Projetos escolares baseados na criatividade vêm se consolidando como uma resposta concreta ao avanço do sofrimento emocional entre estudantes da rede pública. Segundo o Indicador GEduc 2025, 90% dos gestores da Educação Básica relatam a presença de estresse, ansiedade ou depressão entre estudantes e professores.
O Censo da Educação (Inep, 2025) reforça o desafio ao mostrar que apenas 15% das escolas públicas brasileiras contam com psicólogos. Esse cenário evidencia a urgência de práticas que integrem acolhimento e aprendizagem, criando condições para fortalecer os vínculos e ampliar as possibilidades de expressão dos estudantes.
Para Gabriela Breviglieri, Diretora-Presidente do Instituto Escolas Criativas, pensar a escola como espaço de acolhimento implica reconhecer que o cuidado e o protagonismo fortalecem o currículo e dão sentido à aprendizagem. “Para mim, pensar a escola como espaço de cuidado significa reconhecer que ela vai muito além de trabalhar conteúdos, é também um lugar para acolher emoções, vínculos e desenvolver o estudante como um ser integral em todas as suas dimensões.”
A diretora destaca ainda que a criatividade permite que os alunos se sintam parte ativa do processo educacional. “Quando os estudantes têm liberdade para imaginar, experimentar e criar, a escola deixa de ser apenas um local de exigência para se tornar um espaço onde eles se sentem verdadeiramente ativos e valorizados.”
A Aprendizagem Criativa, estruturada nos princípios de projetos, pares, paixão e pensar brincando, tem contribuído para consolidar práticas que ampliam o pertencimento estudantil e fortalecem vínculos. Breviglieri explica que “quando a escola trabalha com projetos que têm propósito e sentido para quem aprende, ela cria um espaço em que as crianças e os adolescentes podem expressar suas vivências, suas dúvidas e seus sonhos.”
Ela observa ainda que o trabalho conjunto reduz a sensação de isolamento e que o engajamento nasce do interesse genuíno. Também ressalta que “o pensar brincando, que integra ludicidade e aprendizagem, devolve à escola o prazer pelo aprender.”
Diante desse cenário, iniciativas conduzidas pelo Instituto Escolas Criativas vêm utilizando linguagens como artes visuais, teatro, escrita e jogos matemáticos como ferramentas de acolhimento emocional e engajamento com os conteúdos curriculares. As atividades criam condições para que os estudantes expressem tensões, medos e incertezas por meio da criação simbólica, oferecendo um espaço seguro de elaboração e diálogo onde o estudante aprende de forma significativa e contextualizada.
Segundo Breviglieri, o objetivo é transformar a criatividade em um mecanismo cotidiano de cuidado e uma nova forma de aprender. “Quando uma turma cria um mural, encena uma situação do cotidiano ou escreve uma narrativa conjunta, não está apenas aprendendo um conteúdo. Está construindo um ambiente de confiança. E, nesse ambiente, os alunos se sentem autorizados a falar sobre o que atravessa suas vidas e serem construtores de soluções.”
Ela destaca que essas práticas não substituem o atendimento especializado, mas cumprem papel preventivo relevante.
Relatos de escolas participantes dos projetos apontam mudanças consistentes na convivência e clima escolar. Estudantes passam a colaborar mais, compartilhar experiências e identificar estratégias para lidar com situações emocionais difíceis, o que reforça a importância de ambientes que valorizam expressão, escuta e pertencimento.
Apesar dos avanços, Breviglieri afirma que ainda há desafios importantes. “Criar espaços de expressão é fundamental, mas não é suficiente. Precisamos de investimentos permanentes e de políticas que reconheçam a saúde mental como parte da formação integral. A criatividade funciona como um ponto de partida, uma maneira de abrir portas para conversas que antes não aconteciam”, conclui.
Em um momento em que a saúde mental ocupa lugar central nos debates educacionais, iniciativas criativas despontam como aliadas para transformar a escola em um espaço onde desenvolvimento acadêmico e cuidado emocional não estejam dissociadas.
Fonte: https://oimparcial.com.br/educacao/2025/11/como-projetos-escolares-na-rede-publica-reforcam-a-saude-mental-dos-estudantes/
