A 67ª Cúpula do Mercosul, encerrada no último sábado em Foz do Iguaçu, evidenciou uma profunda fratura diplomática entre os países do bloco. A falta de consenso sobre a crise venezuelana foi tamanha que o tema acabou omitido do comunicado oficial do evento. Em vez de uma declaração única, Argentina, Paraguai, Panamá, Bolívia, Equador e Peru optaram por publicar um documento paralelo, sem a chancela institucional do Mercosul, defendendo a restauração da ordem democrática e o respeito aos direitos humanos na Venezuela por meios pacíficos.
O racha expôs duas visões distintas sobre como lidar com a tensão na região. De um lado, o grupo liderado por Javier Milei (Argentina) e Santiago Peña (Paraguai) adotou uma postura de confronto mais direto ao regime de Nicolás Maduro, alinhando-se ideologicamente às pressões internacionais. Do outro, Brasil e Uruguai se recusaram a assinar o texto alternativo.
Para a diplomacia brasileira, o conteúdo proposto poderia ser interpretado como um endosso institucional do bloco sul-americano às recentes operações militares dos Estados Unidos no Caribe, que incluem o confisco de petroleiros venezuelanos.
O governo brasileiro, apoiado pelo presidente uruguaio Yamandú Orsi, defendeu que qualquer manifestação deveria focar na preservação da América do Sul como uma zona de paz. A intenção do Itamaraty era que o bloco expressasse preocupação com as manobras navais estrangeiras e reafirmasse a soberania das nações vizinhas, evitando precedentes de intervenção armada.
Orsi reforçou que qualquer reestruturação institucional na Venezuela deve ocorrer rigorosamente dentro da estrutura do direito internacional, rejeitando o uso ou a ameaça de força externa.
A ausência de uma assinatura comum revela o isolamento de pautas políticas sensíveis dentro do Mercosul, que atualmente opera sob forte polarização. Enquanto os governos alinhados à direita buscaram marcar posição contra Maduro, o bloco como instituição preferiu o silêncio para evitar o colapso do diálogo entre os Estados Partes.
O documento paralelo, embora contundente em suas intenções, evitou citar nominalmente figuras centrais como Nicolás Maduro ou Donald Trump, mantendo a disputa no campo das diretrizes diplomáticas.
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Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2025/12/divisao-ideologica-sobre-venezuela-impede-comunicado-conjunto-em-cupula-do-mercosul/
