30 de outubro de 2025
Inovação: desenvolvimento que nasce do conhecimento
Compartilhe:

 Quando observamos estados brasileiros que avançam de forma consistente nas agendas de inovação e empreendedorismo — mesmo partindo de contextos econômicos, geográficos e institucionais distintos — surge uma pergunta inevitável: se países em desenvolvimento buscam inspiração nas nações mais avançadas, por que os estados brasileiros não se espelham mais uns nos outros?

Essa questão se torna ainda mais relevante à luz do Prêmio Nobel de Economia de 2025, concedido aos pesquisadores Joel Mokyr, Philippe Aghion e Peter Howitt. Suas contribuições consolidaram a chamada teoria schumpeteriana do crescimento endógeno, demonstrando, com base em décadas de evidências empíricas, que a inovação é o motor central do crescimento econômico. É essa relação entre investimento em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D), empreendedorismo e crescimento que explica como regiões que apostam em ciência e tecnologia transformam suas estruturas produtivas. É por essa lente que devemos olhar para o Brasil — um país de desigualdades regionais, mas também de experiências inspiradoras de transformação pela via do conhecimento.

Em minha trajetória como professor, pesquisador e, mais recentemente, como diretor de uma agência de inovação e empreendedorismo de universidade pública, tenho acompanhado de perto como a interação entre universidades, governos e setores produtivos pode transformar realidades locais, gerar prosperidade e reconfigurar economias regionais. Com esse pano de fundo, analiso dois importantes instrumentos nacionais de avaliação, distintos, mas convergentes, que ajudam a revelar as estratégias que distinguem os estados mais inovadores do país — e que podem inspirar outros a seguir trilhas semelhantes. A reflexão que faço aqui tem como base os resultados do Índice Brasil de Inovação e Desenvolvimento (IBID) 2025, elaborado pelo Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI), e o Ranking de Competitividade dos Estados 2025, publicado pelo Centro de Liderança Pública (CLP).

Ambos medem dimensões complementares: o IBID avalia a capacidade de um estado gerar resultados concretos de inovação (produção científica, registros de propriedade intelectual e impacto econômico), enquanto o CLP mensura o ambiente de negócios, a infraestrutura e as políticas públicas voltadas à inovação (investimento em P&D, capital humano, empresas de base tecnológica e densidade de ambientes de inovação). Com base nesses indicadores foi possível delimitar o caso exitoso de cinco estados brasileiros: São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Rio Grande do Norte e Alagoas. Cada um, dentro de sua realidade, demonstra que investir em inovação e em um ambiente favorável ao empreendedorismo inovador é um caminho seguro para dinamizar economias e impulsionar o desenvolvimento sustentável.

São Paulo ocupa o 1º lugar no IBID 2025,  o estado lidera 38 dos 80 indicadores avaliados pelo IBID e está à frente em 20 dos 25 indicadores de resultados de inovação, que incluem patentes, startups, contratos de tecnologia e produção científica aplicada. Essa supremacia decorre de um ecossistema maduro, que integra universidades de excelência (USP, Unicamp e Unesp), empresas multinacionais, políticas consistentes da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP) e uma estrutura produtiva capaz de absorver e aplicar o conhecimento científico.

Além disso, São Paulo concentra a maior rede de unidades EMBRAPII do país, o que reduz o tempo entre a pesquisa acadêmica e sua aplicação industrial. Santa Catarina aparece em 2º lugar tanto no IBID 2025 quanto no pilar de inovação do CLP. A capital, Florianópolis, frequentemente chamada de “Vale do Silício brasileiro”, simboliza essa vocação ao reunir universidades, empresas de base tecnológica e o poder público em uma das mais sólidas redes de inovação do país. O desempenho catarinense é resultado de uma política de estímulos à ciência e à tecnologia, apoiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação do Estado de Santa Catarina (FAPESC), que investiu R$ 381 milhões em 2024 em programas e editais voltados à inovação.

O Rio Grande do Sul é um caso paradigmático de consistência. Ocupa o 1º lugar no pilar de Inovação do CLP 2025 e a 5ª posição no IBID 2025, mantendo estabilidade de desempenho por mais de uma década. Essa constância reflete políticas públicas de longo prazo, a forte presença de universidades comunitárias e federais, e um sistema de ciência e tecnologia que se mantém ativo mesmo em períodos de restrição orçamentária.

No Nordeste, a referência se divide entre o Rio Grande do Norte e Alagoas, conforme o critério considerado. Pelo IBID 2025, o Rio Grande do Norte é o estado mais bem colocado da região, figurando em 12º lugar nacional. Pelo Ranking CLP 2025, Alagoas ocupa o 1º lugar nacional no indicador de apoio aos empreendimentos inovadores, que considera o número de incubadoras, parques tecnológicos e aceleradoras associadas à ANPROTEC por milhão de habitantes, além de aparecer em 5º lugar no pilar de Inovação.

Isso revela realidades complementares: enquanto Alagoas se destaca pela estrutura de suporte e pela governança pró-inovação, o Rio Grande do Norte lidera em resultados aplicados, com forte presença de universidades (UFRN e IFRN).

Esses cinco estados revelam um padrão comum: tratam a ciência, a tecnologia e a inovação como políticas de Estado. Possuem unidades EMBRAPII que aproximam a ciência da indústria, fortalecem com recursos consistentes suas fundações de amparo à pesquisa e estruturam secretarias de CT&I com liderança técnica.

As distinções residem na maturidade e na escala: São Paulo combina densidade tecnológica e capacidade de conversão de conhecimento em negócios; Santa Catarina consolida o modelo de integração regional e interiorização da inovação; Rio Grande do Sul se destaca pela estabilidade e continuidade de políticas públicas; Alagoas lidera em estrutura de apoio e governança; e Rio Grande do Norte mostra eficiência em transformar investimentos limitados em resultados concretos.

Em síntese, os estados brasileiros com melhor desempenho no IBID e no Ranking de Competitividade CLP estão também entre os que mais investem em ciência, tecnologia e inovação. Onde há estratégia, recursos e colaboração entre universidades, governos e empresas, o crescimento endógeno se converte em realidade mensurável. Que cada estado saiba construir sua própria trajetória, mas reconheça que há bons exemplos a serem seguidos. Os caminhos para o desenvolvimento estão traçados dentro do próprio país.

Leia também:

Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2025/10/inovacao-desenvolvimento-que-nasce-do-conhecimento/