
Em um ano do Projeto de Caracterização e Monitoramento de Cetáceos (PCMC), os monitoramentos de praia realizados pelos parceiros ambientais da TGS, empresa de pesquisa que vem fazendo levantamentos geológicos na Margem Equatorial, percorreram 8.537,3 km. Essa distância abrange a área do Amapá, na região Norte, até a divisa do Piauí com o Ceará, no Nordeste, sendo maior que a distância de ida e volta do Oiapoque (AP) ao Chuí (RS), que é de 4.180 km em linha reta.
Além disso, foram percorridos 1.911,99 km em rios, reentrâncias e igarapés através de monitoramentos embarcados, que alcançam áreas de difícil acesso por terra.
Nesse período, o projeto atendeu mais de 600 animais aquáticos como aves, tartarugas, peixes-boi, baleias e golfinhos, em suas atividades de monitoramento, uma média de aproximadamente dois animais por dia.
O projeto possibilita o registro de ocorrências de animais, a identificação de padrões de encalhes, a resposta ágil a situações de risco e o encaminhamento de animais debilitados para reabilitação e posterior soltura na natureza.
Fortalecimento de Redes
Segundo o Prof. Dr. Flávio Lima, biólogo coordenador do PCMC e do Centro de Estudos e Monitoramento Ambiental (CEMAM), o monitoramento regular dessas áreas permitiu expandir o conhecimento sobre a diversidade da fauna marinha e os tipos de encalhes em praias remotas. Ele cita como exemplos a praia do Goiabal, no Amapá, e as regiões das Reentrâncias Paraenses e Maranhenses, o Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses e em todo o litoral do Piauí.
“Isso possibilitou a aquisição de dados importantíssimos para a gestão e conservação das espécies dessas áreas”, afirma Lima.
Ele também destaca que o projeto fortaleceu Redes Regionais de Atendimento a Encalhes como a REMANOR, REMANE, RETAMANE e C-FAUNA BRASIL, além de promover pesquisas sobre a fauna marinha por meio da parceria com instituições locais e do compartilhamento de experiências.

Claudia Funi, coordenadora do PCMC no Amapá e do Instituto de Pesquisas Científicas e Tecnológicas do Amapá (Iepa), ressalta que o monitoramento de praias tem sido fundamental para aprofundar o conhecimento ambiental, registrar a fauna e fortalecer as comunidades. O maior vínculo com os moradores aumenta o número de acionamentos e proporciona apoio local.
“A ação também tem servido como espaço de formação de recursos humanos, habilitando membros da equipe para resgate, identificação e necropsia de animais marinhos”, complementa Funi.
O Iepa é responsável pelo monitoramento em todo o litoral do Amapá até o norte da Ilha do Marajó.
Ampliação do Conhecimento e subsídios para a Ciência
Renata Emin, bióloga e presidente do Instituto Bicho D’água, que monitora as praias do Pará, do leste da Ilha do Marajó até Salinópolis, explica que o monitoramento constante permite identificar e resgatar animais mais rapidamente e, ao mesmo tempo, aumentar o conhecimento.
“Cada encalhe, ainda que de um animal morto, é importante para aumentarmos o conhecimento sobre a biodiversidade da região”, avalia a bióloga.
O Instituto BioMA, que também atua no Pará, realiza o monitoramento embarcado de Salinópolis até a divisa com o Maranhão. Angélica Rodrigues, bióloga e pesquisadora do Instituto BioMa, destaca a importância do monitoramento embarcado:
“A região Norte possui extensas áreas costeiras com acesso limitado, muitas vezes apenas por via fluvial ou marítima. O monitoramento embarcado permite alcançar essas regiões remotas”. Segundo ela, isso aumenta a vigilância costeira, inclusive com o uso de monitores locais.
A Profa. Dra. Larissa Barreto, bióloga da Universidade Federal do Maranhão (UFMA) e coordenadora do Projeto Queamar, reforça que o monitoramento de praia é essencial para a conservação da fauna marinha e para o fortalecimento das políticas ambientais. As informações coletadas são cruciais para subsidiar ações de manejo e proteção de espécies ameaçadas, como as tartarugas marinhas.
“A presença contínua das equipes nas praias também favorece o diálogo com a comunidade, promovendo a educação ambiental e fortalecendo vínculos locais”, observa Larissa.
Ela complementa que esse contato direto contribui para a formação de redes de apoio mais eficazes e para o engajamento da população.

O Projeto Queamar monitora as praias do Maranhão, na região de Carutapera a Paulino Neves.
Ainda no Maranhão, a bióloga Natali Ristau, coordenadora do Instituto Amares, destaca:
“O monitoramento é uma etapa de extrema importância para a ampliação do conhecimento sobre a biodiversidade local e o meio ambiente, contribuindo para ações de conservação e levantamentos futuros”.
Para a coordenadora do Instituto Amares, a troca de conhecimentos com as populações locais é de extrema importância, pois além de ampliar o conhecimento que já possuem sobre a dinâmica da região e biodiversidade, são sensibilizados através das informações técnicas que recebem. “Isso traz o sentimento de pertencimento e os engajam a contribuir cada vez mais com as ações de monitoramento e a causa ambiental”, avalia.

Werlanne Magalhães, bióloga e coordenadora do Instituto Tartarugas do Delta, responsável pelo monitoramento das praias do Piauí e do Delta do Parnaíba (MA), afirma que os monitoramentos de praia sistemáticos permitem compreender a dinâmica de cada território, o uso e a ocupação da área, além de conhecer os líderes comunitários e promover o diálogo.
“Uma série histórica permite uma maior credibilidade dos dados observados, entender os padrões de encalhes, recorrências, espécies atingidas”, destaca a bióloga.
Legado para as regiões Norte e Nordeste
A realização do Projeto de Caracterização e Monitoramento de Cetáceos é uma exigência do IBAMA estabelecida em um processo de licenciamento ambiental de uma atividade de pesquisa sísmica marítima desenvolvida pela TGS na região oceânica das Bacias Sedimentares Marítimas da Foz do Amazonas e Pará-Maranhão.
Para André Favaretto Barbosa, analista ambiental do IBAMA, o projeto viabilizou recursos importantes para apoiar as instituições locais na estruturação de instalações perenes, necessárias para o atendimento à fauna-alvo do projeto.
“Dentre eles, a construção de um centro de reabilitação de animais marinhos no Pará, e de um semi-cativeiro de aclimatação pré-soltura de peixes-boi em Soure, na Ilha do Marajó, acelerarão o ritmo de devolução de animais aptos à natureza, reduzindo a superlotação das instalações disponíveis até então”, destaca.
João Correa, country manager da TGS no Brasil, destaca que as ações ambientais da companhia na Margem Equatorial, para além do monitoramento de praias, resgate e reabilitação de espécies, vem viabilizando o desenvolvimento de estudos, a geração de conhecimento técnico-científico, atividades de sensibilização e educação ambiental e a capacitação de profissionais não só nas equipes dos parceiros ambientais, mas nas comunidades locais.
“É muito de orgulho para a TGS o trabalho desenvolvido junto a parceiros ambientais, sociedade e comunidades tradicionais ao longo dos mais de 3 mil quilômetros que se estendem do Amapá ao Ceará. Este é um trabalho muito importante, realizado em parceria com a sociedade local, e que vai deixar um legado de preservação, conscientização e conhecimento que será utilizado durante muitos e muitos anos”, conclui.
Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2025/08/mais-de-600-animais-aquaticos-sao-atendidos-na-margem-equatorial-brasileira/