19 de agosto de 2025
Festival com foco na musicalidade e resistência dos povos indígenas
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Dos cantos sagrados dos Awa Guajá, que conectam humanos a seres celestiais, às poderosas vozes das mulheres Gavião-Kyikatêjê, que renasceram das cinzas das queimadas. Das melodias que organizam o mundo Waujá, no Xingu, aos cantos desenhados do Nixi Pae com Ibã Sales Huni Kuin do Acre. Na sétima edição do Indígenas.BR – Festival de Músicas Indígenas, o Centro Cultural Vale Maranhão trará um panorama de expressões sonoras que resistem, curam e reinventam futuros.

De 20 a 23 de agosto, uma programação que destaca a diversidade de músicas, línguas, danças, estilos e saberes dos povos originários ocupará o espaço, trazendo para o centro do debate temas urgentes relacionados aos direitos dos povos indígenas. As músicas indígenas apresentadas falarão de autonomia, de luta territorial e de transmissão oral entre gerações. Seja nas apresentações musicais, nas rodas de conversa sobre arte e resistência ou nos documentários que registram tradições preciosas: o que está em jogo é a própria continuidade dessas cosmovisões milenares.

Assinam a curadoria do festival em dupla, pelo terceiro ano consecutivo, a musicista e pesquisadora Magda Pucci e a jornalista e cantora Djuena Tikuna. Em sua sétima edição, o festival se consolida como um dos principais espaços de debate sobre cultura indígena no Brasil. “O CCVM tem muito prazer e alegria em  oferecer casa para todas as etnias do Brasil. Desde os primórdios, as portas estiveram abertas para acolher os indígenas que precisavam de repouso, lugar para vender sua arte, discutir e contar sobre sua cultura e desafios. O festival veio para firmar ainda mais essa vocação e reafirmar o compromisso que assumimos permanentemente com os povos originários”, afirma Gabriel Gutierrez, diretor do Centro Cultural Vale Maranhão.

Lançamento de acervo sonoro 

A produção de um acervo sonoro que documenta cantos rituais e cotidianos dos Awá Guajá representa um marco na valorização do patrimônio cultural desse povo de recente contato, que habita as Terras Indígenas Alto Turiaçu, Caru e Awá, além de grupos em isolamento voluntário em Araribóia, todas no Maranhão. Donos de um modo de vida muito particular e de forte ligação com a floresta, eles construíram uma obra inédita, “Karawa Janaha: O Canto dos Karawara”, que registra a arte vocal Awá Guajá e traduz cantos entoados na língua de caçadores celestes, os Karawara.

O Canto dos Karawara é fruto de um trabalho de campo colaborativo realizado com as comunidades das aldeias Awá, Tiracambu e Juriti, no âmbito do subprograma de Fortalecimento Cultural do Plano Básico Ambiental Componente Indígena (PBA-CI), ligado ao licenciamento da Expansão da Estrada de Ferro Carajás (EFC), da Vale S.A., com acompanhamento da FUNAI e do IBAMA, e implementação conduzida pelo Instituto Sociedade, População e Natureza (ISPN). A iniciativa visa preservar essas manifestações culturais e ecoar essas vozes dentro e fora das aldeias.

Saber que emerge da garganta

Nas culturas indígenas, a música não se limita ao som, é memória viva e ponte entre mundos. Para os povos Timbira, esse entendimento se revela na palavra hõcrepöj, que une o termo  “hõ/jõ cre”, que significa garganta, e “pöj”, que seria aparecer, formando o conceito do “saber que emerge da garganta”. Essa concepção mostra que cantar é muito mais do que produzir melodias, é ativar conhecimentos ancestrais, fortalecer laços comunitários e dialogar com o cosmos.

Magda Pucci, cocuradora do evento, faz votos de que esta edição do festival seja um espaço onde as vozes indígenas possam fazer aparecer os saberes que a floresta ainda guarda. “E que todos nós possamos aprender a escutar não apenas com os ouvidos, mas com o coração aberto às muitas formas de conhecer e habitar o mundo”, finaliza.

Programação

20 de agosto
19h – Documentário Wyty: Os Cantos de Resistência Gavião-Pykopjê
19h30 – Apresentação musical: Coletivo Mêntia Hityiti – Gavião Kyikatêjê (PA)

21 de agosto
17h – Roda de conversa: Territórios e Musicalidades
18h30 – Documentário Kokuho – Canto Vivo Waujá
19h – Apresentação musical: Akari Waurá (MT)
19h30 – Apresentação musical: Coletivo Tukàn Tenetehar – Guajajara (MA)

22 de agosto
16h – Roda de conversa: Jãnaha – Os Cantos Awá Guajá
18h – Lançamento da obra Karawa Janaha: O Canto dos Karawara
19h – Apresentação imersiva: Cantos Huni-Kuin em Imagens – Ibã Sales (AC) & VJ Trajano (MA)
19h30 – Apresentação musical: Awá-Guajá (MA)

23 de agosto
17h – Documentário Nixi Pae – O Espírito da Floresta
17h45 – Roda de conversa: Os caminhos do MAHKU
19h – Show Ancestronik – Edivan Fulni-ô (PE) e convidados

Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2025/08/festival-com-foco-na-musicalidade-e-resistencia-dos-povos-indigenas-chega-a-7a-edicao-no-ccvm/