17 de abril de 2025
Dia da Biblioteca: o que preservar, além da memória?
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O livro carece de afeto. Como nós, que constantemente precisamos do outro, os livros também precisam de companhia. Tão parecidos, também se sentem sozinhos e buscam calor e toque humano. Para acabar com sua solidão, existem as bibliotecas, que navegam no tempo e relembram nosso lugar no mundo, que instruem e alfabetizam por meio da cultura, que tornam possível a compreensão da nossa trajetória até então, que educam patrimonialmente.

No dia 9 de abril, a celebração é para elas, comemorada nesta data pois faz referência à publicação do decreto nº 84.631, de 1980, que também instituiu a Semana Nacional do Livro e da Biblioteca, o Dia Nacional do Livro e do Bibliotecário.

Em São Luís, a que tomamos por referência é a Biblioteca Pública Benedito Leite (BPBL), estabelecida em 1829 e inaugurada em 3 de maio de 1831, à época equipada com 1448 obras e localizada em uma das salas do Convento do Carmo, na Rua do Egito, no Centro da cidade. Atualmente, já sediada na praça Deodoro, conta com um acervo de mais de 100 mil títulos que são visitados por cerca de 10 mil pessoas todos os meses, fazendo com que a BPBL se consolide como um dos principais pilares para democratizar o acesso à informação, leitura, educação e cultura no estado do Maranhão.

A preservação das histórias

No mesmo caminho, como grande patrimônio para a preservação das histórias que compõem nosso país, temos a Biblioteca Nacional (BN) do Brasil, que figura entre as dez maiores bibliotecas nacionais do mundo e é a maior da América Latina, com mais de 9 milhões de livros.

Biblioteca Nacional – Foto: Reprodução/Biblioteca Nacional

Seu acervo foi inicialmente composto pelos títulos que pertenciam à Real Biblioteca de Portugal e foram trazidos, aos poucos, de navio pelo príncipe regente D. João, assim fundando a Real Biblioteca Nacional, estabelecida em 29 de outubro de 1810 e que, em 2025, completa seus 215 anos de existência.

Biblioteca Benedito Leite – Foto: Rodrigo Ribeiro

Tendo atuado na BN por 16 anos como chefe e curadora de Obras Raras, a Bibliotecária e professora aposentada da UNIRIO, Ana Virgínia Pinheiro, defende o papel social da biblioteca-guardiã como aquela instituição que criará oportunidades para formar uma sociedade mais informada e que possa exercer amplamente sua cidadania. De acordo com ela, a biblioteca é um organismo vivo que sempre tem algo de novo a revelar, pois “se ela está toda organizada, está morta”; o trabalho é contínuo e “ainda há muito o que se catalogar. Neste momento, um livro que nem sabíamos que existia ou que estava perdido pode estar sendo catalogado”. E aí está o papel do bibliotecário: é aquele que resguarda a integridade das obras, faz descobertas e preserva o material que fará parte da memória histórica e literária daquele recorte no tempo e no espaço.

Duas perguntas para Ana Virgínia Pinheiro:

O Imparcial: No dia 9 de abril, celebramos o Dia Nacional da Biblioteca. Para Ana Virgínia Pinheiro, o que isso significa?

Ana Virgínia Pinheiro: Seria bom se tivéssemos mais comemorações como essa ao longo do ano, quanto mais, melhor, porque é um motivo para nós criarmos eventos, encontros e debates sobre os livros, para preservar essa forma de suporte que nos acolhe. O livro é um companheiro sobre todos os aspectos. E eu não estou aqui falando contra a tecnologia, porque eu sou uma usuária de tecnologia, eu leio muito nas telas, e trabalho em paralelo com a preservação do livro na sua materialidade. Eu acho que o livro é um suporte encantador. Quando eu entro no metrô, no Rio de Janeiro, e vejo todas as pessoas no celular, eu fico encantada, porque elas estão lendo. Elas não estão lendo em livro, mas elas estão lendo. Isso, para mim, já é um primeiro passo, uma conquista. Talvez, para o resgate da função principal do livro, que é oferecer a leitura fora da tela, no papel.

O Imparcial: O que devemos preservar, além da memória?

Ana Virgínia Pinheiro: Olha, a memória é um ponto fundamental de preservação. Eu não consigo pensar em outra coisa, porque eu entendo que a memória resgata muita coisa. A memória não é só aquilo que está registrado no suporte-papel. Tudo pode ser memória. Você, às vezes, passa por um lugar e sente um perfume que te lembra o bolo que a sua avó fazia, quando você era criança. 

Isso é memória. Ela abarca tudo isso. Então, não existe outro elemento que eu pense em preservar além da memória, sobre todas as suas formas de expressão, porque eu acho que isso é tudo.

Além da memória

Por outro lado, quando falamos da preservação de livros, acredito que exista, sim, algo que pode ser mantido, além da memória: falo dos sentimentos que se passam no íntimo de cada um. E acredito que por isso preservamos e relembramos, não pela memória em si, mas pela paixão e pelo apego a tudo que nos leve de volta a um tempo que acabou, ou mesmo que construa um mundo totalmente novo, mas que sempre aponte para o coração do leitor e diga: “É possível sonhar!”.

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Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2025/04/dia-da-biblioteca-o-que-preservar-alem-da-memoria/