28 de agosto de 2025
Mais de 31 mil pessoas esperam por transplante de córnea
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A espera por uma cirurgia de transplante de córnea no Brasil alcançou, em 2025, a média de 374 dias, mais que o dobro do registrado há dez anos, quando o tempo médio era de 174 dias. Os dados foram levantados pelo Conselho Brasileiro de Oftalmologia (CBO) a partir do Sistema Nacional de Transplantes (SNT), considerando informações entre 2015 e 2024.

Segundo a entidade, a tendência de crescimento permanece. Apenas no primeiro semestre deste ano, a espera já se mantinha em 369 dias. O CBO esclareceu que os números refletem a média nacional consolidada, calculada de acordo com o volume de procedimentos realizados em cada estado, e não uma simples soma aritmética.

As informações foram divulgadas durante o 69º Congresso Brasileiro de Oftalmologia, realizado em Curitiba (PR). Para os especialistas, o aumento da fila é consequência de múltiplos fatores, que incluem a ausência de reajustes nos valores pagos pelos transplantes, o impacto da pandemia de covid-19, que represou pacientes entre 2020 e 2023, e as dificuldades enfrentadas pelos bancos de olhos diante da alta nos custos de insumos cotados em dólar.

Outro ponto destacado é o acréscimo de exigências nas etapas de produção e processamento da córnea, como a necessidade de gestão de qualidade. Segundo o conselho, o modelo atual “gera uma fatura que não fecha para o banco de olhos, que recebe a mesma coisa que há uma década, quando não existiam tantos requerimentos na legislação”.

O levantamento mostrou ainda que os tempos de espera variam amplamente entre os estados. Enquanto Acre, Alagoas e Rio Grande do Norte ultrapassaram a marca de mil dias na fila em 2024, o Rio de Janeiro atingiu 1.424 dias. Em contrapartida, estados como Ceará, Santa Catarina, Mato Grosso, Amazonas, São Paulo e Paraná foram apontados como exemplos de melhor desempenho, com tempos de espera inferiores à média nacional, chegando a apenas 58 dias no caso do Ceará.

Até julho de 2025, o país contabilizava 31.240 pessoas na fila por um transplante de córnea. São Paulo concentra a maior demanda, com 6.617 pacientes, equivalente a 21% do total, seguido por Rio de Janeiro, com 5.141, e Minas Gerais, com 4.346. Já Mato Grosso e Ceará figuram entre os estados com menor número de inscritos, ambos com pouco mais de 50 pessoas aguardando. O perfil dos pacientes indica que as mulheres são maioria, representando 55,7% dos casos, enquanto pessoas com 65 anos ou mais correspondem a quase metade da fila (47%), reflexo do envelhecimento populacional e do avanço das doenças degenerativas da córnea. Jovens entre 18 e 34 anos também estão presentes, somando 17% da demanda, principalmente em função do ceratocone. Além disso, 458 crianças e adolescentes aguardam pelo procedimento.

Apesar das dificuldades, o CBO avalia que o Brasil mantém desempenho relevante em transplantes de córnea no cenário internacional, comparável a países como Canadá, Austrália e nações europeias, e bem à frente de vizinhos latino-americanos como Argentina, Chile, Colômbia e México. Entre janeiro de 2015 e julho de 2025, foram realizadas 150.376 cirurgias desse tipo no país. Nesse período, São Paulo liderou com 52.913 transplantes, cinco vezes mais que o Ceará, segundo colocado, com 10.706. Minas Gerais, Paraná, Rio Grande do Sul e Goiás também figuraram entre os estados com maior volume de procedimentos, enquanto Acre, Tocantins e Alagoas apresentaram os menores números.

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Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2025/08/conselho-brasileiro-de-oftalmologia-aponta-aumento-de-mais-de-100-em-uma-decada-e-alerta-para-dificuldades-estruturais-no-sistema/