
Inegavelmente, São Luís é uma cidade plural. É evidente que a energia pulsante que emana do Centro Histórico, cidade afora, revela uma esfera marcada pelo reggae, pela história, pelo bumba meu boi, entre outras manifestações. São Luís é, também, uma cidade calorosa – o título de “Ilha do Amor” é muito bem justificado tanto pelo clima, quanto pelo povo, que é artístico e hospitaleiro. Ao passo que, no coração da cidade, circulam blocos tradicionais, radiolas de reggae e casais apaixonados, as vielas de São Luís são, cada vez mais, palco para um outro tipo de expressão: a Moda.
Dizer que existe Moda em São Luís parece óbvio – mas não é. A identificação na forma de vestir na capital maranhense não vem de hoje, mas ainda é uma cultura que luta diariamente para se manter em pé, e produzindo, desde o dia 1. Cabe dizer, ainda, que este ainda é um campo cercado por estereótipos, que insistem em classificar a produção têxtil como fútil, e não levam em consideração que este é, também, um meio de expressão e manifestação de diferentes narrativas. No compasso de quem vive a cidade, os criadores exploram esse campo como forma de presença, buscando resistir a uma cultura de importação, tal que valoriza o que vem de fora e fecha os olhos para o que é produzido localmente.
João Belfort trabalha com moda há mais de dez anos e é idealizador e diretor criativo da Moda do João. Suas produções combinam formas tradicionais e modelos despojados, com um mix entre alfaiataria, tecidos fluidos e estampas que refletem a essência da cultura maranhense. Apesar de ter a Ilha Magnética como ponto alto de referência para a criação, ele afirma que a marca nasceu a partir de uma necessidade de identidade local.
7ª Brasil Eco Fashion Week- 2023
SP, 9/12/2023
Foto: Marcelo Soubhia/ @agfotosite
Por isso, ao falar de Moda em São Luís, é preciso, também, fazer um resgate da identificação coletiva da cidade, onde o artesanal continua sendo subvalorizado e os artistas ainda precisam se justificar para obter valorização do próprio trabalho: “Eu vejo uma desvalorização do artista local. O artista de fora não é questionado, enquanto o daqui recebe milhões de questões quanto a valores e o que ele faz”, comenta. Falar de moda para ele, é também falar de ancestralidade, afeto, pertencimento e, sobretudo, dialogar sobre um público que ainda julga antes de reconhecer.
Não é preciso, no entanto, ter uma marca autoral para perceber que o mercado caminha a passos lentos. Tharlisson Ribeiro, estilista e produtor, usa a moda como evocativo do pensamento por meio de combinações que unem o urbano ao vintage. Para ele, “é através da moda que a gente entende a pessoa. Falta a população entender o que um estilista faz. A gente precisa se unir e falar mais disso, porque ainda existe uma desconfiança”.

Tanto Tharlisson quanto Belfort entendem que o percurso com linha de chegada na valorização passa, necessariamente, pelo fortalecimento de um senso de coletividade entre os profissionais do meio.
Apesar de terem estilos diferentes, ambos representam o contraste entre os mundos da capital, que mistura o frenesi da vida urbana com a serenidade do ecossistema. A moda que eles – e outros, veteranos e ascendentes – criam não tenta ser outra coisa: ela é São Luís. E precisa ser reconhecida pela população como algo que, assim como as manifestações culturais típicas, é mais um artefato que reflete a pluralidade da cultura e do povo que co-habita a Atenas Brasileira.
Fonte: https://oimparcial.com.br/entretenimento-e-cultura/2025/05/estilistas-reafirmam-identidade-local-e-enfrentam-desafios-na-capital-maranhense/