31 de outubro de 2025
Como lendas urbanas de São Luís revelam medos e mistérios
Compartilhe:

Em São Luís, a chegada do Halloween (31 de outubro) e do Dia de Finados (2 de novembro) serve como um portal para revisitar não só as festas de fantasia, mas também as narrativas que povoam o imaginário popular maranhense. A capital, famosa por sua riqueza cultural, também é um celeiro de histórias que transitam entre o assombro folclórico e o terror brutal da vida real.

Do casarão que guarda uma maldição ancestral à praia onde um amor perdido vaga, a Ilha revela seus medos mais profundos. O Maranhão possui lendas profundamente ligadas à água e à história colonial, onde o mistério e a tragédia humana se fundem.

O macabro Palácio das Lágrimas

No Centro de São Luís, na esquina da Rua da Paz com a Rua 13 de Maio, repousa um imponente casarão abandonado: o Palácio das Lágrimas. A lenda é um drama familiar português transplantado para o Maranhão, envolvendo inveja e assassinato.

Dois irmãos portugueses vieram ao Maranhão em busca de riqueza, mas apenas um prosperou. O irmão pobre, invejoso, assassinou o outro e tomou sua fortuna, passando a maltratar os escravos e a ex-mulher e filhos da vítima.

Um dos filhos escravos, ao descobrir que o tio havia matado seu pai, o arremessou pela janela do sobrado. Condenado, o escravo foi executado na forca em frente à própria casa. Em seus momentos finais, ele amaldiçoou a construção:

“Palácio que viste as lágrimas derramadas por minha mãe e meus irmãos. Daqui por diante serás conhecido como Palácio das Lágrimas.

Até hoje, há quem relate escutar barulhos sinistros e avistar vultos no interior do casarão, perpetuando o medo do que foi palco de tanta tragédia e injustiça.

Tragédias à Beira-Mar: Carimã e Olho D’Água

A força do mar maranhense também é fonte de lendas românticas e melancólicas. Na paradisíaca Praia de Carimã, em Raposa, o mistério está ligado a um triângulo amoroso fatal. Uma jovem moça e seu marido pescador se mudaram para lá para fugir do irmão gêmeo do amado, que era obcecado por ela.

Um dia, o irmão apareceu, fingiu ser o marido e seduziu a jovem. O verdadeiro esposo, ao retornar e entender o que havia ocorrido, partiu para matar o irmão, mas não conseguiu, desaparecendo, em seguida, nas ondas da Praia de Carimã. Desolada, a bela moça passou anos procurando o corpo do marido. A lenda diz que ela é vista até hoje, vestida de branco, triste a vagar entre as dunas, à espera de seu amor perdido.

De forma semelhante, a Praia do Olho d’Água tem sua origem folclórica nas lágrimas de uma índia filha de Itaporã, que chorou até a morte após a Mãe D’água seduzir e levar seu amado para as profundezas do oceano. Suas lágrimas deram origem às duas nascentes que correm até hoje para o mar.

O terror moderno e urbano: A Gangue da Bota Preta

Se as lendas de casarões e praias canalizam o medo do sobrenatural, a ascensão da Gangue da Bota Preta nas décadas de 1980 e 1990 representou um salto para um terror mais palpável e real: o da violência urbana. Associada a um grupo criminoso que praticava roubos, assaltos e estupros em bairros como Anjo da Guarda, Maiobão e Araçagy, a notoriedade da gangue foi tamanha que gerou grande histeria e pânico em São Luís.

A ousadia dos criminosos colocou a segurança pública no centro das discussões. A figura da “Bota Preta” se tornou rapidamente parte do imaginário popular, sendo referenciada em obras culturais. Atualmente, embora a organização não seja ativa, o termo permanece como um fenômeno criminal histórico que simboliza uma época de medo intenso, provocado não por fantasmas, mas por ameaças humanas.

A psicologia do medo maranhense

A transição das lendas de tragédia (como o Palácio das Lágrimas) e perda (como a moça de Carimã) para o pânico real da Bota Preta é um espelho do desenvolvimento da própria sociedade.
A psicologia distingue o medo sobrenatural do medo humano:

Aspectos do medo sobrenatural em São Luís:

Está enraizado na cultura e história (Palácio das Lágrimas, Praia de Carimã), por vezes irracional, no entanto possui função social (explicar o inexplicável, reforçar valores morais). É superado pela fé ou ritual.

Características do medo humano em São Luís:

É fundamentado em ameaças reais (Gangue da Bota Preta, assaltos). Certamente atua como mecanismo de sobrevivência, ligado à segurança e à integridade física. Exige ação real (policiamento, mudança de hábitos).

A análise da diferença entre os dois medos revela que, enquanto o pânico da Bota Preta exigiu ação social e governamental para ser contido, o medo do Palácio das Lágrimas é um terror com o qual a população aprende a conviver, tratando-o como parte integrante do mistério e da identidade da “Ilha do Amor”.

A cada Halloween, os maranhenses são convidados a refletir sobre qual tipo de medo é mais assustador: aquele que se esconde em um casarão antigo ou aquele que caminha ao seu lado na rua.

Leia também:

Siga nossas redes, comente e compartilhe nossos conteúdos:

Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2025/10/como-as-lendas-urbanas-de-sao-luis-revelam-medos-e-misterios-do-maranhao/