
O Processo de Eleições Diretas (PED) do Partido dos Trabalhadores no Maranhão, realizado no último domingo (6), mergulhou o diretório estadual em uma crise sem precedentes. Marcado por fortes indícios de irregularidades, interrupção da contagem de votos e acusações de tentativa de fraude, o processo interno expôs fragilidades na condução da disputa e reacendeu o debate sobre os limites da democracia partidária.
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O impasse chegou a tal ponto que, para tentar restabelecer a ordem e a confiança no processo, a Executiva Nacional do PT enviou ao estado a dirigente nacional Anne Moura, que desembarcou em São Luís nesta quarta-feira (9) com a missão de pacificar o cenário, auditar os procedimentos e conduzir a apuração até um desfecho confiável.
Segundo apuração de O Imparcial, Anne Moura deverá ter acesso integral ao mapa de apuração dos votos já contabilizados, às atas das sessões de votação e aos registros dos incidentes que comprometeram a continuidade da contagem. Sua tarefa será elaborar um diagnóstico técnico e político do processo e propor um encaminhamento que viabilize a divulgação oficial do resultado — e, se necessário, a repetição ou revalidação parcial da votação em alguns municípios.
A disputa interna e os números parciais
Até o momento, apenas os votos de 80 dos cerca de 202 municípios que participaram do PED foram computados. O resultado parcial aponta a liderança do atual presidente do PT-MA, Francimar Melo, que aparece com 5.559 votos (50,28%). Em segundo lugar está Genilson Alves, com 2.562 votos (23,05%), seguido por Monteiro, com 2.429 (21,85%). Rogério recebeu 353 votos (3,18%) e Eri Castro, 182 votos (1,64%).
Caso os números sejam confirmados, haverá segundo turno entre Francimar e Genilson, marcado para o dia 28 de julho, conforme o regimento do processo eleitoral, válido para todo o Brasil.
Coordenação eleitoral se pronunciou sobre os fatos
O clima, no entanto, está longe de ser de normalidade. Desde o fechamento das urnas, às 20h do domingo — após a prorrogação da votação, inicialmente prevista para encerrar às 14h — surgiram denúncias sobre supostas manobras para beneficiar determinadas chapas, incluindo relatos de manipulação no ritmo da apuração, exclusão de urnas e desrespeito aos trâmites internos do partido.
A tensão culminou na publicação de uma nota pública assinada por oito figuras de destaque no PT maranhense: Cricielle Muniz, Rubens Júnior, Francisco Gonçalves, Cristiane Vasconcelos, Patrícia Carlos, Carlos Augusto Alves, Creuzamar de Pinho e Ivaldo Coqueiro. No documento, os dirigentes denunciam o que classificam como uma “tentativa explícita de fraude eleitoral interna” e cobram uma resposta imediata da Executiva Nacional, além da responsabilização dos envolvidos.
“A democracia interna não pode ser apenas um valor proclamado: ela precisa ser praticada, defendida e garantida — especialmente quando está sob ataque”, diz o texto. As lideranças afirmam que o que deveria ser uma festa democrática transformou-se em um cenário de “grave preocupação”, com práticas que colocam em risco a legitimidade do processo e a credibilidade do partido diante da sua militância.
A denúncia formal foi protocolada junto à Direção Nacional, acompanhada de um dossiê com imagens, atas e depoimentos. Segundo os signatários, há elementos suficientes para justificar a suspensão da apuração e a reavaliação da totalização dos votos em todo o estado.
A versão da COE Estadual e o colapso da apuração
Em contraponto às acusações, a Comissão de Organização Eleitoral (COE) Estadual divulgou nota oficial, assinada por Arthur Mendes, tentando explicar os entraves da apuração. Ele relata que a contagem teve início ainda na noite do domingo, mas de forma lenta e com dificuldades técnicas. Alega ainda que nenhum representante de chapa questionou o método usado até então.
No dia seguinte, após cobrança da Secretaria de Organização (SORG) Nacional, a COE teria reestruturado os procedimentos para dar maior celeridade à apuração, priorizando cidades conforme acordo entre os representantes das chapas.
No entanto, o processo sofreu novo revés quando, segundo a nota, agressões verbais e até físicas inviabilizaram a continuidade da contagem. “Ao retornar no dia 08/07 para reiniciar a totalização dos demais municípios, registrou-se agressões verbais, intimações e agressões físicas na sala da COE, tendo como resultado uma inviabilização total à continuidade do processo”, afirma Arthur Mendes.
Ele ainda faz um apelo à serenidade e afirma que há uma tentativa de politizar o processo de maneira irresponsável. “As mensagens que invocam a deslegitimidade dos processos municipais são fantasiosas e frutos da disputa política sem nenhuma conexão com a realidade”, diz.
Clima de racha e crise institucional
Nos bastidores, o PED 2025 revelou fissuras históricas dentro do PT maranhense. A disputa, que deveria reforçar os laços internos e atualizar a direção partidária em sintonia com a base, se transformou em uma disputa fratricida, com desconfiança mútua, ataques públicos e questionamentos à autoridade das instâncias organizadoras.
Análise da notícia
A crise no Maranhão reflete uma instabilidade interna da legenda trabalhista que não é exclusiva do estado. O modelo do PED, apesar de democrático em essência, tem revelado fragilidades na aplicação prática, sobretudo em contextos onde a rivalidade entre grupos locais supera o pacto partidário comum.
A presença de Anne Moura, portanto, representa não apenas uma tentativa de resolver o caso maranhense, mas um esforço da direção nacional para evitar que os efeitos dessa disputa contaminem o calendário eleitoral de 2026. O desfecho do PED no Maranhão poderá se tornar um marco para repensar o modelo de eleições internas do PT em todo o país — ou, ao contrário, um alerta sobre os limites da autogestão democrática em partidos com estruturas tão amplas e complexas. Por enquanto, a militância aguarda o parecer final da Executiva Nacional, na esperança de que o partido, que ajudou a construir a democracia brasileira, não se perca justamente em seus próprios ritos democráticos.
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Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2025/07/executiva-nacional-intervem-apos-denuncia-de-fraude-nas-eleicoes-do-pt-no-maranhao/