
O gênero da cinebiografia musical tem passado por uma reinvenção nos últimos anos, e o recém-lançado Better Man, sobre a vida do britânico Robbie Williams, é um ótimo exemplo dessa transformação. Dirigido do ponto de vista do próprio cantor, o longa aposta em uma escolha criativa inesperada: substituir a imagem de Robbie por um macaco animado, criação do artista Jim Crozet. Essa decisão estética ousada e carregada de simbolismo traz uma camada de humor e autocrítica à narrativa, enquanto o próprio Williams guia o espectador com sua narração sincera e, por vezes, irônica.
Better Man revisita os altos e baixos da trajetória de Robbie Williams, desde o sucesso meteórico com o Take That até as batalhas pessoais contra vícios e crises de identidade no auge da fama. Tudo embalado por hits que marcaram época, como “Angels”, “Feel” e “Rock DJ”, que são recontextualizados ao longo da trama, trazendo novas leituras emocionais e dramáticas.
A obra se soma a uma leva recente de cinebiografias musicais que fogem do modelo tradicional. O exemplo mais notório talvez seja Rocketman (2019), que narra a vida de Elton John com um tom de fantasia e musical grandioso. O filme dirigido por Dexter Fletcher transforma momentos-chave da vida de Elton em números musicais que beiram o surrealismo, refletindo tanto os excessos quanto as dores do astro.
Outro caso é Bohemian Rhapsody (2018), centrado na banda Queen e em seu lendário vocalista, Freddie Mercury. Embora opte por uma narrativa mais convencional, o filme se destacou pela reconstituição de shows emblemáticos e pela performance visceral de Rami Malek, que rendeu ao ator o Oscar. A produção foi um enorme sucesso de bilheteria e abriu portas para o atual interesse renovado nas biografias musicais.
Mais recentemente, A Complete Unknown, cinebiografia de Bob Dylan estrelada por Timothée Chalamet, promete seguir uma linha ainda mais autoral. O filme explora diversas fases da vida e carreira do cantor folk, fugindo de uma estrutura linear e apresentando um Dylan multifacetado e enigmático. A obra já vem sendo descrita como uma abordagem poética e fragmentada do artista, refletindo as muitas faces e reinvenções que marcaram sua trajetória.
O que aproxima Better Man, Rocketman, Bohemian Rhapsody e A Complete Unknown é a busca por formas inovadoras de retratar artistas que, em si, já são figuras maiores que a vida. São filmes que não se contentam em apenas recontar fatos, mas que tentam traduzir, através de recursos visuais, musicais e narrativos, a essência e as contradições de cada ícone.
Better Man, ao apostar na figura de um macaco como avatar emocional de Robbie Williams e no tom bem-humorado e autodepreciativo, reafirma essa tendência de cinebiografias cada vez mais criativas, que exploram o psicológico dos artistas de maneira singular. Se Rocketman é uma ópera pop psicodélica, Bohemian Rhapsody é um tributo épico ao legado do Queen e A Complete Unknown um mergulho intimista no mito de Dylan, Better Man surge como uma comédia dramática ousada, que une o absurdo e a ternura de forma surpreendente.
O sucesso de crítica e o burburinho em torno dessas obras mostram que o público não quer apenas ver a história dos ídolos, mas sentir, em cada frame, a alma desses artistas. E, nesse sentido, Better Man se destaca como mais um passo certeiro na reinvenção das biografias musicais no cinema contemporâneo.
“Better Man – A História de Robbie Williams” estreou na última quinta-feira, 13, nos cinemas de São Luís.
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Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2025/03/entre-a-realidade-e-a-invencao-better-man-e-a-nova-era-das-biografias-musicais/