26 de junho de 2025
César Nascimento: “Pinte seu quintal e seja universal”
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O músico, cantor e compositor César Nascimento, conhecido por sua forte ligação com a cultura do Maranhão, nasceu em Teresina (PI), mas como ele mesmo diz, “foi concebido e criado em Caxias (MA)”, por isso se considera maranhense de alma e música. Em entrevista, o artista fala sobre a carreira, as parcerias, a ligação com a música maranhense, dentre outros assuntos.

Autor de canções como “Ilha Magnética”, considerada um hino popular de São Luís e eleita como “Bem Cultural do Estado do Maranhão”, ele é compositor de outras obras como: “O Radinho”, “Maguinha do Sá Viana” (em parceria com Alê Muniz), “Serenin” (em parceria com Vicente Telles), “Janela Aberta” e “Reggae Sanfonado”.

Com 15 álbuns gravados, César Nascimento é conhecido por sua pesquisa e difusão de ritmos tradicionais do Maranhão, como o Tambor de Crioula. Um trabalho que vai além das composições. Ele ministra oficinas sobre esses ritmos, como a “Crivador, matraca e pandeirão – uma viagem pelos ritmos do Maranhão”.

Já foi homenageado com um boneco gigante no Carnaval de Olinda (PE) e também pelo Projeto Ilha Sinfônica, quando lançou a sua Valsa Ludovicense.

César Nascimento tem uma longa carreira na música, com reconhecimento por sua contribuição à cultura maranhense e sua música é influenciada por diversos gêneros, incluindo ritmos regionais do Maranhão, reggae e outros estilos.

Atualmente, César está em estúdio gravando seu novo álbum “Luz do Cometa”.

ENTREVISTA

O IMPARCIAL – César, o Ray Charles afirmava sempre: “A música é poderosa. Enquanto as pessoas a ouvem, podem ser afetadas. As pessoas respondem”. Ray Charles tinha razão? Como o César Nascimento vive e sente a música?

César Nascimento – Vivo a música intensamente, como músico, compositor, arranjador, ouvinte. Enfim, a música pra mim é alimento da alma, é, sob a ótica física, espaço-tempo é vida!

OIMP – Como você analisa o cenário da Música Popular Brasileira? E da Música do Maranhão? A música feita por você e outros grandes compositores maranhenses tem realmente uma beleza e uma profundidade que refletem a alma do nosso povo?

Transformações na música popular

CN – Estamos vivendo um momento histórico de grandes mudanças. Estamos atravessando uma revolução tecnológica que está afetando o mundo inteiro. Ao mesmo tempo em que o dinheiro se concentra mais na mão de poucos, a tecnologia permite que as formas de se produzir conteúdo se espalhe, mais democraticamente, pelos rincões de todo o país. Portanto, ao mesmo tempo em que vemos dois ou três gêneros musicais sendo mais ouvidos pela grande massa, percebemos, também, uma crescente produção e divulgação em bolhas culturais. É desta forma que vejo o cenário brasileiro se apresentando na atualidade. A música do Maranhão também se encaixa nessa ótica. Contudo, vejo a cultura do Maranhão como uma cultura que sofreu pouca influência da cultura de massa. Sendo assim, conseguimos ouvir pérolas de criatividade influenciadas pela singularidade cultural existente no lugar. Posso falar que minha música é 99% inspirada nas coisas da nossa região. Talvez daí, um tanto da nossa gente se identificar com o que faço. Tipo músicas como Maguinha do Sá Viana (César Nascimento/ Alê Muniz), Ilha Magnética, O Radinho, Reggae Sanfonado. Todas elas têm, de alguma forma, ligação com nossa identidade cultural.

OIMP – O tambor de crioula do Maranhão é uma expressão cultural afro-brasileira que envolve música, dança e canto, especialmente em celebrações religiosas e sociais. Como a cultura africana atravessa a produção musical do César Nascimento? Você é um compositor universal com os dois pés no quilombo?

CN – Tem uma frase “pinte seu quintal e seja universal”, que me acompanha em todos os momentos em que estou criando. Sou feliz e orgulhoso por minha música ser fortemente influenciada pela rica cultura musical do Maranhão. Daí, todo o seu leque musical, que vai do Tambor de Crioula ao Bumba Boi, do Cacuriá ao Lelê, passando pela cultura Reggae, que já é nossa também, todas tem, na sua mistura, forte influência africana. Eu com os pés no quilombo, mas também nas influências indígenas e dos colonizadores europeus. Vou juntando muita coisa na caminhada. Tenho minha música como fruto deste conjunto cultural.

OIMP – Os festivais de música do Maranhão foram importantes na formação musical do César Nascimento? Qual a grande lembrança desses momentos de encontros e celebração do potencial do compositor?

CN – Eu venho dos festivais. Tanto regionais, quanto nacionais. Lembro a primeira vez que minha música passou na TV, foi durante o Festival da TV BAND, transmitido pelo programa do Flávio Cavalcante que, na época, era uma das maiores audiências do Brasil. Minha música Nordeste de Fulô foi escolhida pelo Júri Popular, como a melhor do referido festival. Depois participei de 03 festivais da Vale do Rio Doce, em Carajás PA. Festival Viva, em São Luís, quando minha música foi gravada no LP do Festival. Era uma alegria. Participei de dois festivais da TV Globo Nordeste. Em Salvador-BA, Recife-PE e Fortaleza-CE. Participei de um da TV Globo Nacional em São Paulo. Todos eles foram muito marcantes e, cada um a seu modo, contribuíram pra minha formação musical.

OIMP – “Ilha Magnética” é símbolo do Maranhão. Como você fez a letra e música? Quais são suas três músicas preferidas dentro do seu próprio cancioneiro?

CN – Ilha Magnética nasceu no início da década de 80, logo após minha chegada a São luís (pra ficar). Ela é uma composição singela e enigmática e, eu, até hoje, 44 anos após compô-la, me emociono e vejo muitos se emocionaram, ao ouvi-la. Vejo Ilha Magnética como uma síntese do meu amor e admiração pela Ilha de São Luís. É difícil escolher, num repertório musical que se espraia por 15 álbuns, somente três mas, Reggae Sanfonado me vem à cabeça, porque sendo um reggae com uma personalidade bem nacional, traduz minha paixão pelas coisas do Brasil. Catirina e o mar, porque mostra uma ligação direta e profunda com o nosso rico e encantador folclore maranhense. E Ilha Magnética porque é também uma leitura de mim e de como eu tento fazer minhas músicas: de forma simples e emocionante.

OIMP – Você é incansável. Está sempre produzindo. Quais são os novos projetos do César Nascimento?

CN – Concluí em 2024, a Valsa Ludovicense, inspirada no Centro Histórico de São Luís. Eu assumi o desafio de escrever o arranjo para orquestra sinfônica. Fiquei honrado e feliz quando conseguimos gravá-la (sob a regência do Maestro Jairo Morais), com a Orquestra Ilha Sinfônica. Neste início de 2025, fui acompanhar a convite do compositor Nosly e de Ytamara Santos, o meu boneco gigante de Olinda, o ‘COREIRÃO’, pelas ladeiras desta linda cidade pernambucana numa marcante homenagem. Nestes meses de abril e maio de 2025, entrei em estúdio pra gravar meu EP LUZ DO COMETA que estamos na fase de lançamento, no momento em que estou sendo entrevistado.

Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2025/06/cesar-nascimento-pinte-seu-quintal-e-seja-universal/