Centrão reage a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro e ameaça isolá-lo na disputa presidencial

Lideranças do centrão avaliam, nos bastidores, que a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro (PL-RJ) à Presidência deve perder força nos próximos meses — e rejeitam qualquer negociação que envolva anistia ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) como condição para retirada do nome do senador da disputa. A sinalização interna é que não há ambiente político no Congresso para avançar com um projeto de perdão.

A movimentação ocorre após Flávio afirmar que só abriria mão da candidatura caso seu pai recuperasse os direitos políticos, declaração que soou como pressão sobre aliados e contrariou partidos que integram o bloco.

Tarcísio segue como preferência do grupo

A articulação do centrão permanece voltada ao nome de Tarcísio de Freitas (Republicanos), governador de São Paulo, considerado pelo grupo como o candidato de direita com maior capacidade de coalizão. A leitura de dirigentes partidários é que pesquisas eleitorais previstas para as próximas semanas devem ampliar essa diferença e esvaziar a pré-candidatura de Flávio Bolsonaro.

Sem unidade, partidos como PP, União Brasil e Republicanos admitem que podem liberar suas bases estaduais caso o senador insista em levar a candidatura adiante.

Resistência a anistia amplia o impasse

A discussão sobre anistia a Jair Bolsonaro e aos condenados pelos ataques de 8 de janeiro, que já dominou a pauta da Câmara, perdeu força. A proposta em debate atualmente prevê apenas uma redução de penas, e não o perdão total.

O relator, deputado Paulinho da Força (Solidariedade-SP), disse que a pressão pública de Flávio não altera a condução do texto. “No meu relatório não tem anistia. Anistia zero. O que tem é redução de penas”, afirmou.

A votação depende de um acordo para evitar que bolsonaristas tentem ampliar o benefício durante a deliberação. Sem consenso, o projeto segue parado.

Risco de fragmentação na direita

Apesar de reconhecer o potencial eleitoral do bolsonarismo para impulsionar candidaturas, integrantes do centrão afirmam que Flávio Bolsonaro encontra dificuldade para atrair setores moderados, especialmente por carregar a rejeição relacionada ao seu pai.

No cenário interno, Tarcísio desponta como figura mais competitiva. A leitura é reforçada por pesquisa Datafolha divulgada no último sábado (6), na qual o governador aparece melhor posicionado em um eventual segundo turno contra Lula (PT) do que Flávio.

Aliados de Tarcísio também descartam qualquer articulação dele para retomar o debate da anistia — algo que, lembram, já enfrentou forte resistência quando o ambiente político era mais favorável ao ex-presidente.

Debate segue imprevisível

Parlamentares reconhecem que o bolsonarismo costuma mobilizar a base de forma inesperada e que esse fator ainda pode influenciar a disputa interna da direita. Mas, por ora, o centrão avalia que não há motivo para ceder a pressões e que o tema da anistia não retornará à pauta sem sinalização das cúpulas da Câmara e do Senado.