
Nos últimos dez anos, as principais bacias hidrográficas do Brasil passaram mais tempo em estiagem do que em períodos de cheia, evidenciando uma vulnerabilidade crescente no sistema elétrico nacional. Hidrelétricas, responsáveis por cerca de 60% da geração de energia do país, operam com base em previsões do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), mas o modelo utilizado para calcular a disponibilidade de água não é atualizado há décadas e ignora os efeitos das mudanças climáticas.
Atualmente, o ONS estima a capacidade de geração usando séries históricas de vazão que remontam a mais de 90 anos. O problema, segundo especialistas, é que esses dados refletem períodos mais úmidos, enquanto a última década tem sido marcada por secas prolongadas, levando a previsões excessivamente otimistas e desalinhadas com a realidade atual.
Secas mais severas
Informações do Centro Nacional de Monitoramento e Desastres (Cemaden) indicam que as bacias do Paraná, São Francisco e Tocantins, que abastecem hidrelétricas estratégicas como Itaipu, Furnas, Tucuruí, Sobradinho e Serra da Mesa, enfrentam estiagens cada vez mais severas desde 2014.
Em Goiás, o reservatório de Serra da Mesa manteve alternância entre cheias e secas até 2013, mas desde então atravessa uma sequência de sete anos de estiagem intensa. Situação semelhante foi registrada em Furnas e Três Marias, que garantem energia para o Sudeste e Centro-Oeste.
O modelo de previsão influencia diretamente a decisão sobre o acionamento de termelétricas e o uso da água armazenada. Quando a expectativa é otimista demais, há risco de se gastar mais água do que o adequado, o que aumenta a dependência das termelétricas, encarece a conta de luz e deixa o sistema mais vulnerável a crises futuras.
Impacto na conta de luz
Desde agosto, a escassez hídrica já se refletiu no bolso do consumidor: a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) acionou a bandeira vermelha patamar 2, a mais cara do sistema. Especialistas alertam que, sem atualização do modelo de previsão, o país seguirá tomando medidas emergenciais e de alto custo, em vez de prevenir as crises.
O Brasil já enfrenta um cenário descrito por pesquisadores como “novo normal climático”: temperaturas mais altas, chuvas irregulares, desmatamento acumulado e fenômenos como o El Niño, que agravam a intensidade das secas.
O que dizem ONS e EPE
O ONS reconhece que ainda usa séries históricas em seus cálculos, mas afirma que os estudos de curto e médio prazo — até cinco anos — consideram as variações recentes. Já a Empresa de Pesquisa Energética (EPE) desenvolve documentos técnicos voltados à resiliência do setor elétrico, como o “Roadmap para o Fortalecimento da Resiliência do Setor Elétrico em Resposta às Mudanças Climáticas”, que propõe incorporar cenários climáticos nas estratégias de planejamento.
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Fonte: https://oimparcial.com.br/brasil/2025/09/hidreletricas-do-brasil-enfrentam-secas-prolongadas-e-alertam-para-riscos-no-sistema-eletrico/