Neste sábado de feriado nacional, O Imparcial conversou com o historiador Euges Lima, ex-presidente do Instituto Histórico e Geográfico do Maranhão, para entender os fatores que motivaram a Proclamação da República em 15 de novembro de 1889 e as heranças que moldam a política brasileira até hoje.
Segundo o especialista, a queda do Império não foi um evento isolado, mas o resultado de um desgaste que atingiu a monarquia em diferentes frentes. Ele afirma que “houve um desgaste geral da monarquia em três frentes principais” ao se referir ao contexto político, social e econômico da época.
Euges destaca que, no campo político, “o Império estava muito centralizado nas mãos de D. Pedro II, o que incomodava as elites regionais e militares”. Conflitos internos, como a Questão Religiosa e a Questão Militar, desgastaram ainda mais o regime. No plano social, o historiador lembra que “o movimento abolicionista mobilizou intelectuais, jornalistas e setores urbanos, e a Abolição sem indenização fez com que muitos antigos proprietários de escravos rompessem com a monarquia”.
Ele também aponta que o avanço econômico do café fortaleceu uma elite que buscava autonomia e modernização. Para esse grupo, como explica, “a República federativa parecia um regime mais adequado do que a monarquia centralizada”. A soma dessas pressões, segundo ele, fez com que a mudança de regime se tornasse praticamente inevitável.
Ao comentar sobre os personagens que influenciaram diretamente o processo, o historiador reforça o papel de figuras centrais do golpe republicano. Ele lembra que “o principal protagonista foi o marechal Deodoro da Fonseca, que liderou o golpe de 15 de novembro e assumiu o governo provisório”. Eler também cita Benjamin Constant, descrito como “um articulador decisivo das ideias republicanas entre os oficiais”. No campo civil, nomes como Rui Barbosa, Prudente de Morais e Quintino Bocaiúva ajudaram a formular e promover o novo regime.
Do lado do Império, a postura de D. Pedro II também influenciou a transição. Para Euges, “um imperador envelhecido e com antigas bases de apoio rompidas facilitou uma transição sem guerra civil imediata”.
Mais de 130 anos depois, as marcas deixadas por esse período ainda influenciam o país. O pesquisador ressalta que “a principal é a própria forma de Estado, já que continuamos sendo uma República Federativa e presidencialista”. Ele destaca ainda a separação entre Igreja e Estado e símbolos nacionais que nasceram com o novo regime.
Outra herança apontada por ele é a força das elites regionais no jogo político. “A lógica dos arranjos entre governo central e lideranças locais ainda se percebe no peso de oligarquias e bancadas regionais”, afirma.
No entanto, a marca mais profunda vem do caráter excludente da transição de 1889. Ele observa que “a República nasceu sem incluir plenamente o povo”, deixando ex-escravizados, pobres, mulheres e analfabetos fora do sistema político. Essa exclusão, segundo ele, ajuda a entender desigualdades e a baixa participação popular que persistem no país.
O feriado de hoje, portanto, vai além da celebração histórica: ele abre espaço para refletir sobre os caminhos da República e os desafios que ainda atravessam a vida política brasileira.
Fonte: https://oimparcial.com.br/noticias/2025/11/proclamacao-da-republica-entenda-por-que-o-imperio-caiu-em-1889/
