos bairros mais antigos da capital

O Bairro de Fátima é um dos bairros mais antigos da capital, situado próximo ao antigo Caminho Grande, atual Avenida Getúlio Vargas e João Pessoa. Segundo o Memorial de Ação Reivindicatória, publicado no Diário do Maranhão (27/07/1908), o Sítio Cavaco já existia desde 1863, época em que José de Souza Gayoso e Francisco Gomes de Souza tomaram por aforamento à Câmara Municipal, conforme o termo respectivo, lavrado em 30 de março de 1863, um terreno ao Caminho Grande, com uma área de cem braças quadradas, contendo duzentas braças de frente e cem de fundo, além das terras adjacentes, confrontando com os sítios João Paulo, Cavaco, Teixeira e outros (Diário do Maranhão, 27/07/1908).

Além de ser denominado com o sobrenome de seu proprietário, a localidade também foi conhecida como Sítio Nova Olinda que, segundo o Governo do Estado do Maranhão (Portaria de 27/04/1903), era uma propriedade de Raimundo de Carvalho Palhano, adquirida pelo Estado para a construção de um hospital que não chegou a ser edificado.

O Vice-Governador do Estado, usando da autorização que lhe confere o art. 6º da Lei nº 336 de 7 do corrente, resolve abrir o crédito da quantia de Rs 9:500$000 para ser aplicado a compra de uma propriedade com casa, sob a denominação de “Nova Olinda” vulgarmente conhecida por “Cavaco” sita no “Caminho Grande”, pertencente ao Senhor Raimundo de Carvalho Palhano, afim de ser ali instalado um hospital para tratamento de variolosos.

Castro (17/07/13) afirma que o Sítio Nova Olinda foi comprado para esse fim, porém, não construíram o hospital, mas, uma fazenda que “foi levada prá lá pelo Presidente da Província do Maranhão, com gado, veterinários e toda a estrutura de fazenda, que era conhecida como a Fazenda Real, que deu origem ao bairro que conhecemos hoje”.

A fazenda da qual tratam CZS (17/07/13) vai figurar como área de referência toponímica 32 anos depois de comprado o Sítio Nova Olinda. No Edital nº 15, de 26/04/1935, que notificava os interessados no lançamento das casas de palha e de telha, situadas no subúrbio de São Luís, o Lugar Fazenda Estadual é citado como uma das localidades em que encontravam-se esses tipos de moradias, contudo, não informava o referido documento quantas casas de cada tipo estariam disponíveis para aquisição por compra ou aluguel.

Em 1939, três anos depois de publicado o Edital nº 15, o lugar conhecido popularmente como Sítio Cavaco ou Fazenda Estadual, era classificado, pela Lei Municipal nº 413 de 24/11/1928, como Bairro Proletariado por ter mais de 50 casas habitadas. Devido a essa característica, o Cavaco, segundo noticiava o Diário Oficial do Estado de 1º/03/1939, estava incluído entre as localidades da Capital que começariam a pagar impostos tanto o Predial (atual IPTU) quanto a Taxa de Limpeza Pública, pagos por todas as casas situadas nos Bairros Proletariados, no primeiro semestre de 1939.

A cobrança de Imposto Predial poderia ser boa para os moradores das localidades porque, entre outras vantagens, regulamentava a denominação das ruas, facilitando a localização de endereços, propiciava acesso a serviços públicos essenciais como a higienização das ruas, mas em alguns casos, servia como forma discriminatória já que os bairros eram classificados como zonas suburbanas e de moradias proletariadas, evidenciando a clara divisão socioeconômica entre Centro (Cidade) e periferia (Vilas ou bairros Operários) e entre população rica e pobre.

Mesmo que o topônimo oficial Fazenda Real não fosse tão difundido em detrimento de Cavaco, este foi alterado, conforme Diário Oficial (20/02/1954, p. 03), para Bairro Nossa Senhora de Fátima pela Lei Municipal nº 408, de 07/10/1953, o que possibilitou o surgimento do Dirrematopônimo Bairro de Fátima, confirmando, assim, a forte tendência em homenagear santos do hagiológico romano e de perpetuar o credo da religião Católica, já evidenciado, por exemplo, nos topônimos Desterro, Madre Deus, Santa Efigênia, Santa Rosa, São Bernardo, São Francisco, São Marcos e Vila Passos.

Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2025/09/bairro-de-fatima-bairro-com-cultura-popular-mais-forte/